História e saberes Psi - considerações interdisciplinares

AutorJosé D'Assunção Barros
CargoDoutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor-Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em História. Professor-Colaborador do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em História Social pela ...
Páginas252-285
DOI:10.5007/1807-1384.2011v8n2p252
HISTÓRIA E SABERES PSI CONSIDERAÇÕES INTERDISCIPLINARES
HISTORY AND PSI KNOWLEDGES INTERDISCIPLINARY CONSIDERATIONS
HISTÓRIA Y CONOCIMIENTOS PSI CONSIDERACIONES
INTERDISCIPLINARIAS
José D'Assunção Barros
1
RESUMO:
Este artigo busca examinar a relação interdisciplinar entre a História e os saberes
Psi, desenvolvendo um paralelo comparativo entre a História das Mentalidades, a
História do Imaginário e outras modalidades historiográficas que interagem com a
Psicologia. Busca-se esclarecer alguns aspectos centrais relacionados a estas
modalidades da História e discutir a historiografia pertinente a cada um destes
campos, de modo a examinar historiadores como Johannes Huizinga, Marc Bloch,
Lucien Febvre, Robert Mandrou, Carlo Ginzburg, Philippe Ariès, Michel Vovelle,
Georges Duby, Jacques Le Goff e Jean Delumeau, ao mesmo tempo em que são
discutidas influências como a de Carl Jung, Sigmund Freud, Jacques Lacan, Wilhelm
Reich e outros.
Palavras-chave: História do Imaginário. História das Mentalidades. Psicologia.
Interdisciplinaridade.
ABSTRACT:
This article aims to examine the interdisciplinary relations between History and psi
knowledge, attempting to elaborate a comparative parallel between History of
Mentalities, History of Imaginary, and also other historiographical modalities that
interact with Psychology. The intention is to clarify some central aspects related to
these fields of History and to discuss the historiography concerning each one of
these modalities, in order to examine authors as Johannes Huizinga, Marc Bloch,
Lucien Febvre, Robert Mandrou, Carlo Ginzburg, Philippe Ariès, Michel Vovelle,
Georges Duby, Jacques Le Goff e Jean Delumeau, and at the same time discuss
influences of Carl Jung, Sigmund Freud, Jacques Lacan, Wilhelm Reich and others.
Key Words: History of Imaginary, History of Mentalities, Psycho-History, Psychology,
Interdisciplinary relations.
1 Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor-Adjunto da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) nos cursos de Graduação e Pós -Graduação
em História. Professor-Colaborador do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em História Social pela Univer sidade Federal
Fluminense (UFF). E-mail: jose.assun@globo.com
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.8, n.2, p. 252-285, Jul./Dez. 2011
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RESUMEN:
Este artículo pretende analizar la relación interdisciplinar entre la Historia y los
conocimientos Psi, desarrollando un paralelo comparativo entre la Historia de las
Mentalidades, la Historia de lo Imaginario y otras modalidades historiográficas que
interaccionan con la Psicología. Se trata de aclarar algunos aspectos centrales
relacionados con estas modalidades historiográficas y discutir la historiografía
pertinente a cada uno de estos campos a fin de examinar historiadores tales como
Johannes Huizinga, Marc Bloch, Lucien Febvre, Robert Mandrou, Carlo Ginzburg,
Philippe Ariès, Michel Vovelle, Georges Duby, Jacques Le Goff y Jean Delumeau, al
mismo tiempo que discutiremos las influencias de autores como Carl Jung, Sigmund
Freud, Jacques Lacan, Wilhelm Reich y otros.
Palabras clave: Historia de lo Imaginario. Historia de las Mentalidades. Psicología.
Interdisciplinariedad.
