Considerações sobre a responsabilidade social das empresas em contextos de desigualdade e exclusão

AutorAna Maria Kirschner
CargoDoutora em Sociologia pela Université de Paris III. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.
Páginas99-116
Dossiê
Considerações sobre a responsabilidade
social das empresas em contextos de
desigualdade e exclusão
Ana Maria Kirschner*
Resumo
No Brasil, a responsabilidade social da empresa (RSE) tem sido incentivada
pelo Estado. As empresas hoje enfrentam desafios éticos para a dimensão
econômica, ambiental e social nos negócios e precisam se articular com
governos e comunidades, até mesmo como forma de buscar legitimidade
na sociedade. Porém há que se sublinhar que está tornando-se comum os
poderes públicos apelarem para a ajuda financeira de empresas. Os casos
analisados – o Projeto Mais Vida desenvolvido pela Unilever em Araçoiaba
(PE) e o trabalho feito em torno da Mina de Brucutu em São Gonçalo do
Rio Baixo (MG) pela Companhia Vale do Rio Doce – foram escolhidos em
função das parcerias estabelecidas.
Palavras-chave: responsabilidade social da empresa, obrigações legais,
parcerias, comunidade, poder público.
1. Introdução
Ian Davis, presidente mundial da McKinsey, a mais respeitada con-
sultoria internacional de estratégia, afirmou num artigo da revista
inglesa The Economist que dar atenção a temas sociais está se
tornando uma questão de sobrevivência para o mundo corporativo.
“A empresa que ignora esses temas está fechando os olhos para as
forças que definirão seu futuro”, escreveu Davis. Segundo ele, o
desafio é encarar o relacionamento próximo com a sociedade não
como ameaça, mas como oportunidade para desenvolver negócios
* Doutora em Sociologia pela Université de Paris III. Professora do Programa
de Pós-Gradu ação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.
Endereço eletrônico: ana.k@uol.com.br.
100 p. 99 – 116
Volume 8 – Nº 15 – outubro de 2009
e gerar benefícios que possam ser compartilhados. A idéia ainda
encontra resistência nas empresas. Muitos executivos, por exemplo,
defendem a tese do americano Milton Friedman, prêmio Nobel de
economia, para quem as organizações devem se preocupar em
cumprir as leis e gerar lucro para o acionista -- nada mais do que
isso.” (EXAME, 29/06/2006).
No Brasil, a responsabilidade social da empresa (RSE) tem sido
incentivada pelo Estado. As empresas hoje enfrentam desafios
éticos para a dimensão econômica, ambiental e social nos negócios
e precisam articular-se com governos e comunidades, até mesmo
como forma de buscar legitimidade na sociedade. Porém, há que
se sublinhar que está tornando-se comum os poderes públicos
apelarem para a ajuda financeira de empresas. Os casos analisados
foram escolhidos em função das parcerias estabelecidas.
A RSE é uma noção cuja circulação e difusão tem sido intensa
e rápida, e tem dado margem a muitos equívocos. A empresa hoje
deve ser considerada extra-muros para fins de análise, porque tem
que conciliar seus interesses com os interesses dos diferentes atores
com quem interage. Atualmente, a empresa é solicitada de muitas
maneiras; ela torna-se mais próxima da sociedade e tem mais visi-
bilidade. Por diferentes razões, empresários – individualmente ou
por meio de suas organizações – sentem necessidade de melhorar
sua imagem atuando no social (KIRSCHNER, 2006).
Neste artigo, primeiramente formularemos algumas hipóte-
ses para explicar esta valorização social que a empresa adquiriu ao
longo de cerca de vinte anos. Em seguida questionamos a noção
de responsabilidade social da empresa, e mostramos como as
ações sociais das empresas são limitadas e necessitam de institui-
ções políticas que formulem regras claras e que sejam atuantes.
Considera-se que a RSE resulta de vários fatores, dentre os quais
salientamos como o mais importante a implementação das políticas
neoliberais no Brasil a partir dos anos 90, que reduziram muito as
intervenções sociais do Estado. Selecionamos alguns casos de RSE
que envolvem parcerias de empresas com órgãos públicos, ou com
organizações não-governamentais (ONG), ou com outras empresas
privadas. Levantamos algumas questões, diante do muito que já foi
questionado, discutido e empiricamente feito pelas empresas. O

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