A Normalidade do Business no Ensino da Administração e a Marginalização do Público e do Social

AutorMarcos Adller de Almeida Nascimento - Maria Arlete Duarte de Araújo
CargoUniversidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor do Departamento de Ciências Sociais e Humanas. Currais Novos. Rio Grande do Norte. Brasil - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Titular do Departamento de Ciências Administrativas. Natal. Rio Grande do Norte. Brasil
Páginas137-153
Artigo recebido em: 17/03/2015
Aceito em: 11/02/2016
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2016v18n44p137
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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A NORMALIDADE DO BUSINESS NO
ENSINO DA ADMINISTRAÇÃO E A MARGINALIZAÇÃO DO
PÚBLICO E DO SOCIAL
The Business of Addiction in Management Education and the
Public and Social Marginalization
Marcos Adller de Almeida Nascimento
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor do Departamento de Ciências Sociais e Humanas. Currais Novos. Rio
Grande do Norte. Brasil. E-mail: adller_almeida@yahoo.com.br
Maria Arlete Duarte de Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Titular do Departamento de Ciências Administrativas. Natal. Rio Grande do
Norte. Brasil. E-mail: mariaarlete@gmail.com
Resumo
A hipótese norteadora deste percurso investigativo é
a de que Cursos de Administração em universidades
públicas brasileiras apresentam matrizes curriculares que
privilegiam o espaço privado e a economia de mercado
em detrimento dos temas da Administração Pública (AP)
e do ambiente de sua congênere, a Gestão Social (GS).
O objetivo do artigo é, então, compreender o espaço
que o ensino de conteúdos da administração pública
ocupa em cursos de administração “generalistas”. Em
linhas gerais, os resultados alcançados corroboram
com a hipótese de que a disciplina de Administração
Pública é pouco explorada em processos generalistas de
ensino-aprendizagem na graduação de administração.
Palavras-chave: Administração Pública. Ensino de
Administração. Mercadocentrismo.
Abstract
The guiding hypothesis of this researching is that
Administration courses in Brazilian public universities
have curriculum matrices that favor the private space
and the market economy to the detriment of the themes
of the Public Administration and the environment of
its counterpart, the Social Management. The aim of
the paper is then to understand the space that the
government teaching content occupies in “general”
management courses. In general, the results obtained
corroborate the hypothesis that the discipline of Public
Administration is little explored in teaching-learning
processes in general management degree.
Keywords: Public Administration. Management
Education. Market Hegemony.
138 Revista de Ciências da Administração • v. 18, n. 44, p. 137-153, abril 2016
Marcos Adller de Almeida Nascimento • Maria Arlete Duarte de Araújo
1 INTRODUÇÃO
A Resolução n. 4/2005 do Conselho Nacional de
Educação, ao instituir as novas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) para os Cursos de Administração, na
modalidade Bacharelado, dispõe – em seus terceiros
parágrafos do artigo 2º e artigo 3º – a respeito da
pluralidade de campos de atuação a ser observada no
processo de formação de administradores. No artigo
2º, a Resolução estabelece que as linhas de formação
específica nas diversas áreas da Administração não
devem ser empregadas na formatação de cursos com
habilitações particulares. Nesse sentido, as Diretrizes
Curriculares vigentes para os cursos de Administração
sustentam o viés generalista da formação de adminis-
tradores. O artigo 3º é ainda mais incisivo no que toca
à necessidade de reserva do aspecto multiorganizacio-
nal no âmbito do ensino superior em Administração
quando afirma:
O Curso de Graduação em Administração deve
ensejar, como perfil desejado do formando,
capacitação e aptidão para compreender as
questões científicas, técnicas, sociais e econô-
micas da produção e de seu gerenciamento,
observados níveis graduais do processo de
tomada de decisão, bem como para desen-
volver gerenciamento qualitativo e adequado,
revelando a assimilação de novas informações
e apresentando flexibilidade intelectual e adap-
tabilidade contextualizada no trato de situações
diversas, presentes ou emergentes, nos vários
segmentos do campo de atuação do admi-
nistrador. (ANGRAD, 2005, p. 2, grifo nosso)
O que se entende a partir da expressão “[...]
vários segmentos do campo de atuação do admi-
nistrador”? A Resolução n. 4/2005, neste recorte do
artigo 3º, faz menção à divisão tradicional, ou seja,
às áreas funcionais a partir das quais a Administração
é operacionalizada (marketing, finanças, produção,
recursos humanos etc.)? É factível ampliar essa com-
preensão, restritiva da multidisciplinaridade da atuação
do administrador à dimensão funcional, ao nível da
diversidade relativa à natureza das organizações nas
quais o administrador pode atuar?
Considera-se, portanto, que a prevalência do
viés hegemônico do paradigma de mercado se cons-
titui componente redutor da complexidade inerente à
dinâmica interorganizacional a que deve responder o
processo de formação do administrador, independente-
mente da raiz epistemológica a qual se vincule o projeto
político pedagógico dos cursos. Lopes (2006, p. 5), cri-
tica o aspecto restritivo ao qual se submete o argumento
de que o exercício profissional do administrador se dá
em contextos organizacionais intransigentes e atrelados
a processos decisórios pré-definidos.
O exercício profissional da Administração ocorre
num contexto novo de grande dinamismo eco-
nômico e de rápidas mudanças no ambiente dos
negócios, de modo que se definem exigências
mais amplas que a simples utilização de um
arsenal de técnicas gerenciais, subdividido em
áreas específicas da organização, aplicáveis em
contextos decisórios pré-definidos.
Assim, considera-se essencial à consecução do
objetivo de formação integral do administrador a
manutenção ou a inclusão de estratégias e conteúdos
formativos que lancem luz sobre as interfaces próprias
das relações interorganizacionais, de modo que sejam
evidenciadas as recíprocas dependências que transpas-
sam os setores público, privado e social.
Neste artigo, essa discussão encontra refúgio e se
assenta sobre a ideia de que os Cursos de Graduação
em Administração devem viabilizar uma experiência de-
mocrática de conhecimento no universo organizacional.
A hipótese norteadora deste percurso investigati-
vo é a de que cursos de Administração em universida-
des públicas brasileiras apresentam matrizes curricula-
res que privilegiam o espaço privado e a economia de
mercado em detrimento dos temas da Administração
Pública (AP) e do ambiente de sua congênere, a Gestão
Social (GS). A cobertura de conteúdos obrigatórios
voltados às discussões sobre a Administração Pública e
a Gestão Social em currículos de Cursos de Graduação
em Administração é, pois, o foco da análise sustentada
por esta pesquisa.
Coelho (2006), em sua tese de doutoramento,
produziu análises acerca do desenvolvimento do
ensino superior no campo da Administração Pública.
A temática de estudo do professor Fernando Coelho
trata, no entanto, da evolução e panorama do ensino
de Administração Pública por meio de estruturas cur-
riculares dedicadas, particulares. Este artigo reveste-se
de outro sentido na medida em que objetiva discutir
o espaço que o ensino da Administração Pública e da

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