Os sujeitos que nunca foram históricos ? uma crítica do marxismo eurocêntrico

AutorJoão Aldeia - Elísio Estanque
CargoMestrando em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), licenciado em sociologia na mesma instituição, em Portugal - Doutor em Sociologia pela Universidade de Coimbra (UC). Sociólogo especializado em questões de trabalho, sindicalismo, desigualdades, movimentos e classes sociais. Professor do departamento de ...
Páginas34-59
DOI:10.5007/1807-1384.2011v8n2p34
OS SUJEITOS QUE NUNCA FORAM HISTÓRICOS UMA CRÍTICA DO
MARXISMO EUROCÊNTRICO
THE SUBJECTS WHO HAVE NEVER BEEN HISTORICAL A CRITICISM TO
EUROCENTRIC MARXISM
LOS SUJETOS QUE NUNCA FUERON HISTÓRICOS UNA CRÍTICA AL
MARXISMO EUROCÉNTRICO
João Aldeia1
Elísio Estanque2
Tinha estudado com fervor e com vaidade quase todas as pági nas de não sei que
manual comunista; o materialismo dialéctico servia-lhe para encerrar qualquer
discussão. As razões que pode ter um homem para odiar outro ou para gostar dele
são infinitas: Moon reduzia a história universal a um sórdido conflito económico.
Afirmava que a revolução está predestinada a triunfar. Eu disse-lhe que a um
gentleman só podem interessar causas perdidas...
Jorge Luis Borges, “A forma da espada”, in Ficções
... Mr. Marx has said: Socialism is INEVITABLE. Why I myself am a testament to
its increasing influence. I am un doutably a product o f the middle classes yet none
espouse socialism more volubly than I.
My point precisely, Mr. Lees. My point precisely.
What do you mean?
I mean MOST socialists are midd le class... your late friend Mr. Hardie for one. Mr.
Ramsay, leader-of-his-majesty’s-bloomin’-opposition Macdonald for another. Now,
meself, I come from a working family. We vote Tory, always have done . The working
class don’t WANT a revolution Mr. Lees: they just want more money.
Alan Moore, From Hell
RESUMO:
Apesar das suas limitações, o marxismo clássico continua a ser uma teoria
imprescindível para apreender criticamente a contemporaneidade. Contudo,
determinados dos seus pressupostos são insustentáveis. Partindo de uma crítica
construtiva do marxismo, nomeadamente ao seu carácter eurocentrado, este texto
procura desconstruir a noção do proletariado como sujeito histórico, considerando-a
empiricamente inverificável. Não havendo grupos predestinados a conduzir o
processo de mudança sócio-histórica, a emancipação real dos oprimidos do mundo
1 Mestrando em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC),
licenciado em sociologia na mesma instituição, em Portugal. E-mail: alvesaldeia@gmail.com
2 Doutor em Sociologia pela Universidade de Coimbra (UC). Sociólogo especializado em questões de
trabalho, sindicalismo, desigualdades, movimentos e classes sociais. Professor do departamento de
Sociologia da FEUC e investigador no Centro de Estudos Sociais (CES) da UC, Portugal. E-mail:
elisio.estanque@gmail.com
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
35
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.8, n.1, p.34-59, jan/jul. 2011
tem forçosamente que articular as lutas das classes trabalhadoras com as de todos
os outros grupos dominados no sistema-mundo.
Palavras-chave: Classe trabalhadora. Emancipação. Eurocentrismo. Marxismo.
Sujeito histórico.
ABSTRACT:
Despite its limitations, classical Marxism remains an essential theory for the critical
understanding of contemporaneity. However, some of its assumptions are
unsustainable. Starting from a constructive criticism of Marxism, namely of its
Eurocentered nature, this article attempts to deconstruct the notion of the proletariat
as historical subject, considering it empirically unverifiable. If there are no groups
destined to lead the process of socio-historical change, the real emancipation of the
oppressed of the world has necessarily to articulate the struggles of the working
classes with those of all the other dominated groups in the world-system.
Key words: Working class. Emancipation. Eurocentrism. Marxism. Historical
Subject.
RESUMEN:
A pesar de sus limitaciones, el marxismo clásico sigue siendo una teoría esencial
para la comprensión crítica de la contemporaneidad. Sin embargo, algunos de sus
supuestos son insostenibles. Desde una crítica constructiva del marxismo, en
particular su carácter euro centrado, este artículo pretende deconstruir la noción del
proletariado como sujeto histórico, considerándolo empíricamente inverificable. Si
ningún grupo es predestinado a conducir el proceso de cambio socio-histórico, la
emancipación real de todos los oprimidos del mundo tiene que articular las luchas de
las clases obreras con las de todos los demás grupos dominados en el sistema-
mundo.
Palabras claves: Clase obrera. Emancipación. Eurocentrismo. Marxismo. Sujeto
histórico.
CONSTRUIR O MARXISMO COMO PROCESSO PARA DEIXAR DE LHE
CHAMAR MARXISMO
De acordo com Wright e Burawoy (2001, p.459-461), quatro posturas básicas
existem nas discussões sobre o marxismo clássico como teoria social.3 (1) A
primeira delas uma postura que pode, por vezes, assumir contornos dogmáticos
ou ideológicos passa por uma tentativa de propagar o marxismo, i.e., de o tornar
cognitivamente acessível a todos os grupos sociais, particularmente às classes
oprimidas, partindo do princípio de que este é uma teoria completa do mundo social
e do capitalismo em particular. (2) Em segundo lugar, é também notória a tentativa
de enterrar o marxismo, apresentando-o como uma teoria que, mais do que ser
3 Burawoy (2000) identifica somente três destas perspectivas sob designações diferentes das que
surgem em Wright e Burawoy (2001) , ignorando a propagação do marx ismo.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT