A vertigem da ostensão penal

AutorAugusto Jobim do Amaral
CargoDoutor em Altos Estudos Contemporâneos (Ciência Política, História Contemporânea e Estudos Internacionais Comparativos) pela Universidade de Coimbra (Portugal)
Páginas500-517
Augusto Jobim do Amaral - A Vertigem da Ostensão Penal
500
ISSN Eletrônico 2175-0491
A Vertigem dA OstensãO PenAl
THE PASSION FOR CRIMINAL OSTENSION
EL VÉRTIGO DE LA OSTENSIÓN PENAL
Augusto Jobim do Amaral1
RESUMO
O artigo examina o esplendor da cultura punitiva contemporânea, em especial analisa as demandas
punitivas e a formação disponível na sua profunda aclamação populista     
impotência coletiva em tornar os direitos humanos uma medida de ação política concreta para além da
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na atual vontade de punir, a radical vertigem da ostensão penal.
PALAVRAS-CHAVE: Ostensão Penal. Populismo Punitivo. Política Criminal.
ABSTRACT
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demands and the formation available in its deep populist acclaim. Finally, after presenting the collective
powerlessness to turn human rights into a concrete policy beyond the criminal approach, it studies the
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radical passion for criminal ostension.
KEYWORDS: Criminal Ostension. Punitive Populism. Criminal Policy.
RESUMEN
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punitivas    aclamación populista. Por último, tras presentar la
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delineando en la actual voluntad de punir el radical vértigo de la ostensión penal.
PALABRAS CLAVE:
INTRODUÇÃO: TRAÇOS PARA UMA HIPÓTESE
Os feixes de força de uma sociedade securitária em escala mundial, sua dinâmica, metamorfose
e sobreposição, tem evidente importância problemática quando se perquire acerca de questões
atinentes à teoria política, às ciências criminais ou mesmo aos direitos humanos. Por seu turno, é
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nacionais Comparativos) pela Universidade de Coimbra (Portugal); Mestre em Ciências Criminais pela
 
PUCRS, Especialista em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra e Professor
do Departamento de Direito Penal e Processo Penal da PUCRS (augusto.amaral@pucrs.br)
501
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Disponível em: www.univali.br/periodicos
carrega consigo um imenso vetor de representação de poder político pronto a ser impulsionado
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ligação genuína entre desejo e poder se dá. O discurso penal é lugar, pois, em que rapidamente são
revelados os mais profundos anseios, inclusive aqueles de emancipação. A linguagem da punição,
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sabe desde tempos que o discurso não é simplesmente aquilo que manifesta ou oculta o desejo,
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O(A) DIREITO(A) PENAL DA ESQUERDA PUNITIVA
Tais considerações prévias assinalam a necessidade de renovar, dando mais fortes tintas ao
alerta levantado por Karam sobre o fenômeno que ela chamou de “esquerda punitiva”. Por certo,
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contra “os de cima”. Explica-se melhor. Em linhas sintéticas, o que marca a dita esquerda punitiva,
segundo a autora, é a “reivindicação de extensão da reação punitiva a condutas tradicionalmente
imunes à intervenção do sistema penal”.3
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para a preocupação pela chamada criminalidade dourada, tocadamente, os abusos do poder político
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matéria penal. Nada menos porque, ao incentivar o rompimento com imprescindíveis liberdades
fundamentais do Estado de Direito, no entusiasmo de atingir aqueles menos afetados pelo sistema
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sistema penal, exatamente sobre os “clientes” de sempre4 do sistema que sofrem cotidianamente
a sua intensa ingerência.
As (nem tão) novas formações de uma tendência punitiva à esquerda, outra face da crença
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sob a capa de uma leitura da Constituição e de uma necessidade de substituir as ideias liberais e
individualistas sobre os direitos fundamentais com concepções que façam atuar os direitos sociais,
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penal um suposto instrumento de transformação social ou emancipação dos oprimidos.5
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neste viés, no máximo, é a punição de um ou outro membro de algum estrato menos atingido. Nos
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2 FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso 
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3 KARAM, Maria Lúcia. A esquerda punitiva. In: Discursos Sediciosos: crime, direito e sociedade, ano

4 BATISTA, Nilo. Punidos e Mal Pagos   
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sobre a Liberdade
6 Nunca é demais ressaltar o aspecto nada contingente, mas estrutural da seletividade do sistema penal
e, sobremaneira, a ilusão da falta de cobertura
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– Teoria Geral do Direito Penal.
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(comp.). Derechos Fundamentales y Derecho Penal. 
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