O sagrado na modernidade técnica

AutorFranz Josef Bruseke
CargoFranz Josef Brüseke leciona sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas1-21
ISSN 1678-7730 N. 70 – FPOLIS, MAIO 2005.
O SAGRADO NA MODERNIDADE TÉCNICA
FRANZ BRÜSEKE
Editor
Profa. Dra. Luzinete Simões Minella
Conselho Editorial
Prof. Dr. Rafael Raffaelli
Prof. Dr. Héctor Ricardo Leis
Profa. Dra. Júlia Silvia Guivant
Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe
Profa. Dra. Miriam Grossi
Prof. Dr. Selvino José Assmann
Editores Assistentes
Cláudia Hausman Silveira
José Eliézer Mikosz
Silmara Cimbalista
Secretária Executiva
Liana Bergmann
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O SAGRADO NA MODERNIDADE TÉCNICA1
Franz J. Brüseke 2
A discussão sobre “os rastros do sagrado na modernidade” (Kamper, 1987) ou
sobre o suposto “retorno do sagrado” perdeu muito do seu fôlego inicial e alguns já podem
suspeitar que o interesse pelo assunto deve-se, mais uma vez, a tendência do grande
público de aderir às modas intelectuais do momento para abandoná-los sem cerimônia
quando a próxima “nouvelle vague” aparece no horizonte. A hora parece então oportuna
de tentar verificar os pontos de vista essenciais sobre o sagrado e sua relação tensa com
a ciência moderna e a técnica. Pois, também, este nosso empreendimento pode somente
ser provisório e faz parte de um debate que está longe de terminar.
O fato que a discussão sobre o “sagrado” atraiu centenas de intelectuais, entre
eles os mais renomados sociólogos, antropólogos e teólogos contemporâneos, abriu de
forma significativa o caráter das abordagens disciplinares sobre o sagrado. Foram
revisitadas as abordagens “clássicas”, por muitos já esquecidas ou simplesmente
desconhecidas, da sociologia e antropologia. Emile Durkheim (1912/1973) com as suas
formas elementares da vida religiosa, foi o ponto de partida de autores tão diferentes
como Roger Bastide (1958/2001), Georges Bataille (1974; 1993), René Girard (1990),
Roger Caillois (1950) e muitos outros. Marcel Mauss (1902/1974), influenciado por
Durkheim, preparou por sua vez o chão da sociologia da religião de Durkheim com a sua
teoria sobre a magia e o mana. Foram os trabalhos destes autores, de língua francesa,
responsáveis por um entendimento do sagrado enquanto resultado do imaginário coletivo.
Por outro lado, serviram as referências a Max Weber e sua complexa sociologia da
religião como suporte da tese da racionalização crescente e do desencantamento do
mundo. Mírcea Eliade (1992) escapa nas suas análises das hierofanias de um sócio-
centrismo estreito e consegue apresentar o sagrado no papel de um sujeito poderoso.
Neste plano de interpretação fica a sociologia tradicional sem resposta, refere-se entre as
linhas, como Weber, aos “demônios” e “últimos valores” que são, em princípio, fora do
alcance da racionalidade e recomenda, conforme as formulações de Wittgenstein: silêncio
1 Palestra proferida no SBS 2003 - mesa coordenada por Héctor Ricardo Leis (UFSC)
2 Franz Josef Brüseke leciona sociologia na Universidade Federal de Santa Catarina; e-mail:
bruseke@brturbo.com

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