O que motiva a realização de intervenções cambiais? Análise das atuações do Banco Central do Brasil no mercado BRL/USD

AutorFelipe Wolk Teixeira - Roberto Meurer - André Alves Portela Santos
CargoDepartamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina
O que Motiva a Realizac¸˜
ao de Intervenc¸˜
oes
Cambiais? An´
alise das Atuac¸˜
oes do Banco
Central do Brasil no Mercado BRL/USD
(What Drives Forex Interventions? Evidence from the Brazilian
Central Bank Interventions on the BRL/USD Market)
Felipe Wolk Teixeira*
Roberto Meurer**
Andr´
e Alves Portela Santos***
Resumo
Neste artigo analisamos os determinantesda probabilidade de intervenc¸˜ao de com-
pra e venda por parte do Banco Central do Brasil (BCB) no mercado a vista de
olar durante o per´ıodo de 1999 a 2010. Os resultados indicam que a probabili-
dade de intervenc¸ ˜ao ´e func¸˜ao dos n´ıveis de retorno cambial, do spread entre juros
dom´estico e intern acionale da volatilidade do c ˆambio. Al ´em disso, as intervenc¸ ˜oes
passadas tamb´em desempenhampapel ativo na formac¸˜ao da intervenc¸˜ao contem-
porˆanea. A possibilidade de maior presenc¸a no mercado mediante determinados
condicionantes sugere a existˆencia tanto de coordenac¸˜aoentre pol´ıtica externa e
monet´aria efetuada pelo BCB, compat´ıvel com uma pol´ıtica econˆomica de duas
metas e dois instrumentos, como uma poss´ıvel sinalizac¸˜ao de existˆencia de uma
banda cambial informal.
Palavras-chave:intervenc¸ ˜oes cambiais; autoridade monet´aria; volatilidade.
C´
odigos JEL: F31; F41.
Abstract
In this paper we study what drives buy-side and sell-side probabilities of interven-
tion by the Brazilian Central Bank (BCB) on the USD/BRL spot market between
Submetido em 14 de junho de 2012. Reformulado em 28 de dezembro de 2012. Aceito
em 10 de junho de 2013. Publicado on-line em 1 de julho de 2013. O artigo foi avaliado se-
gundo o processo de duplo anonimato al´emde ser avaliado pelo editor. Editor respons´avel:
Marcio Garcia.
*Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina e Instituto
Brasileiro de Geografia e Estat´ıstica, Santa Catarina, SC, Brasil. E-mail: felkbr@gmail.
com **Departamento de Economia da Universidade Federalde Santa Catarina, S antaCata-
rina, SC, Brasil. E-mail: rmeurer@mbox1.ufsc.br
***Departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:
andreportela@cse.ufsc.br
Rev. Bras. Financ¸as (Online),Rio de Janeiro, Vol. 11, No. 2, June 2013, pp. 215–248
ISSN 1679-0731, ISSN online 1984-5146
c
2013 Sociedade Brasileira de Financ¸as, under a Creative Commons Attribution 3.0 license -
http://creativecommons.org/licenses/by/3.0
Teixeira, F., Meurer, R., Santos, A.
1999 and 2010. BCB’s forex interventions seem to be related to the exchange rate
returns and volatility as well as to the spread between domestic and foreign interest
rates. Lagged interventions also appear to have an effect on current interventions.
Our findings suggest that the operation of the policymaker in the forex market may
serve as a signaling of a possible coordination between BCB’s foreign and mon-
etary policies along with the possibility of an unofficial adoption of an exchange
rate band.
Keywords:exchange rate interventions; monetary authority; volatility.
