Introdução

AutorJosé Antônio Ribeiro de Oliveira Silva
Ocupação do AutorJuiz do Trabalho, Titular da 2ª Vara do Trabalho de Araraquara (SP), Gestor Regional (1º grau) do Programa de Prevenção de Acidentes do Trabalho instituído pelo Tribunal Superior do Trabalho
Páginas21-24

Page 21

O objetivo principal desta obra é a análise científica da jornada de trabalho em suas mais variadas vertentes, sobretudo no que diz respeito à limitação do tempo de trabalho e sua relação direta com a proteção à saúde dos trabalhadores e outros direitos fundamentais interconectados.

Há que se destacar, de início, que a jornada de trabalho - assim como o salário - é o aspecto das condições de trabalho que tem a mais direta e perceptível repercussão sobre a vida do trabalhador. A quantidade de horas de trabalho e a forma em que elas são distribuídas, por suposto, influem na saúde e na segurança do trabalhador, bem como no tempo livre disponível para o desenvolvimento de suas atividades pessoais, familiares e sociais, de modo que o tempo de trabalho está diretamente relacionado com as condições de bem-estar do trabalhador. É necessário ressaltar: o trabalhador não perde sua condição humana quando vende parte de seu tempo de vida ao empregador em troca de salário. Como alguns doutrinadores têm sustentado: há de se trabalhar para viver, não viver para trabalhar.

Sem embargo, com a passagem à era pós-industrial, no chamado pós-fordismo, e a flexibilização desmedida da normativa sobre jornada de trabalho, os horários de trabalho passaram a ser cada vez mais extensos e, ao mesmo tempo, oscilantes durante a jornada, diária, semanal ou anual, na vertente qualitativa da jornada de trabalho, sobretudo a partir da anualização promovida na década de 1990. O resultado que hoje em dia se constata é o de que a flexibilização, defendida como único meio de suplantar as crises econômicas e o grave problema do desemprego, em lugar de solucionar os problemas, agravou de tal forma a situação dos trabalhadores que atualmente se tem verificado um quadro devastador de desemprego massivo ou estrutural - veja-se o caso da Espanha -, o aumento das desigualdades sociais e da miséria e o que é ainda mais grave: um quadro assustador de acidentes e doenças ocupacionais.

Faz-se necessário, portanto, pesquisar as estatísticas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, porém, cotejando-as com as estatísticas de jornadas de trabalho, para verificar em que medida as extensas jornadas, sem as pausas adequadas e o descanso suficiente, têm contribuído para o aumento dos infortúnios laborais e para o agravamento das condições de vida dos trabalhadores.

O método a ser utilizado nesse estudo é o indutivo, pois se pretende, a partir da análise das estatísticas, apontar a possível influência da flexibilização da normativa sobre jornada de trabalho no aumento da quantidade de referidos infortúnios. Por suposto que, diante dos resultados dessa investigação, recorrer-se-á ao método sistemático de interpretação do Direito, estudando-se as regras e os princípios do sistema relacionados à matéria para definir todos os bens jurídicos implicados, recorrendo-se, a partir daí, também ao método dedutivo, pois, definidos os direitos fundamentais assegurados pela Constituição, toda a normativa infraconstitucional sobre jornada de trabalho terá que se adequar aos...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT