Perséfone, o folclore, o nó

AutorLarissa Costa da Mata
Páginas140-157
doi:10.5007/1984-784X.2014v14n22p140
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|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 14, n. 22, p. 140-157, 2014|
PERSÉFONE, O FOLCLORE, O NÓ
Larissa Costa da Mata
RESUMO: Este ensaio se propõe a investigar a presença do verde e da primavera ou seja, do mito
de Perséfone nos textos de Mário de Andrade, especialmente por meio de seu contato com o es-
tudo O ramo de ouro (1890), de Sir James Frazer, bem como do desdobramento da concepção de
verde em intelectuais como Georges Bataille, Carl Einstein, André Gide e Victoria Ocampo. A leitura
da obra de Frazer forneceu a principal matéria para os estudos de Andrade sobre o folclore, tais como
as Danças dramáticas do Brasil (1959), e para a tentativa de se transformar esse saber em uma
disciplina. O verde em Andrade, como veremos, demonstra uma interpretação da sobrevivência como
a permanência de um elemento fixo e originário, e do povo como passível de ser representado pela
forma.
PALAVRAS-CHAVE: Mário de Andrade. Folclore. Verde.
PERSEPHONE, FOLKLORE, KNOT
ABSTRACT: This essay aims to investigate the traces of ‘green’ and Spring that is, the myth of
Persephone on a few texts by Mário de Andrade, especially by means of his contact with The
Golden Bough (1890), by sir James Frazer, as well as the developments of a conception of ‘green’ in
intellectuals such as Georges Bataille, Carl Einstein, André Gide and Victoria Ocampo. The Golden
Bough has given the main substance to Andrade’s studies on Folklore, as the Brazilian Dramatic
Dances (1959), and to his attempt to transform Folklore into a subject. As we may see, Andrade’s
interpretation of ‘green’ resulted in a perspective of survival as the permanence of a fixed and pri-
mary element, and of people subject to be represented by form.
KEYWORDS: Mário de Andrade. Folklore. Green.
Larissa Costa da Mata é doutora em Teoria da Literatura. Foi professora leitora de Estudos Brasileiros
na Universidade de Pequim entre abril de 2013 e julho de 2014.
doi:10.5007/1984-784X.2014v14n22p140
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PERSÉFONE, O FOLCLORE, O NÓ
Larissa Costa da Mata
O rouxinol pode ser substituído a) pela rosa, b) pelos seios,
mas nunca pelas pernas, pois o rouxinol existe, precisamente,
para que possamos evitar nomear os fatos. O rouxinol per-
tence ao inventário dos desvios burgueses por meio dos quais
procura-se sugerir coisas lascivas, mesmo quando aparente-
mente afasta-se delas. O rouxinol é, possivelmente, também o
signo da fadiga erótica.
Rouxinol, Carl Einstein
PERSÉFONE
A ninfa Perséfone, conhecida em Roma como Prosérpina, evoca o sub-
terrâneo e o pútrido, mas também o constante florescer, a transformação do
meio; sendo luz e sombra, nascimento e morte segundo a leitura do mito
por James Frazer, que, antes de dedicar-se à antropologia, preparara uma edi-
ção do livro Descrição da Grécia em 1884.1 Segundo Homero, citado em O
ramo de ouro (1890), Perséfone colhia flores quando foi levada por Plutão (ou
Hades) ao inferno; a sua mãe, Deméter, ameaçou estragar a colheita até que a
filha retornasse. O deus cedeu à ameaça e decidiu entregá-la, contanto que
ela deixasse o reino em jejum.2 No entanto, a jovem devorara sete caroços de
romã e é denunciada por Ascaláfio, o que a impediu de partir definitivamente,
salvo durante os meses da primavera (seis ou três, dependendo da versão).3
As interpretações do nascimento da primavera coincidem com duas concep-
ções diversas da origem, uma que privilegia os seus retornos periódicos e a
celebração do começo por meio da forma (a de Mário de Andrade, Victoria
Uma versão mais breve e inicial deste texto foi apresentada no II Seminário dos Alunos do
Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina e publi-
cada nos Anais do evento em 2012.
1 STOCKING, George Ward. After Tylor. British Social Anthropology (1888-1951). Madison:
The University of Wisconsin Press, 1995.
2 FRAZER, James. The Golden Bough. A Study in Magic and Religion. New York: The Macmillan
Company, 1945. (Abridged Edition)
3 CASCUDO, Luís da Câmara. Superstição no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1985.
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