OS DIÁLOGOS ENTRE HISTÓRIA E PSICOLOGIA NA HISTORIOGRAFIA
CONTEMPORÂNEA
História e Psicologia são duas ciências humanas que tradicionalmente
estudam os comportamentos dos homens em sua vida social, cada qual a seu modo
e dentro de suas próprias práticas e referências teóricas. Deste modo, não é de se
estranhar que estes dois campos do saber se vissem cada vez mais destinados a
interagir, à medida que, no decurso do século XX, a interdisciplinaridade foi se
destacando como uma tendência importante tanto para o desenvolvimento conjunto
dos saberes científicos como para, em particular, para os desenvolvimentos
específicos de uma historiografia mais moderna e complexa.
Foi dentro desta perspectiva que uma cooperação muito estreita entre
Psicologia e História começou a se consolidar através de obras importantes, ao
passo em que a historiografia da segunda metade do século XX assistia à
significativa emergência de campos do saber historiográfico que passaram a
valorizar o universo mental dos seres humanos em sociedade, os seus modos de
sentir, ou o Imaginário por eles elaborados coletivamente. Neste novo contexto, a
modalidades já tradicionais na historiografia como a História Política, a História
Econômica, a História Social, os novos historiadores propunham acrescentar a
História das Mentalidades, a Psico-História, a História do Imaginário. Teremos aqui
campos que, com alguma freqüência, se interpenetram no que concerne aos seus
objetos, às suas fontes privilegiadas, às suas abordagens e aos seus aportes
teóricos, às suas conexões com outros saberes e padrões de interdisciplinaridade.
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Contudo, cada um destes campos conserva suas singularidades e aspectos que nos
permitem separá-los entre si como espaços interdisciplinares diferenciados.
O objeto deste ensaio é, de um lado, clarificar as diferenças mais marcantes
entre as modalidades historiográficas que se colocam em uma interface mais
dinâmica com as disciplinas que constituem os chamados saberes Psi
2. Assim,
interessa-nos dar a perceber as singularidades que permitem distinguir,
reciprocamente, a História das Mentalidades, a História do Imaginário e a Psico-
História, e ao mesmo tempo considerar as semelhanças entre estes campos
historiográficos que atentam para os padrões humanos de sensibilidade, para os
modos de sentir e imaginários coletivos. De outro lado, também será nosso objetivo
avançar em uma reflexão mais sistemática de que mesmo as modalidades
historiográficas mais tradicionais, como por exemplo a História Social, também têm
se enriquecido de aportes teóricos inspirados na interação com a Psicologia. Por fim,
consideraremos ainda as situações em que pensadores primordialmente
relacionados aos saberes Psi produziram, eles mesmos, reflexões que, nos dias de
hoje, podem ser consideradas historiográficas de acordo com a tendência
contemporânea de conceber de modo mais complexo a história.
Será oportuno ainda mencionar que é grande o universo de psicólogos e outros
pensadores psi que apresentam preocupações análogas às dos historiadores sociais
para a compreensão de certas temáticas como a da criança, da família, da percepção
social do tempo e tantos outros objetos. No limite deste artigo, não poderemos abordar
todos. Apenas para lembrar um nome importante, mas no qual não nos deteremos,
podemos referenciar, por exemplo, Lev Vygotsky (1896-1934), um dos fundadores da
escola psicológica histórico-cultural e que sem mencionar os seus importantes
estudos sobre a psicologia da arte foi ele mesmo um dos pioneiros na percepção de
que o desenvolvimento intelectual e emocional de uma criança relaciona-se
intimamente às interações sociais e condições de vida. Esta relação entre a vida social
e o mundo mental em outras palavras, esta idéia de que a psique é socialmente
construída, e de que portanto é possível falar em uma “formação social da mente”
(VYGOTSKY, 1999) seria décadas depois, por um outro caminho e através de outros
2 Os saberes Psi se configuram no tripé Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia, bem como nas derivações
e subderivações destas abordagens. Na relação interdisciplinar com a História, tem sobressaído m ais o
diálogo com autores relacionados ao campo psicanalítico, sendo esta a razão pela qual o mencionamos
mais neste artigo. Isto posto, os diálogos interdisciplinares com quaisquer dos saberes Psi acham-se
propostos e abertos como possibilidades enriquecedoras para a historiografia vindoura.

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