Hegemonia ultraliberal e política pública de destruição do emprego - síntese

AutorMauricio Godinho Delgado
Páginas111-113

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A conjuntura do sistema capitalista, ao longo das dé cadas iniciadas em fins de 1970 e nos anos 1980, deu origem à realização de importantes acontecimentos

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e tendências de notável impacto no mundo do trabalho. A concentração de tais tendências e acontecimentos nesse curto período histórico fez brotar diagnóstico relativamente generalizado a respeito da presença de irremediável crise estrutural no tocante ao trabalho e ao emprego na atualidade do capitalismo.

Esse diagnóstico e o caráter sombrio de suas previsões, embora tendo, evidentemente, pontos de contato com a dinâmica atual do sistema socioeconômico prevalecente, acabam por traduzir, em boa medida, sagaz instrumento cultural no processo de combate ao primado do trabalho e do emprego no sistema capita lista contemporâneo.

A construção desse tipo de diagnóstico e de tais previsões som brias fundamenta-se em três eixos de argumentação, às vezes ex postos de maneira combinada: as mudanças provocadas pela terceira revolução tecnológica do capitalismo; as mudanças vinculadas à recente reestruturação empresarial, quer no plano da descentralização do empreendimento capitalista, quer no plano das alterações nos métodos e sistemas de gestão das empresas e de sua força de trabalho; a acentuação da concorrência capitalista, inclusive e espe cialmente no quadro do mercado mundial.

Esses três grandes fatores teriam dado origem a um desem prego estrutural no sistema capitalista, desemprego supostamente inevitável, ao lado de um processo irreprimível de perda de relevân cia, no sistema, da relação de emprego e do próprio trabalho.

A falácia desse tipo de argumentação - que atua muito mais como instrumento justificador e apologético de certo tipo desastro so de gestão pública da sociedade e do sistema econômico, que se tornou dominante na virada dos séculos xx/xxI - torna-se mais evidente quando se examina o tipo de política pública, notadamente econômico-financeira, seguida pelos Estados Nacionais capitalistas no mesmo período considerado, e seus gravíssimos efeitos sobre os níveis de desenvolvimento econômico e de emprego nas economias e sociedades envolvidas.

O curioso é que, não obstante haja notável coincidência temporal entre o profundo desemprego vivenciado por inúmeros países do Ocidente e o implemento rigoroso por seus respectivos Estados de inexpugnável política econômico-financeira de natureza liberal-monetarista, tal diagnóstico hegemônico e suas previsões sombrias...

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