Perspectiva da emancipação na América Latina e desafios para o serviço social no Brasil e na Colômbia

AutorJosefa Batista Lopes
CargoUniversidade Federal do Maranhão (UFMA)
Páginas323-328
323
PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E DESAFIOS PARA O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E NA
COLÔMBIA
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 323-328, julho de 2014
PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E DESAFIOS PARA O
SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E NA COLÔMBIA1
Josefa Batista Lopes
Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
PERSPECTIVA DA EMANCIPAÇÃO NA AMÉRICA LATINA E DESAFIOS PARA O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL E
NA COLÔMBIA
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5E#&E/0" 0'5 ' */'2%5/#"2%0
se na análise marxista sobre emancipação como categoria e perspectiva histórica da humanidade, desenvolvendo a
3%@4$/0/ +/ HE/J 31 #/$#',/00' /' "' ' +" "2$/#*"$%8" /
mas também há resistências rearticulando forças e mantendo viva a perspectiva; a vinculação do Serviço Social a
/00" "2$/#*"$%8"= ,'' %*$/"*$/ +"0 /0$#"$B&%"0 +/ /*(#/*$"*$' ? HE/0$>' 0',%"2= 0/&E/ "0 $/*+K*,%"0 +"
,'##/2"->' +/ ('#-"0 *' ' %
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em curso na rearticulação de forças dos sujeitos em luta.
Palavras-chaveJ L'M A' 5E#&E/0"= HE/0$>' 0',%"2= 7/#8%-'
Social.
PERSPECTIVE OF EMANCIPATION IN LATIN AMERICA AND CHALLENGES FOR THE SOCIAL WORK IN BRAZIL
AND IN COLOMBIA
'(")*+,)& The article points out the historical analysis about challenges of Social Work in Brazil and Colombia concerning
the perspective of the emancipation in Latin America, considering the historical period opened with the counter bourgeois
revolution under the neoliberalism. Results of researches on the topic of social struggles and Social Work supports itself
on the Marxist analysis of emancipation as a category and historical perspective of humanity, developing the hypothesis
that: there is setback in relation to the movement of construction of emancipatory alternative in this continent, but there
are also resistance forces regrouping and keeping the expectation alive; the binding of Social Work to this alternative, as a
profession that takes part of strategies to deal with social issues, follows the trends of the correlation of forces in the social
movement. It concludes that this binding poses challenges in all dimensions of professional practice by participating in the
peculiarities of the two countries, of the resistance and support of emancipatory struggle undergoing in the re-articulation
'( ('#,/0 '( $3/ 6&3$%*& 0E5N/,$0F
-!./%*0"& Emancipation, Latin America, class struggle, counter bourgeois revolution, social issue, Social Work
Recebido em 05.01.2014 Aprovado em 06.01.2014
324 Josefa Batista Lopes
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 323-328, julho de 2014
1 INTRODUÇÃO
L0$/ "#$%&' "@#/0/*$" @"#$/ +'0 /0$E+'0 HE/
/*8'28/+" OPQA= "$#"8B0 +' R#E@'
+/ L0$E+'0= S/0HE%0" / T/5"$/0 /7/#8%-' 7',%"2
/ Q'8%*$' 7',%"2 UR7LGQ7V= / @/0HE%0"+'#/0
da UNICOLMAYOR, no desenvolvimento do projeto
+/ @/0HE%0" Estudo acerca dos Dilemas Éticos e
da Postura Política que assumem os Assistentes
Sociais na Prática Cotidiana, no âmbito do convênio
de colaboração universitária entre a Universidade
Colegio Mayor de Cundinamarca (UNICOLMAYOR/
Colômbia) e a Universidade Federal do Maranhão
(UFMA/Brasil). Resulta da continuidade dos estudos
e análises feitas no texto Ética e Desenvolvimento
1%23%1)!4)%2 0+23*5"!2 0%23+65)+7&2+6%1)+$!1)%"2
para um estudo crítico (LOPES, 2012). Nesse
sentido, a emancipação, o cerne da ética, como
perspectiva histórica da humanidade e ético-política
dos homens, conforme pensada no trabalho anterior
referido, é agora o eixo da análise; considerada em
sua historicidade no continente latino-americano no
período histórico aberto na década de 90 do século
WW ,'' 5E#&E/0"F X HE"*+'
avança e se consolida no continente o movimento
mundial de administração da crise do capital3 HE/
golpeou o capitalismo na primeira metade da
+B,"+" +/ YZ +"HE/2/ 0B,E2'M E HE/
operou uma profunda transformação econômica e
ideológica. Na economia, com a reestruturação das
relações de produção e de trabalho hegemonizada
@/2' ,"@%$"2 6*"*,/%#'4, o capital rentista; e, no
campo ideológico, o neoliberalismo5 orientou a
#/('# +'0 L0$"+'0 *",%'*"%0 HE/ +/8/#%"
sustentar e responder as demandas da nova fase da
/,'*'0HE/ ('#N"8" " ,E2$E#"
HE/ 23/ ,'##/0@'*+/= ,'' /
as instâncias de sua formação, destacadamente
a educação. Garantiria, assim, a unidade entre
economia e política6. Um movimento cuja adesão na
América Latina, segundo Boron (2004, p.9), ocorre
/
e começo dos 80 do século XX, através de Bolívia,
:3%2/ / QB[%,'M ' 0/&E*+' " @"#$%# +' 6*"2 +'0 "*'0
\Z ,'
Tobago e Uruguai; a terceira onda levou Argentina,
Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Guianas e
_'*+E#"0= @"D0/0 HE/ 9'#'* ,'*0%+/#" reformadores
tardios.
Trata-se, efetivamente, de uma contra
#/8'2E->' HE/= ,' "@'%' +" `/N"
Católica7, golpeou todos os movimentos de tendência
socialista e comunista no mundo. A partir da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
a maior referência histórica desses movimentos,
%*+/@/*+/*$/*$/ +/ $'+"0 "0 ,#D$%,"0 HE/ 0/
possa e se deva fazer; mas golpeou também o próprio
liberalismo8. E, por conseguinte, metamorfoseou as
condições objetivas e subjetivas das lutas sociais e
de classes; impôs derrota e retrocesso ao movimento
de construção da alternativa emancipatória (ABREU
e LOPES, 2004) no continente, com profunda
desvantagem para seus sujeitos históricos, na
correlação de forças nas lutas contra a exploração,
a dominação e a humilhação: pela emancipação
/*$/*+/*+' HE/= 0/&E*+' Q"#[ UaZba= @F YbV
74 HE"*+' ' 3' #/"2
retoma em si o cidadão abstrato e,
como homem individual – na sua vida
empírica, no seu trabalho individual, nas
suas relações individuais -, se tornou
ser genéricoM 04 HE"*+' ' 3'
#/,'*3/,/E / '#&"*%)'E "0 0E"0 c('#,/0
propres’ como forças sociais, e, portanto,
não separa mais de si a força social na
6&E#" +" ('#-" @'2D$%," d eBf 04 /*$>'
eHE/f /0$1 ,'*0E'
humana
No processo de adesão e de consolidação do
neoliberalismo na América Latina, Brasil e Colômbia
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0'5#/ ' 7/#8%-' 7',%"2 ,'' %*$/"*$/
+"0 /0$#"$B&%"0 +/ /*(#/*$"*$' ? HE/0$>' 0',%"2F
2 O ESGOTAMENTO DE UM CICLO DE LUTAS
89':3;=> ;'?&2 o Serviço Social e as atuais
condições de rearticulação de forças dos sujeitos
da luta emancipatória
A atual fase do capitalismo marca, de fato,
o esgotamento do ciclo de lutas emancipatórias
*" A gZ
do século XX tendo como marco histórico a vitória
da Revolução Cubana em 1959. Ela marcou todo
o continente com maior ou menor intensidade
nos diferentes países; penetrou profundamente
os movimentos dos trabalhadores nas cidades e
no campo, a cultura de massas, os intelectuais,
as universidades, a Igreja Católica, difundindo a
ideologia emancipatória e a perspectiva de uma
sociedade alternativa ao capitalismo. As classes
+'
países imperialistas (FLORESTAN, 1973, p.11)
atuaram para impedir o avanço desses movimentos
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efetivo foram as ditaduras militares9 HE/ /#"
instauradas com a bandeira da modernização,
certamente a modernização conservadora.
