Acolhimento com classificação de risco em saúde: estudo em Unidade de Pronto Atendimento de Fortaleza

AutorLuciana Maria Nascimento da Silva, Liduína Farias Almeida da Costa, Lúcia Conde de Oliveira, João Bosco Feitosa dos Santos
Páginas303-322
ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM SAÚDE: estudo em Unidade
de Pronto Atendimento de Fortaleza
Luciana Maria Nascimento da Silva1
Liduína Farias Almeida da Costa2
Lúcia Conde de Oliveira3
João Bosco Feitosa dos Santos4
Resumo:
Este artigo tem o objetivo de compreender a trajetória de constituição da proposta de acolhimento com classificação de
risco na dinâmica da rede de saúde. É um recorte de uma pesquisa qualitativa sobre a organização das redes de atenção
à saúde. O presente enfoque foi produzido a partir de uma Unidade de Pronto Atendimento de Fortaleza, Ceará, mediante
utilização das técnicas da observação flutuante e entrevista semiestruturada com profissionais e usuários do serviço;
procede, também, de exame de fontes documentais referentes ao tema. Aponta, ainda, que os protocolos previstos pelo
Ministério da Saúde foram implantados. Entretanto, conclui que a ideia de acolhimento trazida inicialmente pela Política
Nacional de Humanização é modificada em função das práticas gerenciais que dominam a organização dos serviços de
saúde no país.
Palavras-chave: Política de Saúde. Sistema Único de Saúde. Redes de Urgência e Emergência. Acolhimento com
Classificação de Risco.
TRIAGE IN HEALTH CARE: study in an Emergency Care Unit in the city of Fortaleza
Abstract:
This article aims to understand the path of constitution of the triage proposal in the dynamics of the health network. It is a
cut of a qualitative research on the organization of health care networks. The present approach was produced from an
Emergency Care Unit in Fortaleza, Ceará, using the techniques of floating observation and semi structured interview with
professionals and users of the service, as well as documentary sources related to the subject. The protocols foreseen by
the Ministry of Health were implemented. However, the Idea of Triage initially brought about by the National Humanization
Policy is modified according to the managerial practices that dominate the organization of the health services in t he
country.
Keywords: Health Policy. Unified Health System (SUS). Urgency and Emergency Networks. Triage.
Artigo recebido em: 29/08/2018 Aprovado em: 28/03/2019.
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v23n1p303-322
1 Assistente Social. Mestre em Políticas Públicas. Funcionária do Hospital Geral de Fortaleza (GHF). E ndereço: Rua Ávila
Goulart, 900 - Papicu Fortaleza Ceará. CEP: 60150-160.
2 Assistente Social. Doutorado e Pós-Doutorado em Sociologia.Vínculo: Universidade Estadual do Ceara (UECE). Endereço:
Avenida Dr. Silas Monguba, 1700, Itaperi Fortaleza- Ceará. CEP: 60741-000. E-mail: liduinafariasac@gmail.com
3 Assistente Social, Doutora e Pós-Doutorado em Saúde Coletiva. Funcionária do Universidade Estadual do Ceara (UECE).
4 Economista. Doutor em Sociologia e Pós-Doutorado em Ciências Sociais. Vínculado a UECE.
Luciana Maria Nascimento da Silva, Liduína Farias Almeida da Costa, Lúcia Conde de Oliveira e João Bosco Feitosa dos
Santos
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1 INTRODUÇÃO
Os processos de criação e a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil
despontaram por força da sociedade e com o propósito de mudança do modelo hospitalocêntrico,
curativo, biomédico e particularista, hegemônico. A Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da
Saúde de 1990 trouxeram a obrigatoriedade de instituição de um sistema diverso, de caráter
universalista, contemplando também a promoção e a prevenção dos agravos à saúde, cujas diretrizes
fundamentais são a descentralização das ações e serviços, o atendimento de forma integral e a
participação da comunidade no processo, por meio do controle social.
Desde então, o maior desafio desse novo sistema já em seu vigésimo sétimo ano de
funcionamento ainda é o da universalização do atendimento. Nessa esfera, as dificuldades são muitas
a despeito das buscas empreendidas não sem conflitos internos no próprio campo da saúde, na
disputa por distintos projetos e poderes; assim como os conflitos mais gerais próprios de uma
sociedade de classes, desigual como a nossa, a repercutir intermitentemente no referido campo , e
das várias estratégias propostas e/ou testadas com esse intuito.
Segundo se realça, a criação do SUS é fruto da luta pela Reforma Sanitária, mas sua
instituição não ocorreu mediante rupturas. (LEVCOVITZ, 1997). As inovações foram se formando
dentro de velhas estruturas arcaicas ineficientes, plenas de vícios, frutos de um Estado patrimonialista
e uma cultura política autoritária, clientelista e paternalista. Paim (2008), fundamentado em Gramsci,
denominou esse processo de revolução passiva, ou seja, conservação e mudança. Mesmo assim, as
escolhas para a construção do SUS propiciaram avanços na sua organização e funcionamento. Então,
o setor saúde se transforma num imenso laboratório de inovações em diferentes dimensões da
organização, gestão e atenção à saúde.
Apesar disso, o atendimento universal de qualidade e em tempo oportuno ainda
permanece como utopia, embora diante dos avanços jurídicos e dos muit os passos já percorridos na
busca de um modelo de atenção capaz de promover a integralidade do cuidado.
Aqui o modelo de atenção é entendido como um conjunto de saberes e práticas utilizados
para resolver problemas e atender necessidades de saúde individu ais e coletivas, bem como o modo
de organizar e administrar um sistema de serviço de saúde (TEIXEIRA, 2003). Entre as estratégias
para o atendimento universal, destaca-se, para fins de discussão no presente artigo, o dispositivo do
acolhimento com classificação de risco no contexto das redes de atenção e, mais especificamente, no
contexto da Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE). Este dispositivo teria, segundo
Brasil (2010), a finalidade de articular e integrar os equipamentos de saúde no sentid o de ampliar e
qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência/emergência.

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