A agrofloresta e os contornos de um sujeito (re)significado

AutorJosé Edmilson de Souza Lima - Priscila Cazarin Braga - Rômulo Macari da Silva
CargoPós-Doutor em Meio ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR) - Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR) - Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR)
Páginas25-46
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n104p25
A agrofloresta e os contornos de um sujeito (re)significado
The agroforestry and the contours of a subject (re)meaning
José Edmilson de Souza Lima1
Priscila Cazarin Braga2
Rômulo Macari da Silva3
Resumo
O objetivo do artigo é refletir acerca das possibilidades de emergência de um sujeito
constituído a partir de práticas agroflorestais. Para tanto, recorre-se à técnica de
história oral de agricultores quilombolas, que usam práticas agroflorestais para
coexistir face os desafios da sociedade englobante. O sujeito que irrompe da prática
agroflorestal é o sujeito que se (re)significa à medida que reinventa a si mesmo e a
própria agrofloresta.
Palavras-chave: Agrofloresta. Sujeito agroflorestal.
Abstract
This article asks to what extent agroforestry, to enable the emergence of a subject
agroforestry, this once formed, enables consolidation of agroforestry, continuing a
recursive process. It is based on the analysis of dialogic testimonials from farmers
maroons who use agroforestry practices to coexist face the challenges of society
encompassing. The guy who breaks out of the practice of the Agroforestry is the guy
who (re)means while he reinvents himself and own agroforest.
Keywords: Agroforestry. Subject agroforestry.
1. Introdução
No contexto global de crise civilizatória com rebatimentos econômicos,
sociais, políticos, éticos e ambientais, há que se estar atento para o fato de que
muito do que se escreve sobre a história de populações que foram alijadas para as
margens pela excludente “sociedade englobante” (WANDERLEI, 2000, 2003), está
centrado nas categorias de exploração, de colonização e de dominação. Sem deixar
de reconhecer que esta “herança colonizadora” projeta-se como um obstáculo, é
1Pós-Doutor em Meio ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR). Pesquisador/docente do
Mestrado em Direito (UNICURITIBA). E-mail: zecaed@hotmail.com.
2Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR). E-mail: pri13luas@yahoo.com.br.
3Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMADE-UFPR). E-mail:
penaverde@yahoo.com.br.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.14, n.104, p.25-46, jan/jun 2013
importante tornar visíveis algumas estratégias que tais populações elaboram para
continuar coexistindo às margens da sociedade englobante, clamando sempre por
certo nível de autonomia. A sociedade global está mais próxima do adjetivo
excludente do que do englobante e isso obriga as populações alijadas englobadas
às avessas ou pela porta dos fundos a se reinventarem.
Nesta perspectiva, a ideia de estudar os contornos do sujeito agroflorestal
está associada à capacidade dessas populações se autoafirmarem e se
autotranscenderem em relação ao ambiente sociocultural e biofísico colonizado pela
sociedade englobante. Se no primeiro estágio, o estágio da autoafirmação, o sujeito
(dis)socia-se do ambiente para instituir sua identidade, no segundo estágio, o da
autotranscendência, ele se (re)concilia, admitindo sua dependência em relação ao
ambiente. Identificar os contornos desse sujeito implica identificar como se dá essa
tensão permanente entre (dis)sociação e (re)conciliação com o ambiente. A ênfase
na identificação dos contornos do sujeito agroflorestal está relacionada à
necessidade de fugir à tentação de localizar a “essência” dos sujeitos. Em vez da
“essência”, buscam-se aqui as formas de expressão concreta desses sujeitos.
Neste sentido, a despeito dos obstáculos impostos pela sociedade
englobante, a ideia central deste artigo é verificar em que medida a agrofloresta, ao
possibilitar a emergência de um sujeito agroflorestal, este, uma vez constituído,
possibilita a consolidação da agrofloresta como alternativa concreta aos processos
de reprodução material e imaterial dos agricultores, dando continuidade a um
processo recursivo. O sujeito que irrompe da prática agroflorestal é um sujeito
(re)significado, pois ao reinventar a si mesmo, reinventa a própria agrofloresta.
2. Método
Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por meio de história oral
(ICHIKAWA; SANTOS, 2006), com uma amostra selecionada pelo critério da adesão
(YIN, 2005). Dos catorze entrevistados, doze são agricultores e dois técnicos que
trabalham com agrofloresta na região pesquisada. Por se tratar de uma pesquisa
centrada em um fundamento epistêmico empirista, em cada história oral colhida
buscou-se identificar a existência de alguma relação entre a prática agroflorestal e a
emergência do sujeito, com vistas a refletir acerca dessa relação.

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