Adoção do valor justo para ativos não financeiros: evidências da Alemanha, Brasil e Reino Unido

AutorAline Fernandes Pinto - Sirlei Lemes - Neirilaine Silva de Almeida
CargoMestre em Contabilidade (UFU), Uberlândia/MG Brasil - Doutora em Controladoria e Contabilidade (USP) - Doutora em Contabilidade (UFU)
Páginas104-119
104
Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 43, p. 104-119, abr./jun., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n43p104
Adoção do valor justo para ativos não financeiros: evidências
da Alemanha, Brasil e Reino Unido
Adoption of fair value for non-financial assets: evidence from Germany, Brazil and the United
Kingdom
Adopción del valor justo para los activos no financieros: evidencias de Alemania, Brasil y Reino
Unido
Aline Fernandes Pinto*
Mestre em Contabilidade (UFU), Uberlândia/MG Brasil
fernandes.aline63@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0002-6466-5226
Sirlei Lemes
Doutora em Controladoria e Contabilidade (USP)
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Contábeis (UFU), Uberlândia/MG, Brasil
sirlemes@uol.com.br
https://orcid.org/0000-0003-3334-4240
Neirilaine Silva de Almeida
Doutora em Contabilidade (UFU)
Professora da Faculdade de Ciências Contábeis (UFU),
Uberlândia/MG, Brasil
neirilaine@ufu.br
http://orcid.org/0000-0001-5687-9833
Endereço do contato principal para correspondência*
Avenida João Naves de Ávila, 2121 - Campus Santa Mônica - Bloco F, CEP: 38.408-100 – Uberlândia/MG, Brasil
Resumo
O presente estudo teve o objetivo de identificar os fatores que se associam com a escolha do método para a
mensuração de ativos não financeiros. Para tanto, selecionou-se uma amostra com 150 companhias da
Alemanha, Brasil e Reino Unido. O período amostral refere-se ao ano de adoção das IFRS em cada país,
sendo 2005 para Alemanha e Reino Unido e 2010 para o Brasil. A associação entre as escolhas contábeis
na mensuração dos ativos não financeiros e o país, o porte, a rentabilidade e o nível de endividamento foi
verificada por meio de teste Qui-quadrado. Os resultados indicam que o país, o tamanho e o nível de
endividamento apresentam associação com o método escolhido de mensuração dos ativos não financeiros,
o que não foi evidenciado em relação à rentabilidade. Adicionalmente, os resultados suportam a suposição
de preferência das companhias da amostra pelo uso do custo histórico.
Palavras-chave: Escolhas contábeis; Valor justo; Ativo não financeiros; Alemanha; Brasil; Reino Unido
Abstract
The present study aimed to identify the factors that are associated with the choice of method for the
measurement of non-financial assets. To do so, a sample was selected with 150 companies from Germany,
Brazil and the United Kingdom. The sample period refers to the year of adoption of IFRS in each country,
being 2005 for Germany and the United Kingdom and 2010 for Brazil. The association between the accounting
choices in the measurement of the non-financial assets and the country, size, profitability and level of
indebtedness was verified by means of Chi-square test. The results indicate that the country, size and level of
indebtedness are associated with the chosen method of measurement of non-financial assets, which was not
evidenced in relation to profitability. Additionally, the results support the assumption of preference of the
sample companies by the use of historical cost.
Keywords: Accounting choices; Fair value; Non-financial assets; Germany; Brazil; United Kingdom
Resumen
El presente estudio tuvo el objetivo de identificar los factores que se asocian con la elección del método para
la medición de activos no financieros. Para ello, se seleccionó una muestra con 150 compañías de Alemania,
Aline Fernandes Pinto, Sirlei Lemes, Neirilaine Silva de Almeida
105
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 17, n. 43, p. 104-119, abr./jun., 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2020v17n43p104
Brasil y el Reino Unido. El período muestral se refiere al año de adopción de las NIIF en cada país, siendo
2005 para Alemania y Reino Unido y 2010 para Brasil. La asociación entre las opciones contables en la
medición de los activos no financieros y el país, tamaño, rentabilidad y el nivel de endeudamiento se verificó
por medio de la prueba Chi-cuadrado. Los resultados indican que país, tamaño y nivel de endeudamiento
presentan asociación con el método elegido de medición de los activos no financieros, lo que no se evidenció
en relación con la rentabilidad. Adicionalmente, los resultados apuntan la preferencia de las compañías de la
muestra por el uso del costo histórico.
Palavras chave: Opciones Contables; Valor justo; Activos no financieros; Alemania; Brasil; Reino Unido
1 Introdução
A escolha entre o valor justo e o custo histórico ainda é tema controverso na contabilidade. Se por
um lado o uso do valor justo na mensuração dos ativos pode aumentar a relevância e a transparência das
informações financeiras, por outro, as estimativas requeridas nesse processo podem possibilitar a existência
de manipulações e, consequentemente, afetar a confiabilidade das informações financeiras (DIETRICH;
HARRIS; MULLER, 2001; MCDONOUGH; SHAKESPEARE, 2015). Para Barth (2013), o valor justo tem a
capacidade de auxiliar a obtenção da comparabilidade, uma vez que permite que as semelhanças e
diferenças econômicas entre os ativos estejam representadas fidedignamente nas demonstrações
financeiras. Entretanto, a autora enfatiza a preocupação com a possível existência de manipulação no valor
justo estimado pelos gestores. Isa (2014) destaca que o valor justo pode ser empregado com o intuito de
apresentar menores resultados operacionais, uma vez que o método tende a acarretar maiores despesas de
depreciação relacionadas aos ativos não circulantes. Por outro lado, o custo histórico permite que os gestores
evidenciem um crescimento no resultado organizacional, considerando que a depreciação é calculada com
base no custo histórico que, em condições econômicas normais, tende a ser inferior ao valor justo (ISA, 2014).
Outro ponto conflitante que permeia a adoção do valor justo é que, de fato, as International Financial
Reporting Standards (IFRS) possibilitam que os gestores escolham a prática contábil que melhor representa
a situação econômica e financeira das entidades em que atuam. Assim, a adoção das IFRS tem o potencial
para aumentar a comparabilidade das informações extraídas dos relatórios contábeis (ZEFF, 2007). Contudo,
também é preciso considerar que as diferenças existentes na cultura contábil, empresarial e financeira, bem
como os aspectos relacionados à auditoria e à regulação de cada país podem dificultar o alcance da
comparabilidade das informações financeiras porque os gestores podem realizar escolhas contábeis
considerando os contextos dos países em que atuam (ZEFF, 2007).
Sarquis et al. (2014) defendem que as divergências nas práticas contábeis podem ser causadas por
vários motivos, tais como a existência das escolhas contábeis, as lacunas presentes nas normas e os
problemas de tradução das IFRS para a língua de cada país. Assim, os autores destacam a relevância do
estudo da classificação dos sistemas contábeis para o entendimento das diferenças nas políticas contábeis
das entidades de distintos países.
Nobes (2011) identificou dois grandes grupos com distintos padrões de escolhas contábeis: o grupo
Anglo-Saxão, composto pelo Reino Unido, e o grupo da Europa Continental, formado por Alemanha, Espanha,
França, Itália, Austrália, Países Baixos e Suécia. Posteriormente, Sarquis et al. (2014) identificaram que as
escolhas contábeis dos países emergentes, tais como o Brasil, Rússia e África do Sul, também se diferem
significativamente das escolhas dos países do grupo Anglo-Saxão e do grupo da Europa Continental. Assim,
os autores complementaram a pesquisa de Nobes (2011) e defenderam a existência de três grupos de países
com distintos sistemas de classificação contábil: Anglo-Saxão, Europa Continental e Emergentes.
Pesquisas anteriores estudaram a adoção do valor justo em países do grupo Anglo-Saxão (CAIRNS;
MASSOUDI; TARCA, 2011; CHRISTENSEN; NIKOLAEV, 2013; YAO; PERCY; HU, 2015), do grupo da
Europa Continental (CHRISTENSEN; NIKOLAEV, 2013; DEMARIA; DUFOUR, 2007) e do grupo dos países
emergentes (BOTINHA; LEMES, 2017; TAPLIN; YUAN; BROWN, 2014). Todavia, os estudos que buscam
identificar os fatores determinantes da adoção do valor justo em países com distintos sistemas de
classificação contábil ainda são escassos. O estudo de Christensen e Nikolaev (2013), por exemplo, buscou
verificar como alguns fatores determinantes (endividamento, desempenho econômico e porte das empresas)
estavam associados com a adoção do valor justo dos ativos não financeiros (propriedades para investimentos
(PPI), ativo imobilizado e ativo intangível) de empresas do Reino Unido, país do grupo Anglo-Saxão, e da
Alemanha, país do grupo da Europa Continental. Todavia, os autores não avaliaram os fatores determinantes
para a adoção do valor justo em países emergentes, que, conforme Sarquis et al. (2014), têm ganhado
relevância na economia mundial e fomentado investimentos de outros países. O estudo de Souza e Lemes
(2015), por outro lado, buscou identificar os determinantes para a adoção do valor justo na mensuração
subsequente dos ativos não financeiros de companhias do Brasil, Chile e Peru. Contudo, a pesquisa desses
autores tem o foco no contexto de países emergentes e não faz um confronto com os resultados de países
pertencentes a outros sistemas de classificação contábil, tais como o Reino Unido e a Alemanha.
Assim, com o intuito de ampliar o entendimento sobre os fatores determinantes para a adoção do
valor justo na mensuração de ativos não financeiros de companhias de distintos países, o presente trabalho
almeja estender as pesquisas sobre o tema e avaliar a adoção do valor justo em países pertencentes aos

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT