Posicionamento no sistema mundial e semiperiferia
Autor | Pedro Garrido da Costa Lima |
Cargo | Mestre em Economia, UFF. Rua Araújo Leitão, 176/405, Engenho Novo. Rio de Janeiro |
Páginas | 58-85 |
POSICIONAMENTO NO SISTEMA MUNDIAL E
SEMIPERIFERIA
Pedro Garrido C Lima1
Resumo
No presente artigo, objetiva-se examinar a existência de agrupamentos de
países, em especial os semiperiféricos, na distribuição da renda na econo-
mia mundial a partir de perspectiva sistêmica derivada das contribuições da
Análise de Sistemas-mundo. Os conceitos de Revolução Científico-Técnica
e da nova Divisão Internacional do Trabalho são também relevantes para a
análise. Assim, foi desenvolvida nova metodologia baseada na operaciona-
lização de Arrighi & Drangel (1986) com o fim de se avaliar a estratificação
centro-semiperiferia-periferia prevista na teoria. Por meio de técnicas ex-
ploratórias de dados como a análise de clusters, foram encontrados grupos
estáveis representativos de estrutura polarizada e da estrutura triádica no
período 1950-2003. A consideração de dados relativos às atividades indus-
triais e ao comércio em nível mundial pode auxiliar definição mais precisa do
posicionamento dos países. Por último, observa-se o caráter semiperiférico
do Brasil, marcado por heterogeneidade na produção interna e na inserção
nas cadeias mundiais de mercadorias.
Palavras-chave: economia mundial, estratificação, cadeias de mercadorias,
semiperiferia, análise de clusters.
Classificação JEL: O14, P51
1 Mestre em Economia, UFF. Rua Araújo Leitão, 176/405, Engenho Novo. Rio de Janeiro, RJ. Tel. (21) 2581-2610.
pedrogcl@uol.com.br.
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Posicionamento no sistema mundial e semiperiferia
Textos de Economia, Florianópolis, v.10, n.2, p.58-85, jul./dez.2007
1. INTRODUÇÃO
A partir da perspectiva sistêmica, examinam-se a operacionalização
do conceito de cadeias de mercadorias e a classificação dos países no sis-
tema mundial, em especial os semiperiféricos. Os conceitos definidos por
Wallerstein (1974, 1979, 1985, 2004) e a solução apontada por Arrighi &
Drangel (1986) são avaliados com o intuito de se desenvolver método de
classificação complementar ao dos últimos autores. Outros conceitos, como
a Revolução Científico-Técnica e a nova Divisão Internacional do Trabalho,
constituem útil consideração para a análise da semiperiferia em relação ao
deslocamento da produção manufatureira mundial. Por meio de técnicas
exploratórias e de dados que permitem tratamento abrangente e de longa
duração, são verificadas diversas proposições quanto à estratificação do
sistema. Além da produção em geral, a consideração de dados relativos às
atividades industriais e ao comércio em nível mundial pode auxiliar defi-
nição mais precisa do posicionamento dos países. Por último, observa-se o
caráter semiperiférico do Brasil, marcado por heterogeneidade na produção
interna e na inserção nas cadeias mundiais de mercadorias.
2. ANÁLISE DE SISTEMAS-MUNDO
A noção de Sistema-mundo (World-System) de Wallerstein corresponde
a determinada idéia de sistema social com estruturas definidas em bases
materiais. Essa base constitui a economia-mundo (économie-monde) de
Braudel, que é entendida por Wallerstein (2004, p. 23) como uma zona
geográfica extensa na qual existe uma divisão do trabalho e, conseqüente-
mente, significativo intercâmbio interno de bens básicos e essenciais assim
como fluxos de capital e trabalho. A divisão existente implica desigualdade
e tentativa de exploração dos diferentes trabalhos com o intuito de se obter
mais valor excedente. Recordando Braudel (1979, III, p. 35), “toute écono-
mie-monde est un emboîtement, une juxtaposition de zones liées ensemble,
mais à des niveaux différents”2.
2 “toda economia-mundo é uma incrustação, uma justaposição de zonas ligadas conjuntamente, mas em níveis di-
ferentes”. Todas as traduções de trechos em outras línguas, e que aparecerão em pé de página ao longo do artigo,
foram realizadas pelo próprio autor.
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