Análise de Rede Social

AutorCarlos Leonardo Kelmer Mathias
CargoDoutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Páginas131-146
1807-1384.2014v11n1p131
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
ANÁLISE DE REDE SOCIAL
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Carlos Leonardo Kelmer Mathias2
Resumo:
Em linhas gerais, o artigo tem por escopo empreender um debate historiográfico
acerca da metodologia de análise de rede social. Mais do que responder a
perguntas utilizando tal metodologia, o artigo busca introduzir o historiador à
bibliografia fundadora das discussões sobre a análise de rede social. Comumente
empregada por sociólogos em estudos atrelados à sociometria, desde a publicação
do célebre artigo de John Barnes em 1954, a análise de rede social é uma
metodologia pouco difundida entre os historiadores brasileiros. Nesse sentido, o
texto se propõe realizar um breve debate entre as principais linhas interpretativas da
análise de rede social, visando introduzir o historiador assim na metodologia em si,
como na bibliografia que serviu de base das discussões atinente ao tema. Para
tanto, o texto inicia com uma introdução acerca da análise de rede social para, em
seguida, empreender uma discussão mais precisa sobre o tema. Por fim, o artigo
esboça algumas das principais críticas sofridas pela metodologia em questão.
Palavras-chave: Análise de rede social. Debate historiográfico. Metodologia. Teoria.
História.
INTRODUÇÃO
A análise de rede social se volta para o estudo e a para compreensão dos
diferentes tipos de interação/comportamento observados entre indivíduos, empresas
ou mesmo países. Caudatária de correntes de pensamento próprias à antropologia,
psicologia, sociologia e matemática, a teoria das redes admite que o comportamento
dos indivíduos de um grupo e sua estrutura se realizam no âmbito do espaço social
formado pelo próprio grupo e seu entorno. Desse modo, as relações firmadas por
tais indivíduos podem ser analisadas a partir de procedimentos matemáticos.
Imbuídos dessas considerações, ao longo das décadas de 1930, 1940 e 1950,
vários psicólogos utilizaram a teoria dos grafos para entender como a estrutura
1 Esta pesquisa é financiada pela FAPERJ e pelo CNPq.
2 Doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor adjunto da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Três Rios, RJ, e pesquisador da Universidade Federa l do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: clkmathias@uol.com.br
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.1, p. 131-146, Jan./Jun. 2014
social de um grupo afeta o comportamento individual (LOZARES, 1996, p. 104-106,
SCOTT, 1991).
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Malgrado o peso das teorias dos grafos e do equilíbrio estrutural da psicologia
social, comumente se aceita a sociometria de Jacob Moreno como a base e a
origem da análise de rede social em função das possibilidades oriundas da
representação gráfica das relações entre os indivíduos. Nesse sentido, destaca-se o
papel desempenhado pela sociologia estrutural, cujo enfoque percebe as “limitações
e oportunidades dos atores mais como um efeito de sua conduta do que das normas
culturais e outros elementos subjetivos” (SANTOS, 2003, p. 3-4). Ainda no que toca
à perspectiva estrutural-funcionalista, Max Gluckman exerceu forte influência nos
estudos de redes sociais. Ao sublinhar a relevância do conflito, mais do que a
coesão, como fator de manutenção e transformação dos grupos sociais, o autor
qualificou as redes relacionais como passíveis de serem analisadas por técnicas e
conceitos específicos da sociologia com base na teoria do conflito (LOZARES, 1996,
p. 105).
Entusiasta dos escritos de Harrison White,4 Peter Blau, ao defender que a
estrutura social se formula em termos da alocação populacional nas diferentes
posições sociais que refletem e intervêm nas relações dos indivíduos uns com os
outros, definiu a macroestrutura das sociedades “como um espaço multidimensional
de posições sociais entre as quais se distribuem as pessoas e que afetam suas
relações sociais”. Por outro lado, notou que tal conceitualização induz a
homologação da macroestrutura por intermédio da microestrutura das relações entre
os indivíduos. Nessa esteira, o nível macro deve dar conta tanto das inúmeras
relações pessoais de uma sociedade ou comunidade, como das múltiplas posições
ocupadas por essas pessoas (BLAU, 2003, p. 273, LAUMANN; MARSDEN;
GALASKIEWICZ, 1977, LAUMANN; PAPPI, 1973).
Para Blau (2003), a investigação microestrutural, que se originou na tradição
sociométrica de Moreno, redundou em três enfoque distintos: a teoria dos grafos, a
análise de rede e os modelos de bloco. Em seu entender, a teoria dos grafos se vale
3 Consoante Lozares (1996, p. 114), a “a teoria dos grafos e sua representação forneceu não só uma
forma de visualização, e com isso uma certa familiaridade e popularidade à teoria de redes, mas
tomada como teoria matemática proporcionou também conceitos e teoremas para muitos dos
indicadores utilizados nas redes sociais”.
4 Trabalhando com modelos algébricos da teoria dos grafos e com técnicas analíticas como a escala
multidimensional, White defende a análise de rede enquanto um método inerente ao estruturalismo,
com especial destaque para as regras de conduta impostas aos atores pelas condicionantes sociais
(WHITE, 1963, WHITE; BOORMAN; BREIGER, 1976, p. 730-780).

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