Segmentos expressivos de assistentes sociais,
0EN/%$'0 @#'600%'*"%0 +' 7/#8%-' 7',%"2= ? B@'," +/
,'*0$%$E%->' #/,/*$/ ,'' ,''
acadêmica10, não demoraram a se envolver no
movimento emancipatório, mobilizados em todo o
continente pelo Movimento de Reconceituação11;
@/2" *"$E#/)" +" @#'600>'= 8%*,E2"+" ? "00%0$K*,%"
e ao assistencialismo em nada emancipador12,
/00/0 @#'600%'*"%0 /*8'28/#" / /*8'28/#"
" @#'600>'= /
modernização conservadora e do projeto alternativo
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COLÔMBIA
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 323-328, julho de 2014
de sociedade.” em marcha (LOPES, 1998). Ou
0/N"= *' /[/#,D,%' @#'600%'*"2 /2/0 0/ 8%*,E2"
organicamente, como trabalhadores assalariados,
a instâncias de controle das lutas emancipatórias
e, também se vinculam a essas lutas; tomaram
,'*0,%K*,%" +' ,"#1$/# ,'*$#"+%$4#%' +" @#'600>' / +/
sua condição de sujeito de luta, como trabalhadores.
Na atual fase, as condições objetivas e
subjetivas das lutas sociais foram profundamente
metamorfoseadas. Foram, portanto,
metamorfoseadas também as condições objetivas
e subjetivas da organização dessas lutas com
ampla desvantagem para os sujeitos das lutas
emancipatórias. Em particular para os trabalhadores
HE/ @/#+/#" "*+/ @"#$/ +/ 0E"0 ,'*HE%0$"0
históricas, tragadas pela contrarrevolução burguesa
no novo !"#$!%&!% '()$)*'+,-% .!/01!* (HARVEY,
1992, p.119)13 HE/= 62%"+' ? ,' +%*i
capital portador de juros (CHESNAIS, 2005, p. 35),
j/[%5%2%)'E " '#&"*%)"->' +" @#'+E->' / +' $#"5"23'=
mediante a reestruturação da organização orientada
pelo sistema fordista e fordista-keynesiano.
Segundo Harvey (1992, p.125) o sistema
('#+%0$"= HE/ $/ 0/E
início, formou
[...] a base de um longo período de
/[@"*0>' +' 0/&E*+' @40I&E/##" HE/
se manteve mais ou menos intacto
até 1973. [...] O fordismo se aliou ao
keynesianismo e o capitalismo se
dedicou a um surto de expansões
internacionalistas de alcance mundial
HE/ "$#"%E @"#" 0E" #/+/ %*m#"0
nações descolononizadas. [...] O
/HE%2D5#%' +/ @'+/#= $/*0'=
"00% 6#= HE/ @#/8"2/,%" /*$#/ '
trabalho organizado, o grande capital
,'#@'#"$%8' / " *"->'IL0$"+'= / HE/
formou a base de poder da expansão do
pós-guerra não foi alcançado por acaso
– resultou de anos de luta.
Ao promover a reestruturação da organização
da produção e do trabalho, o movimento de
j/[%5%2%)"->' ('#N'E $"' ,'*0/#8"+'#"
no modo de pensar e de agir, a cultura e a ideologia
da chamada pós-modernidade; metamorfoseou as
relações de exploração, dominação e humilhação
com a crescente terceirização da produção, a
precarização do trabalho e a fragmentação da
classe trabalhadora (ANTUNES, 1999) basilares
no arrefecimento do movimento operário e na
fragmentação das lutas sociais. As instituições
clássicas, tradicionais do movimento operário, os
0%*+%,"$'0 / @"#$%+'0 @'2D$%,'0= HE/ "8"*-"8"
direção da organização dos trabalhadores como
classe, desde o século XIX, foram profundamente
confrontadas: os sindicatos em grande parte
/08")%"+'0M / @"#$%+'0 @'2D$%,'0 +/ /0HE/#+" ('#"
metamorfoseados e afastaram-se da perspectiva
emancipatória, tornando-se partidos da ordem,
como o Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil,
a partir da eleição de Luís Inácio Lula da Silva para
o governo da República do Brasil, em 2002 e posse
em 2003.
