Cultura Organizacional e Irresponsabilidade Social: Documentários Cinematográficos

AutorSérgio Luís Boeira, Yeda Maria Pereira Pavão, Ana Lúcia de Araújo Lima Coelho, Dênio Murilo de Aguiar
CargoDoutor em ciências humanas pela UFSC e trabalha na Universidade do Vale do Itajaí (PPGA e PMGPP). - Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração e Turismo pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). - Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração e Turismo pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). - Doutorando do ...
Páginas292-318
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 292-318, jan/jun. 2010
Cultura Organizacional e Irresponsabilidade Social: Documentários
Cinematográficos
Organizational Culture and Social Irresponsibility: Documentary
Films
Sérgio Luís Boeira1
Yeda Maria Pereira Pavão2
Ana Lúcia de Araújo Lima Coelho3
Dênio Murilo de Aguiar 4
RESUMO
Nos últimos anos um fenômeno cinematográfico tem marcado a indústria do
management e a opinião pública mundial: é um conjunto de documentários que
revela o lado sombrio e frequentemente corrupto, sarcástico, prepotente,
manipulador e explorador das grandes corporações. É o avesso da responsabilidade
social corporativa. O objetivo desse estudo é compreender os aspectos culturais e
teórico-paradigmáticos das organizações por intermédio da análise comparativa de
quatro documentários reconhecidos por sua qualidade cinematográfica. Os filmes
foram selecionados também pelo critério cronológico e histórico, ou seja, de 2004 a
2007, período que antecedeu a maior crise financeira e de credibilidade dos
mercados em nível mundial. Em segundo plano, foi feita uma crítica das três teorias
dominantes sobre cultura organizacional abordagem da integração, da
diferenciação e da fragmentação , tomando-se como referência o paradigma da
complexidade. A análise comparativa procurou mostrar aspectos convergentes e
algumas diferenças entre os filmes, o que caracteriza o referido fenômeno.
Palavras-chave: Documentários. Cultura Organizacional. Corporações.
ABSTRACT
In recent years a film phenomenon has marked the management industry and world
public opinion: it is a series of documentaries that reveal the dark side and often
corrupt, sarcastic, arrogant, manipulative and exploitative of large corporations. It is
the opposite of corporate social responsibility. The aim of this study is to understand
the cultural and theoretical paradigm of organizations through the comparative
analysis of four documentary films known for their cinematic quality. The films were
1 Doutor em ciências humanas pela UFSC e trabalha na Universidade do Vale do Itajaí (PPGA e
PMGPP). E-mail: sergio.l.boeira@redelnet.com.br
2Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração e Turismo pela Universidade do Vale
do Itajaí (UNIVALI). Professora da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão
(FECILCAM). E-mail: yedapavao@gmail.com
3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração e Turismo pela Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI). Professora da Universidade Federal do Acre (UFAC). Email:
alalcoelho@gmail.com
4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Administração e Turismo pela Universidade do
Vale do Itajaí (UNIVALI). E-mail: denio.Murilo.01@terra.com.br
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 292-318, jan/jun. 2010
also selected by the chronology and history from 2004 to 2007 a period that
preceded the biggest crisis of credibility and financial markets worldwide. In the
background, was a critique of the three dominant theories of organizational culture -
approach to integration, differentiation and fragmentation , taking as reference the
paradigm of complexity. The comparative analysis aimed to show the commonalities
and differences between the films, which characterizes such phenomena.
Keywords: Documentary. Organizational Culture. Corporations.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos um fenômeno sobre a indústria do management tem sido
apresentado nos cinemas e videolocadoras: filmes documentários que mostram o
lado sombrio, corrupto, sarcástico, prepotente, agressivo, manipulador e explorador
da cultura organizacional de grandes corporações. É o avesso da chamada
responsabilidade social corporativa que paradoxalmente também ganha destaque
nos últimos anos, com o estímulo dos governos e sob a exigência da sociedade civil.
As imagens, os depoimentos, as revelações, são impressionantes. Referimo-nos
especificamente aos seguintes filmes, que foram objetos desse estudo: The
Corporation (2004), Enron: Os Mais Espertos da Sala (2005), Quem Matou o Carro
Elétrico? (2006) e Sicko - $.O.$. Saúde (2007). O livro Corporate Crime and
Violence: Big Business Power and The Abuse of the Public Trust, de Russel
Mokhiber (1988, publicado no Brasil em 1995) constitui-se como uma das obras
pioneiras na análise crítica de grandes empresas, em geral norte-americanas, mas
com atuação e influência em diversos países. A crítica da dominação das empresas
multinacionais sobre os indivíduos já havia sido analisada por Pagès et al. (1987).
Chanlat et al. (1996; 2008a; 2008b) fizeram análises sobre as chamadas “dimensões
esquecidas” nas organizações, destacando as limitações do paradigma funcionalista
no campo de Estudos Organizacionais. No Brasil, Roberto Heloani (2003) chamou
atenção para o tema da manipulação psicológica no mundo do trabalho, no contexto
do capitalismo globalizado. Mas o que está agora posto em evidência por filmes
documentários é algo diferente em escala e em intensidade. Não se trata, nos filmes
analisados, de aspectos culturais ou psicossociais limitados ao interior das
organizações, embora estes sejam muito relevantes. O fenômeno dos
documentários apresenta um desafio aos estudiosos por apontar, como fez
Mokhiber, as relações entre o espaço público e os espaços privados, entre as
corporações, o Estado e a sociedade civil, envolvendo várias empresas e setores

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