Sobre amor, sexo e proteção social: traçados de classe, gênero e geração

AutorMárcia Santana Tavares
CargoAssistente Social
Páginas851-869
Artigo recebido em: 01/03/2018 Aprovado em: 09/05/2018
SOBRE AMOR, SEXO E PROTEÇÃO SOCIAL:
traçados de classe, gênero e geração
Márcia Santana Tavares1
Resumo
Este artigo busca re etir sobre como quatro mulheres, com idades próximas,
vivenciam o amor e exercitam sua sexualidade, mas também como as políticas
de proteção social contemplam suas demandas, a partir de uma perspe ctiva de
classe, gênero e geração. Constata que a formação do par na velhice submete-se
a fronteiras de gênero que restringem suas escolhas e as tornam invisíveis no
campo afetivo-sexual, ao mesmo tempo em que as obrigam a rever suas a nida-
des eletivas para tramar o encontro de um parceiro, caso não queiram  car sozi-
nhas. No tocante às políticas de proteção social, percebe que as mulheres idosas
permanecem à margem, principalmente as travestis, que  cam ainda mais ex-
postas a situações de risco e vulnerabilidade, relegadas ao abandono e exclusão.
Palavras-Chave: Sexo, amor, gênero, classe, geração.
ON LOVE, SEX AND SOCIAL PROTECTION: class, gender and
generation traces
Abstract
is paper intends to re ec t on how 4 women, of close age, experience love
and exercise their sexuality, but also how social protection policies contemplate
their demands, from a class, gender and generation perspective. It is seen that
the formation of the pair in old age is subject to the gender boundaries that
restrict their choices and force them to be selective in the choice of partners, if
they do not want to be alone. With regard to social protection policies, it can be
1 Assistente Social, Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA), Professora Adjunta I da UFBA. E-mail: marciatavares1@gmail.com / Endereço:
Universidade Federal da Bahia - UFBA: Rua Aristides Novis, 197,Estrada de São Lázaro,
Salvador, Bahia. CEP: 40210-730.
MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS
PROTEÇÃO SOCIAL À VELHICE NA CONTEMPORANEIDADE:
reß exões sobre classe, gênero e geração
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Márcia Santana Tavares
seen that both women and older transvestites remain on the sidelines, exposed
to situations of risk and vulnerability, relegated to abandonment and exclusion.
Key words: Sex, love, gender, class, generation.
1 INTRODUÇÃO
O amor, embora seja um sentimento tido como universal,
apresenta práticas e representações distintas de uma sociedade e
época para outra, assim como é pensado e vivenciado diferentemen-
te por mulheres e homens. (TAVARES, 2002). Em determinado mo-
mento onírico, epistolar, em outro domesticado pela sacralização e
eternização do matrimônio, condicionado ao cultivo de uma paixão
terna que eleva o lar à condição de refúgio dos indivíduos contra as
vicissitudes do mundo (GAY, 1988; LASCH, 1991) e, mais recente-
mente, em um mundo permeado pela imediaticidade e incerteza, o
amor torna-se efêmero, contingente (GIDDENS, 1993) e, portanto,
tanto pode ser uno como plural.
Do mesmo modo, não podemos pensar a sexualidade como
algo dado, imanente, mas sim como uma construção social, conce-
bida p or cada sociedade ao longo do tempo, ou seja, os costumes
sexuais são histórica e culturalmente estabelecidos (COSTA, 2001),
o certo e o errado no tocante a comportamentos e práticas sexuais
também mudam de uma sociedade e época para outra. Dito de outra
forma, os papéis sociais e sexuais de mulheres e homens são deter-
minados por um processo histórico-cultural que orienta suas esco-
lhas, comportamentos e condutas, bem como os papéis e identidades
que encenam. (PEREIRA; TAVARES; OLIM, 2006). Neste sentido,
o advento das tecnologias reprodutivas no contexto da sociedade
individualista suscita questionamentos acerca das normas sexuais
regulatórias e confere plasticidade à sexualidade, fazendo com que
diferentes expressões e vivências da sexualidade adquiram legitimi-
dade e se con gurem como posições identitárias. (GIDDENS, 1993).
Todavia, conforme pondero em outro momento, a presença
inconteste da diversidade sexual no cenário social continua a corres-
ponder à dimensão do exótico, do burlesco, uma vez que nas insti-
tuições que produzem e reproduzem as normas sociais regulatórias,
como por exemplo, a família, a igreja, a mídia, a escola formal e a
universidade, personagens LGBT1 parecem ainda deslocados, fora
de lugar (TAVARES; SANTOS, 2012), principalmente na velhice,
pois segundo demonstram Debert e Brigadeiro (2012, p. 41), na “[...]

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