Advogados, Escolas de Direito e Globalização na perspectiva latino-americana

AutorRogelio Pérez Perdomo
CargoUniversidade Central da Venezuela
Páginas122-141
P A N Ó P T I C A
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Panóptica, Vitória, vol. 8, n. 1 (n. 25), 2013
ISSN 1980-7775
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ADVOGADOS, ESCOLAS DE DIREITO E GLOBALIZAÇÃO NA
PERSPECTIVA LATINO-AMERICANA1
Universidade Central da Venezuela
1. INTRODUÇÃO
As mudanças sociais afetam a maneira como vivemos e como trabalhamos, diante disso é
importante refletir sobre as profissões. O exemplo dos tropeiros nos mostra isso. No século XIX
essa profissão foi muito importante em matéria de comunicação, era um trabalho que exigia o
conhecimento das estradas e como elas podiam ser afetadas pelas chuvas, o cuidado com as
mulas, a capacidade para dispor das cargas e um investimento considerável. Porém, os trens, os
aviões e o transporte automotor fizeram com que esse trabalho desaparecesse. Então, houve
grande questionamento do por que os advogados parecem ser imunes às mudanças sociais. Eles
não estavam em Roma? E na Idade Média? E no século do ouro espanhol?
Respondo desde já que, apesar do nome, talvez não possua muita semelhança entre a atuação de
um advogado de Bogotá ou de Caracas em 2003 e Mucius Scaevola. Pode-se afirmar com
segurança que foram educados de forma diferente, que tem concepções distintas do direito, que
atendem a assuntos bastante divergentes e quem está na relação com eles esperam deles atuações
diversas. Também encontraremos enormes diferenças entre nosso contemporâneo e um
advogado de Bogotá do século passado. Seu conhecimento e sua atuação social são distintas
mesmo que tenham estudado na mesma universidade. Por isso, é importante que nos
perguntemos como esta mudando a profissão jurídica em nossa época, na qual o cambio social
ocorre rapidamente.
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1 Tradução: Pedro Faé, estudante de direito na Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Revisão: Juliana Costa
Zaganelli, estudante de direito na Faculdade de Direito de Vitória (FDV) e membro do Grupo de Pesquisa Direito,
Sociedade e Cultura.
P A N Ó P T I C A
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Panóptica, Vitória, vol. 8, n. 1 (n. 25), 2013
ISSN 1980-7775
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Utilizamos a palavra globalização para demonstrar a transformação social que vivemos em nossa
época, ainda que seja polêmica. O presidente Chávez, da Venezuela, a repreendeu e
provavelmente tem poderosas razões para isso. Mas, o uso que fazemos aqui se refere às
mudanças tecnológicas e econômicas, das quais incrementam os contatos entre culturas e nações,
além de facilitar os intercâmbios. Se vamos comer sushi e pagamos com um cartão de crédito,
estamos globalizados, ainda que consideremos o Fundo Monetário Internacional uma instituição
perversa. Isso é relevante? No que mudam os advogados latino-americanos quando comem
sushi?
Para responder a essa pergunta fundamental imaginemos um retrato de um advogado em meados
do século XX. Era um homem (quase não havia advogadas) com uma pequena oficina no centro
da cidade, não muito distante dos tribunais. Na oficina havia uma secretária (porque
normalmente era uma mulher) que atendia ao telefone, escrevia documentos em uma máquina de
escrever e atendia as pessoas que iam visitar o advogado. Provavelmente, o advogado
compartilhava o espaço e os serviços da secretária com um ou dois colegas. Suponho que ainda
podemos encontrar em Bogotá certo número de advogados que correspondem a essa descrição,
mas esse quadro está se tornando cada vez mais escasso.
Para a análise da mudança social, nesse quadro devemos primeiro, analisar a figura da secretária,
da qual é a inseparável companheira do advogado dessa época. Se retrocedermos de novo a
metade do século, o escritório de advocacia não tinha secretária. A secretaria, como forma de
ocupação, está efetivamente associada com a difusão social da máquina de escrever e o telefone
fixo. Essas transformações tecnológicas permitiram com que as mulheres com certo nível
educacionais, antes condenadas ao trabalho doméstico, começassem a trabalhar e, com isso, se
converteram em uma fonte de renda para si mesma e sua família. Isso fez com que as famílias
entendessem a importância das mulheres se educarem. Essa mudança fez mais pela liberdade
feminina do que a Flora Tristán e as sufragistas. Pelo menos, fizeram mais, pois acabaram com a
resistência daqueles que pretendiam manter as mulheres presas no trabalho doméstico. Voltamos
agora ao começo do século XXI, tem muitos advogados (e advogadas) especialmente entre os
jovens, que nem mesmo tem uma secretária, até porque o telefone celular e o computador,
praticamente, extinguiram essa profissão.

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