Práticas colaborativas de P&D no contexto de pequenas e médias empresas brasileiras

AutorDaniela Baggio - Douglas Wegner
CargoMestre em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Bento Gonçalves, RS - Doutor em Administração
Páginas52-67
Artigo recebido em: 24/02/2016
Aceito em: 29/07/2016
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2016v18n46p52
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
52 Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 46, p. 52-67, dezembro 2016
PRÁTICAS COLABORATIVAS DE P&D NO CONTEXTO DE
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS BRASILEIRAS
Collaborative Practices of R&D in the Context of Brazilian Small
and Medium-Sized Enterprises
Daniela Baggio
Mestre em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Bento Gonçalves, RS.
E-mail: baggiodaniela@gmail.com
Douglas Wegner
Doutor em Administração. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(Unisinos). São Leopoldo, RS. Brasil. E-mail: dwegner@unisinos.br
Resumo
A execução de práticas colaborativas de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) proporciona às empresas a
complementaridade de recursos, criação e transferência
de conhecimento, além de acelerar o processo de
inovação. No entanto, se sabe muito pouco como as
atividades colaborativas são organizadas e administradas
entre organizações. Dessa forma, o presente artigo
explora como pequenas e médias empresas (PMEs)
brasileiras utilizam práticas colaborativas de P&D no
processo da inovação aberta (IA). Investigou-se quais
práticas colaborativas de P&D são adotadas por PMEs,
os motivos para sua implementação e os mecanismos
de coordenação das práticas colaborativas. Como
estratégia investigativa optou-se por uma pesquisa
qualitativa, por meio de um estudo de dois casos em
que ocorreram práticas colaborativas entre empresa-
fornecedor e entre empresa-universidade. Os dados
foram obtidos por meio de entrevistas em profundidade
e dados secundários. Como resultado da pesquisa,
concluiu-se que os principais motivos para a adoção
das práticas colaborativas estão vinculados a fatores
de caráter individual em complemento com fatores
institucionais e estratégicos.
Palavras-chave: Práticas. Colaboração. Inovação
Aberta. Pequenas e Médias Empresas.
Abstract
The implementation of collaborative practices of
research and development (R&D) between organizations
provides access to resources, knowledge transfer, as well
as accelerates the innovation process. However, there is a
lack of knowledge about how the collaborative activities
are organized and managed among organizations.
This article explores how Brazilian small and medium-
sized enterprises (SMEs) use collaborative practices of
R&D in the open innovation process (OI). Therefore,
we sought to investigate which collaborative practices
of R&D are adopted by SMEs; the reasons found
in its implementation; and, how SMEs manage
collaborative practices. The research strategy was a
qualitative research, through a study of two cases where
collaborative practices occurred between enterprise-
supplier and, between enterprise-university. Data were
collected through interviews and secondary data. The
results highlight that the main reasons for the adoption
of collaborative practices are linked to individual factors
as well as institutional and strategic factors.
Keywords: Practices. Collaboration. Open innovation.
Small and medium-sized enterprises.
53
Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 46, p. 52-67, dezembro 2016
Práticas Colaborativas de P&D no Contexto de Pequenas e Médias Empresas Brasileiras
1 INTRODUÇÃO
As organizações precisam de processos inova-
dores para que possam se manter competitivas no
mercado em que estão inseridas. Inovar é um desafio
ainda maior para empresas de pequeno e médio
porte, pois elas possuem mais limitações de recursos
financeiros, capacidades, além de outros fatores, do
que grandes empresas. Essas limitações às impedem
de encararem as políticas de inovações através de
suas competências internas (PEREIRA; VENTURINI,
2006). A inovação é um elemento fundamental para
a competitividade e mesmo para a sobrevivência das
empresas (CASSIOLATO; LASTRES, 2005; RASERA;
BALBINOT, 2010), pois o ambiente econômico é
caracterizado pela competição global (GARRETÓN
et al., 2007; GRÖNLUND; SJÖDIN; FRISHAMMAR,
2010). Essa crescente competitividade faz com que elas
busquem resultados mais expressivos, adotando assim
estratégias que vão desde inovações em produtos,
serviços e processos até a formação de parcerias com
clientes, concorrentes e fornecedores, com o objetivo
de fortalecer as relações e obter melhores condições
de negociação e manutenção de mercado.
Historicamente, a P&D vinha sendo conduzida
por meio de um modelo fechado e de pouca interação
com o ambiente externo. No entanto, esse modelo
torna-se limitado com o aumento da complexidade
tecnológica que muitas empresas vêm experimentando
(CHIARONI; CHIESA; FRATTINI, 2011). Estudos re-
centes destacam a necessidade da abertura do modelo
de P&D para uma maior interação, complementarida-
de e cooperação com os atores externos por meio de
uma série de práticas colaborativas (SHIH; PISANO;
KING, 2008; HUGHES; WAREHAM, 2010; KAPOOR;
MACGRATH, 2014).
Apesar do conhecimento disponível sobre por
que as empresas abrem seus processos de inovação
(HUIZINGH, 2011; BIGLIARDI; DORMIO; GALATI,
2012), pouco se sabe como atividades colaborativas
são organizadas e administradas dentro das empresas
(ALBERS; WOHLGEZOGEN; ZAJAC, 2013). So-
mados a esses fatores, há uma carência de estudos
sobre as práticas de IA em PMEs (SPITHOVEN; VA-
NHAVERBEKE; ROIJAKKERS, 2013; WYNARCZYK;
PIPEROPOULOS; MCADAM, 2013). Diante dessa
necessidade, o presente estudo analisa as seguintes
questões de pesquisa: Quais práticas colaborativas de
P&D na IA são adotadas por PMEs brasileiras? Quais os
motivos para a implementação de tais práticas? E, que
mecanismos são utilizados para a gestão das práticas
colaborativas de P&D no processo da IA? A pesquisa
empírica constituiu em um estudo de dois casos de prá-
ticas colaborativas de P&D realizados entre empresa-
-fornecedor (P1), e empresa-universidade (P2).
A opção pelo foco da pesquisa em PMEs deve-se
ao reduzido número de estudos que analisa a IA nesse
porte de empreendimentos (VAN DE VRANDE et al.
2009; WYNARCZYK; PIPEROPOULOS; MCADAM,
2013). Grande parte das pesquisas em IA é direcio-
nada a empresas de alta tecnologia e multinacionais
(VAN DE VRANDE et al. 2009; WESTERGREN; HOL-
MSTRÖM, 2012; WYNARCZYK; PIPEROPOULOS;
MCADAM, 2013).
Assim, as práticas colaborativas são muito im-
portantes para as empresas. Gestores poderão aplicar
as práticas colaborativas de IA em suas empresas,
promovendo assim inovações. A inovação constitui
um dos fatores mais importantes para incrementar a
competitividade das empresas. Em especial as PMEs,
consideradas importantes para a economia por sua
capacidade de gerar empregos e contribuir para a
economia local. Sendo assim, do ponto de vista social,
o estudo pode contribuir para a competitividade das
PMEs para que elas sobrevivam por mais tempo.
O artigo está dividido em cinco partes. Após a
introdução, a segunda seção apresentará o referencial
teórico que embasa a presente pesquisa. A terceira se-
ção tratará dos procedimentos metodológicos utilizados
na condução desta pesquisa. Na seção seguinte, serão
apresentados os resultados e as contribuições. E, por
fim, a quinta seção tratará das conclusões do estudo,
com sugestões para futuras pesquisas.
2 INOVAÇÃO ABERTA (IA)
As empresas mudaram suas estratégias de ino-
vações em produtos e serviços, devido aos custos
crescentes com o desenvolvimento de tecnologia e
a diminuição do ciclo de vida dos produtos (SILVA;
DACORSO, 2013; HASNAS; LAMBERTINI; PA-
LESTINI, 2014). Outros fatores, como a mobilidade
crescente da mão de obra (os trabalhadores levam

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT