Popper, Hayek e a (im)possibilidade de predições específicas em Ciências Sociais

AutorBrena Paula Magno Fernandez
CargoUniversidade Federal de Santa Catarina
Páginas1-18
Popper, Hayek e a (Im)Possibilidade de Predições Específicas em
Ciências Sociais
Brena Paula Magno Fernandez
Universidade Federal de Santa Catarina
RESUMO
Em suas duas obras de meados dos anos quarenta (A Miséria do Historicismo e A Sociedade
Aberta e seus Inimigos) Popper defende a posição de que não existem diferenças metodológicas ou
epistemológicas significativas entre as ciências naturais e sociais. Cada uma delas teria como objetivo
elaborar explicações causais dos fenômenos observados e a seguir testá-los por meio de predições
específicas. Em seus últimos ensaios, entretanto, esse ponto de vista é reformulado, já que a importância
da causalidade é enfraquecida frente a necessidade do falseacionismo.
Hayek, por seu turno, em seus trabalhos sobre a metodologia das ciências sociais, sempre
defendeu que as predições nessa classe de fenômenos (que ele classifica como complexos) não podem
se referir a eventos discretos, mas sim à classes de eventos. Meu objetivo é confrontar essas duas
posições, argumentando que Popper gradualmente incorpora as propostas de Hayek
PALAVRAS CHAVE: Monismo Metodológico, Fenômenos Complexos, Previsões de Padrões de
ocorrência, Karl Popper, Friedrich von Hayek.
1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como proposta a discussão metodológica dos problemas sociais.
A idéia central é analisar comparativamente a posição de dois autores que se ocuparam
com essa questão. Por um lado, um dos filósofos de maior influência em nosso século –
o professor Karl Popper, e de outro seu amigo pessoal, o economista austríaco Friedrich
von Hayek, laureado com o Prêmio Nobel de 1974.
Em suas duas primeiras obras de maior repercussão (A Miséria do Historicismo
e A Sociedade Aberta e seus Inimigos), Popper coloca-se declaradamente na posição
de defensor da unicidade metodológica para todas as ciências. Naquele momento, em
que pese sua já presente preocupação com a necessidade do falseacionismo, o método
científico consiste, para ele, sobretudo no modelo hipotético-dedutivo de explicação,
comum a todos os ramos de investigação.
V Encontro Nacional de Economia Política – SEP, 20 a 26 de junho de 2000, Fortaleza – CE. A autora agradece ao
Prof. Gustavo Andrés Caponi, orientador da tese que deu origem a esse trabalho.
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Sendo assim, qualquer cientista, pertencesse ele ao âmbito natural ou social,
deveria estar interessado fundamentalmente na explicação causal e, como consequência,
na previsão de eventos específicos em suas respectivas áreas de conhecimento, já que
explicação e previsão são, segundo essa abordagem, logicamente equivalentes e
corresponderiam tão somente a “dois lados da mesma moeda”.
Como contraponto a essa visão, von Hayek ao longo de sua vida acadêmica
sempre defendeu um posicionamento bastante diverso. Para esse autor, existiriam
limitações intrínsecas nas esferas biológica e social que justificariam a defesa de um
dualismo metodológico.
Basicamente, von Hayek argumenta que, em decorrência de determinadas
particularidades no âmbito da vida e da sociedade (fenômenos que ele caracteriza como
complexos), o cientista não estaria autorizado a fazer previsões de eventos particulares,
restando como alternativa a “previsão de padrões” de ocorrência desses fenômenos.
Após analisar a teoria hayekiana dos fenômenos complexos, partimos para a
discussão de três momentos da posição de Popper no que toca a questão do método em
ciências sociais. Procuramos defender a seguinte posição: ao longo da evolução de sua
reflexão metodológica, o que de início se mostrava uma veemente defesa de um
isomorfismo lógico entre os métodos das ciências naturais e sociais foi paulatinamente
enfraquecendo até o ponto em que, nos seus ensaios do final dos anos sessenta, o
amadurecimento dos conceitos de “análise situacional” e “compreensão objetiva” torna-
se já a concessão de um dualismo metodológico entre essas áreas do conhecimento,
incorporando, entretanto, as exigências do falseacionismo.
O objetivo geral deste trabalho é argumentar como, no decorrer deste caminho,
juntamente com o afrouxamento de sua defesa da unidade do método científico
(entendido como a necessidade do aparato hipotético-dedutivo), sua ênfase inicial na
possibilidade de predição de eventos específicos no âmbito das ciências sociais debilita-
se de tal forma que Popper se vê obrigado a abandoná-la, e a juntar-se a von Hayek na
proposta menos ambiciosa de “previsão de padrões” para as ciências da sociedade.
2. HAYEK -- A TEORIA DOS FENÔMENOS COMPLEXOS
Hayek propõe uma distinção fundamental e irredutível entre aquilo que ele
denomina de fenômenos de regularidades simples ou estruturas essencialmente simples

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