Lei do Progresso

Páginas309-381
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Código de Direito Natural Espírita
CAPÍTULO III
LEI DO PROGRESSO
I  ESTADO NATURAL E LEI NATURAL
(O Livro dos Espíritos, itens 776 a 778)
Artigo 31  O estado natural é o estado primitivo. A civilização é
incompatível com o estado natural, enquanto que a lei natural contribui
para o progresso da Humanidade.
Parágrafo único  O estado natural é a infância da Humanidade e
o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. O homem,
sendo perfectível e trazendo em si o germe de seu melhoramento, não foi
destinado a viver perpetuamente no estado natural, como não foi destinado
a viver perpetuamente na infância. O estado natural é transitório e o homem
o deixa pelo progresso e civilização. A lei natural, pelo contrário, rege toda
a condição humana e o homem se melhora na medida em que melhor
compreenda e melhor pratica essa lei.
31.1  Dois livros, duas teorias... um novo rumo...  Explanação
de Hebe Laghi de Souza no livro Darwin e Kardec  Um Diálogo Possível,
Editora CEAK, Campinas, 1ª. edição, 2002, págs. 15 e seguintes:
Há pouco mais de um século, entre 1857 e 1859 a publicação de
dois livros, um deles na França, O Livro dos Espíritos, escrito por Allan
Kardec e o outro na Inglaterra, A Origem das Espécies, por Charles
Darwin, foram os marcos de uma grande reviravolta na história intelectual
e espiritual da humanidade.
O conteúdo que traziam foi capaz de não somente abalar toda a
estrutura da mentalidade humana, mas, também, de mudar a compreensão
do ser humano sobre si próprio e de seu lugar no universo.
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José Fleurí Queiroz
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Na época em que foram lançados, porém, não foram facilmente
aceitos, além de criarem controvérsias e discussões nos meios científico e
religioso, numa luta não pouco acirrada do materialismo contra o idealismo
religioso; do pensamento científico, que apresentava uma nova versão
para a origem do homem, e do kardecismo, que trazia uma nova ideia de
Deus, do universo e do próprio homem.
Para podermos entender um pouco melhor todo o impacto que
causaram na época, deixemo-nos transportar no tempo e tentemos
participar, sutilmente, dos pensamentos e sentimentos que permeavam a
mente de toda a sociedade em meados do século passado (XIX). Uma vez
estando lá, vamos procurar sentir aquela atmosfera que preenchia os salões
onde as pessoas mais nobres e bem posicionadas na vida, entre risos e
vozes, recendendo a falsa modéstia, discorriam sobre os mais variados
assuntos, distribuindo largamente entre si as novidades mais recentes.
Era um povo que, na maioria, frequentava os cultos religiosos, lia a
Bíblia e, em suas críticas, rejeitava quaisquer sugestões que fossem contra
a moral e a fé. Com isso, apesar de nem sempre as atitudes serem reflexos
de um sentimento verdadeiro, as pessoas sentiam-se justificadas perante
seu Deus, ainda que lhes importassem mais as opiniões alheias do que
realmente as suas próprias, perante suas consciências.
(...) Embalados pela ideia de terem sido criados como seres especiais,
com o mundo a seu dispor e uma alma cujo destino era alcançar o paraíso,
sentiam-se na obrigação de ter como verdade somente os antigos textos
sagrados, considerando qualquer fato, qualquer menção contrária ou, que
pudesse pô-los em dúvida, como um artefato demoníaco. Firmavam-se
mais no medo do que no verdadeiro amor a Deus e isso os impedia de
abrirem os olhos e analisarem o mundo, a vida e o Grande Autor de tudo,
de maneira diversa daquela na qual eram tão arraigados.
Foram dois livros e duas teorias que, independentemente do impacto
causado, apontaram para um novo modo de olhar a vida e de entendê-la.
Uma delas indicava o ser humano para mostrá-lo como animal, e tão-
somente animal, descendente de animais; a outra o revelava como ser
espiritual, não importando a origem material de seu corpo, não importando
sua vestimenta animal.
Detonando o orgulho: a teoria darwinista
Penso que vale a pena continuarmos mais um pouco no meio daquela
sociedade tão ufana de sua origem especial, tão crente de ter sido criada à
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Código de Direito Natural Espírita
imagem e semelhança de Deus, para imaginar a expressão de espanto, de
patético desespero, muitas vezes retratado na maioria dos livros que
abordam o assunto com uma história contada como anedota: diz-se que
uma lady inglesa, ao ser informada das teorias de Darwin, exclamou:
Descendentes de gorilas! Meu caro, espero que não seja verdade. Mas se
for, rezemos para que isso não se torne público. Imaginem, gorilas, criaturas
tão sujas, malcheirosas e lascivas não mereciam estar nem mesmo num
zoológico! E Darwin havia proposto um ancestral comum para os homens
e gorilas, proposição que foi confundida com os homens descendem dos
gorilas.
Dentro de todo o contexto que trazia a teoria de Darwin, nada mais
fez que explodir, como poderosa bomba, toda a vaidade que reinava na
época, detonando o orgulho, abrindo largas portas para conflitos, dúvidas
e temores sem limites. Arrancava o ser humano do pedestal onde julgava
estar, mostrando a vida como uma longa escalada a subir; uma escalada
que provinha do mais ínfimo organismo para chegar ao Homem que,
apesar de posicionado em um degrau superior, ainda deveria continuar
progredindo.
Pior ainda para os líderes da Igreja, posto que se viram na
contingência de uma desestruturação completa do que haviam professado
e pregado. Perceberam-se em perigo quanto às bases de sua doutrina e,
possuídos pelo temor, voltaram-se contra aquela inusitada teoria, com toda
a hostilidade que conseguiram arrebanhar. É, portanto, fácil de se imaginar
quantos conflitos, quantas opiniões contraditórias, quanta agressividade
dominou o espírito daqueles religiosos.
Tudo o que Darwin escrevera estava muito bem documentado: O
homem descendia de símios.
Darwin, porém, deixou que toda aquela hostilidade passasse ao largo.
Tudo o que havia escrito havia sido muito bem documentado e, afinal, ele
não poderia mudar a história.
O homem, como sua teoria demonstrava de forma clara e categórica,
descendia de símios, independentemente de que isso pudesse jogar por
terra toda a pretensão de uma divindade ou a esperança de um augusto
destino rumo à eternidade. Ele estava consciente de que a aceitação desse
pensamento implicava, automaticamente, a renegação de qualquer conexão
com a existência divina. Entendia, da mesma forma, que o mais humilhante
para as sociedades humanas era a afronta de considerar o ser humano

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