O Boi Balão

AutorCora Coralina
CargoPoetisa goiana
Páginas291-296

Ver notas 1 y 2

Page 291

Novos ainda, saíam eles da "zona velha" onde tinham nascido e se criado. Na crise medonha do café, de 29, o pai ficará liquidado e só salvou mesmo, por milagre, o carro de boi, a carreta e os próprios bois que tinham emprestado para um vizinho e que esse, vendo as coisas malparadas, segurou e só entregou depois de tudo o serenado.

A fazenda, seus talhões de café, benfeitorias, animais, carroças, carroções e ferramentas, colônias e coloniais de casa, tudo foi de "porteira fechada". O dono saiu de bolso limpo, de nome limpo e sem dívidas. "Bom demais", pensou ele.

A filha mais velha já estava casada e os filhos moços e fortes, acostumados com o pesado da fazenda; que fizessem pela vida...

O credor tinha sido o próprio banco. Só que banco não quer fazenda, não tem carteira especializada para isso. Banco o quer é mesmo seu dinheiro limpo e escorrido. Reconhecendo a capacidade honesta do devedor, as circunstâncias excepcionais daquela má liquidação, considerou mais vantajoso receber fazenda de forma condicional. Combinou com devedor para ele continuar na gerência, o preposto de confiança e ele, contemple com os lucros, pagar a dívida, o financiamento

Page 292

precisa para ter a fazenda em produção; e depois de tudo liquidado, receber seu título de quitação ficava, de novo, dono do seu.

O Fazendeiro concordou. Só não quis que os filhos ficassem ali, ajudando a pagar a dívida.

Tinha uma gleba no sertão, terra nova, mataria de primeira, na variante da Noroeste, onde estavam se abrindo novos patrimônios.

Qualquer estação inaugurada virava cidade, bastando que as terras de roda fossem boas. Por toda parte eram os corretores com seus mapas, sua boa propaganda, vendendo lotes a prestação e dando esperanças de graça.

Além dos agentes capacitados, agenciadores de empreiteiros recrutando trabalhadores braçais para o avançamento, as derrubadas, tiração de toras, lavragens dormentes.

Muita gente esperta já ia na frente do picadão, se firmando de posses e de cadernetas.

Conversou com os filhos. Que fossem, aventurassem. Dava a eles a gleba inculta. Metessem o peito e fizessem pela vida. Dava mais; o carro, a carreta, os bois e o cachorro. Ele ficaria ali no posto para salvar a fazenda. Falaram com o Severino. O preto, criado junto com os meninos, aceitou de ir com o Cizino e o Rogério, aonde eles fossem, no oco do mundo, até a barra dos infernos. Combinados, arrumaram no carro o que de mais precisava. Cobertas, redes suas mudas de roupa, algum traste à-toa, panelas, latas, mantimentos, sal, fumo, coisarada...

Que não esquecessem o saco de semente de capim, recomendou o pai...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT