Candidato herói (?): A busca por um ?salvador da pátria' na democracia político-partidária brasileira

AutorAnna Paula Masiero Rigo Nass
CargoFaculdade de Direito de Vitória
Páginas273-291
P A N Ó P T I C A
Panóptica, Vitória, vol. 7, n. 2 (n. 24), 2012
ISSN 1980-775
CANDIDATO HERÓI (?): A BUSCA POR UM ‘SALVADOR DA
PÁTRIA’ NA DEMOCRACIA POLÍTICO-PARTIDÁRIA BRASILEIRA
Faculdade de Direito de Vitória
1. INTRODUÇÃO
O eleitorado brasileiro apresenta um aspecto próprio, correlacionado a sua cultura de
crenças. Há cidadãos que acreditam ‘piamente’ na boa-fé de terceiros, sejam eles quem for,
incluindo suas promessas e até inverdades, pela simples confiança na palavra.
Outros acreditam que determinadas pessoas, em especial, se forem às chamadas ‘pessoas
estudadas’, ou até mesmo por um carisma inerente a eles, seriam as solucionadoras dos
problemas do mundo, sendo nestes casos comparados a verdadeiros heróis.
O aspecto do heroísmo nos acompanha desde a infância até a vida adulta. O herói se
apresenta sobre vários perfis: pode ser aquele que consideramos o nosso porto seguro ou
exemplo a ser seguido, quando nos referimos à figura do “Pai-herói”, ou ainda, quando nos
remetemos ao salvador do mundo e da moral/honestidade, através do combate a corrupção
como “homem morcego”, mais conhecido por “Batman”.
Ultrapassando o mundo imaginário, aprendemos na escola, que no decorrer da história as
grandes rupturas patriotas no campo político advieram através de heróis da nação, sendo
pontuado, oportunamente, neste trabalho através da figura de Dom Pedro I que declarou a
independência do Brasil, eternizando este momento através do grito do Ipiranga:
“Independência ou morte” – salvando o povo brasileiro da tirania de Portugal e nos livrando
das mazelas da colonização.
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Panóptica, Vitória, vol. 7, n. 1 (n. 23), 2012
ISSN 1980-775
Todavia, a busca por um novo herói libertador das mazelas da modernidade e da corrupção,
hoje se mantém presente no espírito do povo brasileiro, o qual elegeu novamente no
universo imaginário o ‘destemido capitão nascimento’. Entretanto, esse ideal não soluciona
os problemas reais de pobreza, violência, corrupção, dentre outros problemas que afligem o
povo.
A esperança da salvação, contudo, continua existindo, e associada ao surgimento de um
herói, condição inclusive sendo explorada em campanhas políticas, citem-se, a exemplo, os
casos de Claudinho Gaspar, candidato em São Paulo que se transforma no poderoso ‘Hulk’,
e Valtinho, candidato de Tocantins que se veste de Lanterna Verde, ambos sendo heróis na
proteção ao meio ambiente pelo Partido Verde (PV) 1.
Talvez, todos esses enraizamentos culturais vêm a explicar porque no Brasil, a escolha do
voto, acaba por direcionar-se na ‘pessoa do candidato’, ao invés do partido político e suas
ideologias, contrassenso que se impõe, haja vista que nossa estrutura democrático-
representativa se funda na democracia político-partidária o que significa dizer que, quando
votamos no candidato, votamos automaticamente no partido político ao qual ele se filia.
A filiação partidária se apresenta não apenas como uma peça importante para a democracia
brasileira, mas como um pressuposto de elegibilidade previsto no artigo 14 §3º inc. V2 da
Constituição Federal de 1988. Nesse compasso, a dimensão de sua importância melhor se
visualiza no Sistema Eleitoral vigente, onde a intermediação partidária é a fonte primária
norteadora para a escolha dos candidatos que se propõe, no desígnio de sua ideologia,
salvaguardando suas ideias em coerência com o perfil do partido político a que deseja se
filiar, demonstrando ao cidadão quais são suas intenções governamentais.
Ante a temática apresentada, a proposta de debate permeia a formação da democracia
político-partidária e os sistemas eleitorais vigentes no país, confrontando a escolha do
eleitorado na ‘pessoa do candidato’, baseada em suas promessas heroicas solucionadoras dos
1 BERCITO, Diogo. Candidatos brasileiros apelam para os super-heróis. Folha de São Paulo. São Paulo, 27
set. 2010. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br> . Acesso em: 20 jul. 2012.
2 Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual
para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...]§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: [...] V - a
filiação partidária.

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