1. Introduc¸˜
ao
a um conjunto de diferentes motivos para que a autoridade monet´aria
busque afetar o cˆambio: ajustes no balanc¸o de pagamentos, estabilidade
de prec¸os dom´esticos via pass-through,1reduc¸˜ao do prˆemio de risco re-
sultante de volatilidade cambial, sustentac¸˜ao de um determinado patamar
para incentivar setores espec´ıficos, entre outros (Borges & Rossi Jr., 2010,
Oliveira & Plaga, 2011). Entretanto, a intervenc¸ ˜ao tamb´em pode se dis-
tanciar da tentativa de afetar o comportamento do cˆambio, caso vise ma-
jorar o estoque de reservas internacionais. Essa situac¸˜ao ´e destacada para
economias com moedas inconvers´ıveis e que necessitam de moeda forte
para efetuar suas transac¸ ˜oes, uma vez que manter um estoque de reservas
reduz o risco de default e possibilita a realizac¸ ˜ao de intervenc¸ ˜oes de venda
de divisas quando necess´ario.
No campo da variˆancia, parece haver propens˜ao `a taxa de cˆambio ser
mais vol´atil no curto prazo do que no longoprazo (Dominguez, 2006). Uma
taxa com volatilidade alta ´e de dif´ıcil previs˜ao, o que pressiona a demanda,
pelos operadores em moeda estrangeira, para prˆemios de risco mais ele-
vados. A intervenc¸ ˜ao do banco central pode suavizar o comportamento da
vari´avel mediante acomodac¸˜aode s ´ubitos excessos de oferta ou demanda de
moeda estrangeira, controlando parte do risco inerente `as transac¸˜oes reais
vinculadas ao setor externo atrelado `a variˆancia excessiva (Reinhart, 2000).
1A intenc¸ ˜ao de controle de inflac¸˜ao via taxa de cˆambio foi amplamente utilizada pela
autoridade monet´aria durante a implantac¸˜ao do Plano Real mediante fixac¸˜ao de teto para
a taxa nominal de cˆambio. A eficiˆencia emp´ırica de controle de inflac¸ ˜ao via pass-through
tem sido reduzida (Mishkin, 2008). Uma poss´ıvel explicac¸˜ao para essa reduc¸ ˜ao ´e dada em
Gust et al. (2010): com uma maior integrac¸ ˜ao de com´ercio internacional um objetivo da
pol´ıticade fixac¸˜aode prec¸os das firmas ´e evitar o surgimento de desvios consider´aveis entre
os prec¸ os de exportac¸˜ao e os prec¸os do mercado de destino.
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O que Motiva a Realizac¸ ˜ao de Intervenc¸˜oes Cambiais?
No mercado brasileiro, as intervenc¸ ˜oes tˆem ocorrido tanto em con-
texto de apreciac¸ ˜oes quanto de depreciac¸ ˜oes da moeda dom´estica. Desde a
adoc¸˜ao do regime de flutuac¸ ˜ao cambial em 1999 o Banco Central do Brasil
(BCB) n˜ao explicitou um n´ıvel desejado para a taxa de cˆambio, mas in-
terv´em com frequˆencianeste mercado. O objetivo impl´ıcito do BCB ´e de-
sconhecido pelos participantes do mercado, os quais tentam inferir a pre-
ferˆencia da autoridade monet´aria mediante a observac¸ ˜ao de seu compor-
tamento. O BCB explica as intervenc¸ ˜oes nas publicac¸ ˜oes oficiais como
tendo o objetivo de controlar movimentos indesej´aveis na taxa de cˆambio.
A direc¸˜ao da intervenc¸ ˜ao oscila de acordo com os movimentos conjun-
turais Banco Central do Brasil (2005-2012). S´ubitas oscilac¸ ˜oes no mer-
cado poderiam explicar as s´ubitas oscilac¸ ˜oes na direc¸˜ao de intervenc¸ ˜oes da
instituic¸˜ao. Como as intervenc¸˜oes s˜ao destinadas a influenciar o cˆambio e
este reage `a oferta e demanda de divisas em um regime de cˆambio flutuante,
´e importante verificar o comportamento das contas do balanc¸ o de paga-
mentos. A tabela 1 resume o balanc¸o de pagamentos do Brasil de 1999 a
2010, o comportamento das reservas internacionais e principais fatores que
causaram as variac¸ ˜oes nas reservas.
Rev. Bras. Financ¸as (Online), Rio de Janeiro, Vol. 11, No. 2, June 2013 217

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