Michel Foucault e a genealogia como crítica do presente

AutorSelvino José Assmann - Nei Antonio Nunes
CargoDoutor em Filosofia (Pontificia Università Lateranense, PUL, Itália), professor titular em Filosofia da História do Departamento de Filosofia (UFSC), professor do Doutorado Interdisciplinar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (UFSC) - Bacharel em Filosofia (UFSC), Mestre em Educação (UFSC), Professor de Filosofia Política e Ética na UNISU...
Páginas1-21
MICHEL FOUCAULT E A GENEALOGIA COMO CRÍTICA DO PRESENTE
MICHEL FOUCAULT AND THE GENEALOGY AS A CRITICISM OF THE PRESENT
MICHEL FOUCAULT Y LA GENEALOGÍA COMO CRÍTICA DEL PRESENTE
Selvino José Assmann
Nei Antonio Nunes
♦♦
Resumo
O presente artigo procura analisar a crítica à Modernidade expressa na genealogia
foucaultiana. Nesse intento discutimos a “re-leitura” que Foucault faz do artigo kantiano sobre
a Aufklärung e, mesmo que de maneira introdutória, do dandismo de Baudelaire. Para tanto,
enfatizamos preliminarmente a “analítica da verdade” e a contextualização, feita pelo
pensador francês, do papel social do intelectual à luz das grandes transformações dos
saberes e das práticas de poder nas últimas décadas. Por fim, sugerimos que ao
problematizar a Aufklärung e, assim, inquirir os excessos da racionalidade moderna, Foucault
como genealogista procura reavaliar o campo de possibilidades das práticas de liberdade,
sustentando o exercício da crítica como êthos filosófico, necessário na redefinição das
“governabilidades” e dos compromissos ético-políticos assumidos pelos sujeitos nos mais
diferentes espaços sociais.
Palavras-chave: Crítica genealógica, Aufklärung e Modernidade.
Abstract
The main goal of this paper is to analyze the criticism to modernity that is in Foucault’s
genealogy. First we discuss Focault’s analysis of Kant’s article on Aufklärung and
Baudelaire’s concept of dandy. So, we focus gave emphasis the “truth analytic” and its
contextualization made by Foucault of the social role of an intellectual in the light of the great
changes in knowledge and in the practices of power in the last decades. To conclude, we
suggest that, by studying the Aufklärung investigating the excess of modern racionality,
Foucault tries to reassess the possibilities of freedom practices, sustaining the criticism
Doutor em Filosofia (Pontificia Università Lateranense, PUL, Itália), professor titular em Filosofia da História do
Departamento de Filosofia (UFSC), professor do Doutorado Interdisciplinar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas
(UFSC). E-mail: selvino@cfh.ufsc.br
♦♦ Bacharel em Filosofia (UFSC), Mestre em Educação (UFSC), Professor de Filosofia Política e Ética na UNISUL e
pesquisador do Instituto SARAPIQUÁ–IPPSEA. E-mail: neinunes@bol.com.br
2
exercise as philosophical ethos. This is needed to redefine the governability and ethical and
political commitments made by the agents in different social places.
Keywords: Genealogical criticism; Aufklärung; Modernity
Resumen
El presente artículo pretende hacer un análisis de la crítica a la Modernidad expresa en la
genealogía foucaultiana. En ese intento discutimos la “re-lectura” que Foucault hace del
artículo kantiano sobre la Aufklärung y aún que de manera introductoria, del dandismo de
Baudelaire. Para tanto, enfatizamos preliminarmente la “analítica de la verdad” y la
contextualización elaboradas por el pensador francés, del rol social del intelectual a la luz de
las grandes transformaciones de los saberes y de las prácticas de poder en las últimas
décadas. Finalmente, sugerimos que al problematizar la Aufklärung y, así, inquirir los
excesos de la racionalidad moderna, Foucault como genealólogo procura reevaluar el campo
de posibilidades de las prácticas de liberdad, sosteniendo el ejercicio de la crítica como êthos
filosófico, necesario en la redefinición de las “gobernabilidades” y de los compromisos ético-
políticos asumidos por los sujetos en los más distintos espacios sociales.
Palabras-clave: Crítica genealógica, Aufklärung y Modernidad.
I) A “Verdade” problematizada pela crítica genealógica
Uma das marcas do século XX foi, sem dúvida, a significativa profusão de teorias
sociais que objetivaram refletir e, porque não dizer, apontar respostas aos problemas
contemporâneos, fossem eles de ordem política, ética ou epistemológica. Assim como Kant
no século XVIII, e Hannah Arendt nesse último século, o filósofo Michel Foucault – 1926-
1984 – foi um desses pensadores que instituiu como tarefa filosófica inquirir o seu tempo,
buscando a compreensão da atualidade. Aliás, como Hannah Arendt, Foucault, sobretudo a
partir da década de 70, vê na política o espaço de constituição e problematização da
verdade, na ordem dos saberes e poderes, bem como o campo pelo qual gravitam os
grandes dilemas éticos que envolvem a liberdade humana1.
É possível dizer que a singularidade das análises políticas de Michel Foucault fica
evidenciada tanto nos deslocamentos que ele efetua no campo de investigação, quanto na
interpretação – enquanto “diagnóstico” – dos fenômenos sociais. O “sentido” dos fenômenos
sociais e históricos, muitas vezes estranho a regularidade das grandes “máscaras sociais”
expressas na pretensão de explicação total por parte de tantas metanarrativas modernas –, é
inquirido pelo genealogista como práticas de relações de forças, na ordem dos poderes e

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT