Alternativas mais eficientes para a transposição do São Francisco

AutorRicardo Feijó - Sergio Torggler
CargoRicardo Feijó é doutor e Livre-Docente pela Universidade de São Paulo (USP) e professor associado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP-USP). [riccfeij@usp.br] - Sérgio Toggler é engenheiro agrônomo. [torgglerrp@aol.com]
Páginas66-87
ALTERNATIVAS MAIS EFICIENTES PARA
A TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO
RICARDO FEIJÓ *
SERGIO TORGGLER **
1. INTRODUÇÃO
Este estudo visa calcular os parâmetros de eficiência econômica da
transposição e compará-los com os índices de eficiência da atividade
alternativa para a oferta de água pela contenção evaporativa e dos índices da
expansão da área agrícola irrigável do próprio vale do São Francisco. Os
parâmetros de comparação serão o custo da água ofertada, o impacto do
custo da água como insumo da cultura de milho, os subsídios envolvidos, a
relação investimento/capacidade produtiva e o custo do hectare irrigado
adicional. Também serão discutidos resumidamente os aspectos energéticos,
ecológicos e logísticos das alternativas. Sempre que possível procura-se
trabalhar com unidades que permitam comparações mais próximas da
realidade dos consumidores, unidades usuais tais como R$/m3, R$/kWh,
kWh/m3, m3/ha.
Para tanto, o artigo divide-se em duas seções gerais: uma que trata da
transposição e outra que analisa a opção da contenção evaporativa. Na
primeira, começa-se com o histórico da idéia de transposição do rio São
Francisco para levar água às regiões secas do Semi-Árido nordestino, depois
se faz a análise dos custos desse projeto em termos de custos variáveis e fixos
e finaliza-se com comentários gerais sobre essas alternativas. A outra seção
trata da possibilidade de minimizar o drama da seca pela contenção
evaporativa dos açudes nordestinos. Assim sendo, após uma introdução ao
tema e uma descrição das propostas alternativas ao revestimento dos açudes,
oferece-se uma simulação econômica e discutem-se os resultados. Na
conclusão do artigo, também são comentados os benefícios da alternativa de
ampliar a área irrigada do próprio vale do São Francisco.
2. TRANSPOSIÇÃO
2.1. Histórico e descrição
A idealização da transposição do rio São Francisco iniciou-se ainda no reinado
de Dom Pedro II, havendo deste então inúmeras e variadas propostas. O
Projeto atual do governo Lula é uma adaptação daquele desenvolvido na
gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, com o objetivo maior de
criação de núcleos de agricultura irrigada. A fim de calcular seus custos, é
preciso entender o funcionamento físico da transposição e conhecer as
grandezas dos seus números. Abaixo apresenta-se os parâmetros
considerados relevantes para a análise, números estes selecionados da
descrição apresentada pelo governo no item 3 do “Parecer sobre a Moção
sobre o Projeto de Transposição do Rio São Francisco e a Transposição do
Rio Tocantins”.
O Projeto é constituído de dois eixos principais. O maior, chamado Eixo Norte,
representa um volume de transposição de 17 à 90 m3/s, vazões
correspondentes às situações de baixa e cheia do rio São Francisco (uma
vazão média anual de 47 m3/s). Neste eixo, a altura de recalque, uma vez que
esta água será bombeada morro acima para transpor a barreira geográfica
entre as bacias hidrográficas, será de 165 metros. No entanto, haverá
recuperação de parte da energia despendida no bombeamento por meio da
geração de energia hidroelétrica na descida, sendo que a coluna de água útil
na geração soma 85 metros, os quais, com as perdas de conversão, equivale a
64 metros, permitindo, assim, calcular que a altura líquida total a ser
bombeada será de 101 metros. A Figura 1 mostra o perfil altimétrico da
transposição no Eixo Norte.
O eixo menor, chamado Eixo Leste, que abastecerá os Estados de
Pernambuco, Paraíba e áreas de irrigação no próprio vale do São Francisco,
deverá operar com vazão de 9 à 25 m3/s, vazões correspondentes às
situações de baixa e cheia do rio São Francisco, correspondendo a uma vazão
média anual intra-ano de 16 m3/s. Neste eixo, a altura de recalque será de 300
metros no canal para abastecer Pernambuco, de 500 metros no canal para
abastecer a Paraíba e de 35 metros para uso agrícola no vale do São
Francisco. Nestes ramais não haverá recuperação energética por geração
hidroelétrica.
FIGURA 1
CORTE ALTIMÉTRICO DO EIXO NORTE
Fonte: Suassuna, 2004.
Já a Tabela 1 apresenta dados de vazão em várias situações. Observa-se que,
somadas os dois eixos, a vazão média diária é de 63 m3/s (intra-ano). Neste

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