25 anos de cadernos do CEAS. O CEAS entrevista Crisóstomo de Souza, Joviniano Neto e Cláudio Perani, que participaram da Equipe de Redação desde o início

Páginas170-178
25 ANOS DE CADERNOS DO CEAS
O CEAS entrevista Crisóstomo de Souza, Joviniano Neto e Cláudio Perani, que
participaram da Equipe de Redação desde o início.
Como e por que surgiram os Cadernos do CEAS em 1969?
Crisóstomo - A revista surgiu no bojo da preocupação geral, própria da década de 60,
com o subdesenvolvimento, a miséria e a opressão no chamado Terceiro Mundo, um
quadro particularmente gritante no Nordeste brasileiro e sob um regime militar. Foi um
fruto da preocupação e do engajamento da Igreja nessas questões. Os Cadernos
começaram talvez mais doutrinários e teóricos, dando um salto com artigos mais breves
e que captavam mais a cena popular, e outro ainda com o tratamento de questões
políticas e conjunturais, com editoriais mais vivos. Foi um processo de politização
muito positivo no geral, que se fez sentir de modo também muito positivo no
movimento da Igreja e mais além. Outros poderiam ver aí um certo descaminho...
Joviniano - Foi em março de 1969, com textos mimeografados. Em outubro, o n. 4,
com capa impressa, texto mimeografado, tamanho carta, reproduzia um artigo da revista
Aggiornamenti Sociali, dos jesuítas de Milão. Em fevereiro de 1970, o n. 5 é o primeiro
totalmente impresso e já nas dimensões e formato de hoje.
O tema foi "O problema da mão-de-obra operária industrial na Bahia" e inclui o artigo
em que resumi pesquisa por mim coordenada. Os Cadernos surgiram como instrumento
de reflexão, a partir da Igreja, sobre nova situação que mostrava a necessidade de: a)
manter uma análise lúcida da realidade em época de dificuldade de acesso às
informações, por causa da censura, do autoritarismo e da desarticulação de várias
organizações e expectativas; b) interpretar mudanças que ocorriam, inclusive no modelo
político-econômico brasileiro, em busca de compreender de como o capitalismo e a
modernização avançavam no Brasil; c) reagir ao regime ditatorial. Os dois primeiros
números reproduzem documentos da Igreja. O terceiro já fala em redemocratização. Os
Cadernos comemoram 25 anos, pouco depois dos 25 anos do AI-5. Por terem surgido no
período ditatorial, foram muito orientados pela luta contra o regime autoritário,
utilizando a força das idéias. Ao mesmo tempo, o CEAS e os Cadernos continuavam
uma reflexão a nível de Igreja que a crise e o fechamento da Ação Católica, em 1968,
interromperam. O CEAS é, de certo modo, um fruto da Ação Católica. Eu era dirigente
da Juventude Independente Católica, a JIC, dos profissionais liberais, e havia
participado do esforço de criação de uma publicação chamada Hoje no Mundo.
Chegamos a editar seis números. Cláudio havia sido assistente da Juventude
Universitária Católica, a JUC, no Rio Grande do Sul.
Cláudio - Completo dizendo que havia, dentro da orientação geral dos jesuítas da
América Latina que refletiam sobre a problemática social, o desejo de divulgar a
doutrina social da Igreja, aplicando-a à situação do Nordeste. Isto mostra o nível
bastante teórico e idealista da época, para não dizer alienado, no sentido de o grupo da
Redação pensar ser possível influir na mudança da sociedade nordestina simplesmente
através da aplicação de orientações gerais, patrimônio da Doutrina Social da Igreja. A
orientação foi logo corrigida, porque o contato - saudável e indispensável - com a
realidade concreta mostrou a complexidade da situação e a necessidade de aprimorar a

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