@2 A2 ?8 B;CA2 ?A3;'D2 :'2 =8;'2 E'?2
CONTRADIÇÕES DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO E DAS ESTRATÉGIAS DE
8:F 8:='98:=A2 E'2 GH8?=IA2 ?A3;'D&2
entre o reino das necessidades e o reino da
liberdade
G/"6#' +/ HE/ " HE/0$>'
social (LOPES, 2008) se funda nas necessidades14
humanas não satisfeitas em razão das profundas
+/0%&E"2+"+/0 0',%"%0 %*/#/*$/0 ?0 0',%/+"+/0 +/
,2"00/0 HE/ "' 2'*&' +" 3%0$4#%" +/00"0 0',%/+"+/0
$#"8"2E$" %*,/00"*$/= " 2E$" +/ ,2"00/0 *" HE"2
" HE/0$>' 0',%"2 B 0%*$/$%)"+"F L
outra premissa se impõe: não há solução para a
HE/0$>' 0',%"2 *' ,'*$/[$' +' ,"@%$"2%0HE/ 31
são mecanismos e formas de seu enfrentamento,
"$#"8B0 +/ @'2D$%,"0 HE/ ,'2',",/*$#'
da luta de classes, respondendo, fundamentalmente,
aos interesses das classes dominantes, ainda
HE/= ,'*$#"+%$'#%"*$/= @#',E#"*+' #/0@'*+/#
demandas das classes subalternas, conforme
demonstrado em uma vasta literatura sobre o Estado
e suas contradições15. Coloca-se aí um dos mais
%
expressão da práxis16. Segundo Marx (1974, p. 942)
De fato o reino da liberdade começa
onde o trabalho deixa de ser
determinado por necessidade e por
utilidade exteriormente imposta; por
natureza, situa-se além da esfera da
produção material propriamente dita. O
selvagem tem de lutar com a natureza
para satisfazer as necessidades, para
manter e reproduzir a vida; e o mesmo
$/
forem a forma de sociedade e o modo
de produção. Acresce, desenvolvendo-
0/= ' #/%*' +' % HE/
aumentam as necessidades, mas, ao
mesmo tempo, ampliam-se as forças
produtivas para satisfazê-las. A liberdade
nesse domínio só pode consistir nisto: o
homem social, os produtores associados
regulam racionalmente o intercâmbio
com a natureza, controlam-no
,'2/$%8"*$/= 0/
" ('#-" ,/&" HE/ '0 +'
no com o menor dispêndio de energias
/ *"0 ,'*+%-./0 "+/HE"+"0 /
condignas com a natureza humana.
Mas esse esforço situar-se-á sempre
no reino da necessidade. Além dele
começa o desenvolvimento das forças
326 Josefa Batista Lopes
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3E
' #/%*' &/*ED*' +" 2%5/#+"+/= ' HE"2 04
@'+/ j'#/0,/# $/*+' @'# 5"0/ ' #/%*'
da necessidade. E a condição desse
desenvolvimento humano é a redução
da jornada de trabalho.
Nos países de capitalismo dependente, como
nos países da América Latina e da África, as condições
de extrema pobreza ou de pobreza, tendencialmente
com altos índices de desemprego, as necessidades
primárias de subsistência se impõem; e as respostas
são prioritariamente através de políticas assistenciais
HE/ #/@#/0/*$" ('# ,' HE/
0/HE/# "5#/ */,/00%+"+/0 #"+%,"%0 HE/
nascem do trabalho. Estas necessidades, segundo
Agnes Heller (1978:106) “são parte constitutiva
'#&i*%," +' c,'#@' 0',%"2n +' ,"@%$"2%0
satisfação impossível dentro desta sociedade e
HE/= @#/,%0"*$/ @'# %0$'= HE/
transcende a sociedade determinada”.
4 CONCLUSÃO
O esgotamento do ciclo de lutas emancipatórias
"5/#$' *" A
gZ +' 0B,E2' WW *>' 0%&*%6," ' 6
emancipatória no continente e no mundo na atual
fase do capitalismo. Com a fragmentação da classe
$#"5"23"+'#" / $'+"0 "0 ,'*0/HEK*,%"0 ",%
#/(/#%+"0= " @/#0@/,$%8" +/ 0'2E->' +" HE/0$>' 0',%"2
"@#/0/*$" E,'
*' 6*"2 +' 0B,E2' W`W / "$B $"+/ +' 0B,E2' WW=
HE"*+' ','##/#" #/8'2E-./0 8%$'#%'0"0
"' #/+'# +' /
frase de Rosa Luxemburgo Socialismo ou barbárie,
segundo Mészáros (2003),
heFFFf "+HE%#%E E
Não existem rotas conciliatórias de fuga
[...] somente uma alternativa radical
ao modo estabelecido de controle da
reprodução do metabolismo social pode
oferecer uma saída da crise estrutural
do capital”.
Em cada país no continente, na síntese de
suas construções históricas, o Serviço Social tem
/0@/,%6,%+"+/0 /
contraditórias particulares de cada Estado nação;
mas sob as mesmas determinações históricas do
desenvolvimento capitalista dependente participando
+"0 /0$#"$B&%"0 +/ /*(#/*$"*$' +" HE/0$>' 0',%"2=
/
Bem Estar, como na Europa e nos Estados Unidos. O
6
o"0 "$E"%0 ,'*+%-./0= +/0("8'#18/%0 ?
perspectiva da emancipação, sua sustentação é
tarefa da resistência de seus sujeitos históricos para
'0 HE"%0 0/ $#"$" +/ E
trabalhadores do campo e da cidade, os explorados,
dominados e humilhados em todos os espaços e
condições de vida. Importantes movimentos de
resistência e rearticulação de forças dos sujeitos da
luta emancipatória estão em curso no continente,
agora com mais clareza na luta contra o capitalismo
e não com foco no liberalismo em si, como ocorreu
*' %*D,%' +" "+/0>' +' ,'*$%*/*$/ ?0 #/('#
Neste sentido, cabe apoiar e acompanhar com
atenção os desdobramentos da reestruturação da
experiência socialista de Cuba, avançando para
uma economia mista; e as experiências de governos
HE/ *' ,'*$%*/*$/ 0/ #/%8%*+%,",'
9'2D8%"= LHE"+'# / p/*/)E/2"F S"#$%,E2"#*$/ 8"2/
acompanhar a articulação desses países, reunidos
com Cuba e Nicarágua na Aliança Bolivariana para
os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio
dos Povos, a antiga Alternativa Bolivariana para as
Américas (ALBA).
É uma perspectiva de esperança. Em 1973,
Salvador Allende, em seu último discurso ao povo
,3%2/*'= "@40 ' HE"2 ('% "$","+' @/2' &'2@/
sob as ordens de Augusto Pinochet, no palácio
presidencial, lançou esta mensagem:
QE,3' $/ HE/ $"#+/=
de nuevo se abrirán las grandes
alamedas por donde pase el hombre
libre para construir una sociedad mejor.
(ALLENDE, 1973).
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Paulo: Scritta, 1995.
NOTAS
1 Trabalho exposto na mesa temática coordenada
Serviço Social como uma expressão da práxis na
crise contemporânea do capitalismo: fundamentos e
tendências no Brasil e na Colômbia apresentada na VI
Jornada Internacional de Políticas Públicas – VI JOINPP
realizada no período de 20 a 23 de agosto de 2013
2 p/# QB0)1#'0 UaZZa= @F skgVF 7/&E*+' ' 6240'('
h^"28/) ' "0@/,$'
#/+/6*%->'= @'# @"#$/ +' ,"@%$"2= +" 2%*3" +/ *'#
resistência de maior alcance (e, com isso, o
deslocamento temporário de suas contradições) seja,
se comparado a um passado não muito distante, o
modo radicalmente novo de administrar crises. [...]
sob as novas condições – desde que os seus pré-
#/HE%0%$'0
objetivamente reproduzidos – não precisam assumir,
+/ '
/*$#/ @#'+E->' / $#'," c+/0,"##/&" " 0% 0
grandes tempestades’.
3 Para um avanço no estudo e debate sobre a hegemonia
6*"*,/%#" *" "$E"2 ("0/ +' ,"@%$"2%0= /*$#/ 'E$#'0=
os textos da coletânea organizada por François Chesnais
(2005) A Finança mundializada: raízes sociais e políticas,
(-23") '+,-4%(-25!6782(#'5, publicada no Brasil pela
Boitempo. E também outra coletânea, Uma nova fase
do capitalismo? U:_L7oA`7= /$ "2F aZZuV= '5#" *" HE"2
me apoio, particularmente, no debate sobre a atual fase
+' ,"@%$"2%0 'E 0/N" " $/0/ +/ HE/ "0 $#"*0('#"-./0
ocorridas no desenvolvimento do capitalismo, a partir da
década de 70 do século XX, constituíram uma nova fase
do capitalismo.
4 Esse processo é datado pelos estudiosos, a partir de
sua forte manifestação, através da vitória do governo
conservador de Margareth Thatcher, na Inglaterra, em
1979, logo seguida pelas vitórias de Ronald Reagan
nos Estados Unidos, em 1980 e Helmout Koll na
Alemanha, em 1982. Mas efetivamente iniciado,
segundo Anderson (1995, p.11) “[…] logo depois da II
Guerra Mundial na região da Europa e da América do
Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação
teórica e política contra o Estado intervencionista
e de bem-estar.” Na América Latina, o Chile, sob a
ditadura de Pinochet, segundo Anderson (1995, p.
19) “[…] tem a honra de ter sido o verdadeiro pioneiro
do ciclo neoliberal da história contemporânea [...] é
+/ 0/ *'$"# HE/ " /[@/#%K*,%" ,3%2/*" +'0 "*'0 YZ
interessou muitíssimo a certos conselheiros britânicos
importantes para Thatcher, na Inglaterra.”
5 Gramsci (2000, p26) dá uma importante contribuição
"' "' @/*0"*$' ?
HE/0$>' +" E*%+"+/ /,'*'
e a superestrutura. Ver, em especial o Caderno 13.
6 Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, primeiro papa
polonês envolveu-se diretamente no movimento
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das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS, com
a Perestroika e a Glasnost, de Mikhail Gorbachev,
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avanço do capitalismo nos países do Leste Europeu.
328 Josefa Batista Lopes
R. Pol. Públ., São Luís, Número Especial, p. 323-328, julho de 2014
7 Desenvolvi esse tema no artigo “Pós-modernidade:
superação da modernidade ou reação conservadora?”
(LOPES, 1993).
8 Países: República Dominicana (1889-1899, 1930-
1961); Colômbia (1953-1957); Brasil (1964-1985);
Argentina (1976-1983); Bolívia (1971-1985); Chile
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(1972-1979); Guatemala (1970 - 1985); Haiti (1957-
1990); Honduras (1963-1974); México (1853-1855,
1876-1910); Nicarágua (1967-1979); Panamá (1968-
1989); Paraguai (1954-1989); Peru (1968-1980);
Venezuela (1908-1935, 1952-1958); Uruguai (1973-
1984); Suriname (1980-1988).
9 A primeira Escola de Serviço Social foi fundada no
Chile, em 1925, seguida pelo Brasil, em 1936 e Peru,
em 1937 (MANRIQUE,1984).
10 bksg B ,'*0%+/#"+" " +"$" +/ +/j""->' '#&"*%)"+"
do movimento durante o I Seminário de Serviço
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da Argentina, do Brasil da Bolívia, do Paraguai e
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(CORNELY, 2004, p 53)
11 O assistencialismo é, aliás, o núcleo central da crítica
levantada no movimento de reconceituação em
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superação.
12 Harvey (1992, p.119), cauteloso diante do “perigo de
confundir as mudanças transitórias e efêmeras com
as transformações de natureza mais fundamental da
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entre as práticas político-econômicas da atualidade
e as do período de expansão do pós-guerra são
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0/# ,3"' c.!/01!*’ uma
reveladora maneira de caracterizar a história recente”.
13 Dada a centralidade da categoria das necessidades
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Teoria das necessidades em Marx.
14 Nessa direção da análise destaco a contribuição de
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Serviço Social sobre a temática no continente.
15 É o tema central da mesa coordenada. Poderá ser
visto no texto elaborado por Marina Maciel Abreu e
Franci Gomes Cardoso.
Josefa Batista Lopes
Assistente Social
Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP)
Professora Aposentada da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA)
Professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas
Públicas (UFMA)
E-mail: josefablopes@uol.com.br
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Cidade Universitária do Bacanga
Avenida dos Portugueses, 1966- Bacanga
85.085-580- São Luís-Ma

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