O ensino da teoria sociológica em alguns cursos de ciências sociais de universidades públicas brasileiras

AutorMárcio de Oliveira
CargoProfessor Titular de Sociologia da Universidade Federal do Paraná, Brasil
Páginas87-113
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2015v14n31p87
8787 – 113
O ensino da teoria sociológica em
alguns cursos de Ciências Sociais de
universidades públicas brasileiras
Márcio de Oliveira1
Resumo
Este artigo tem por objeto analisar o lugar que o ensino da teoria sociológica ocupa nos
cursos superiores de Ciências Sociais, a partir do estudo de caso em algumas universidades
públicas brasileiras (Ceará, Pernambuco, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul). Para isso, inicialmente, analisamos a história dos estudos
teóricos, mapeamos os grupos de pesquisa e mostramos que a pesquisa ocupa um espa-
ço secundário na Sociologia brasileira. Analisando as grades curriculares dos cursos e as
ementas das disciplinas teóricas, mostramos que há muito espaço e tempo dedicado à te-
oria sociológica, em especial à teoria clássica, nos quatro primeiros semestres. Mostramos
que esse espaço, para os autores clássicos, apresenta formato e conteúdo semelhantes (em
geral, Marx, Weber e Durkheim), mas que são bem diversos em relação aos autores con-
temporâneos. Apesar da grande importância e do tempo dedicado ao ensino da teoria, não
há discussões formais sobre como ensinar em termos metodológicos e epistemológicos.
Palavras-chave: Curso de Ciências Sociais. Ensino. Teoria sociológica. Universidade.
1 Introdução
Nos últimos anos, a partir das novas orientações dos Parâmetros Curri-
culares Nacionais (PCNs) denidas pelo Ministério da Educação (MEC)2, as
discussões sobre os conteúdos a serem ensinados em aulas de Sociologia no
Ensino Médio ganharam bastante destaque. A Sociedade Brasileira de Socio-
logia também vem participando desse esforço, tendo, inclusive, criado um
fórum de debates permanente sobre o tema3. Contudo, todos esses debates
1 Professor Titular de Sociologia da Universidade Federal do Paraná, Brasil. E-mail:marciodeoliveira@ufpr,br
2 Esse compromisso foi f‌irmado após a aprovação, pelo Conselho Nacional da Educação (2006), do retorno do
ensino de Sociologia e Filosof‌ia ao Ensino Médio.
3 A entidade está presente igualmente nas discussões realizadas no âmbito do programa de incentivo à docência
no Ensino Médio (PIBID). A este respeito, ver a “Carta Aberta do Encontro Nacional do PIBID Ciências Sociais/
Sociologia”, no sítio web da entidade.
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têm por foco as metodologias de sala de aula e os temas especícos (violência,
gênero, juventude, cidadania, meio ambiente, entre outros), não particula-
rizando o ensino da teoria sociológica (CARVALHO, 2004, 2008; SILVA,
2010; OLIVEIRA, 2013). Mesmo no dossiê sobre o ensino da Sociologia
assim como no volume dedicado à Sociologia, no interior da coleção “Ex-
plorando o ensino” (MEC), ambos organizados por Moraes (2003, 2010), o
ensino da teoria sociológica e/ou a discussão metodológica sobre as formas de
ensinar a teoria também estão ausentes.
No Ensino Médio, como se pode deduzir de materiais produzidos por
professores4, dos livros analisados no Guia Nacional do Livro Didático (BRASIL,
2014)5 ou de alguns manuais de Sociologia escritos em português, hoje dis-
poníveis no mercado (COSTA, 1987; OLIVEIRA, 2001; FERREIRA, 2003;
OLIVEIRA, 2007; ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2010), a teoria ensinada
resume-se a uma apresentação de temas das obras dos autores clássicos mais
consagrados, Marx, Weber e Durkheim6 ou, ainda, apresenta os autores a par-
tir do tema da modernidade – como é o caso do livro “Tempos modernos e
tempos de sociologia” de Helena Bomeny et al. (2013) – ou do tema religião
– por exemplo, em Araújo, Bridi e Mottim (2013). É de se pensar que a apre-
sentação aprofundada da teoria sociológica não caberia nesse nível, visto que o
objetivo é introduzir a disciplina de uma forma atual e interativa, diferente as-
sim da perspectiva adotada no Ensino Superior. O que ocorre então neste ou-
tro nível de ensino? Em geral, o formato dos cursos de Ciências Sociais inicial-
mente prepara os alunos teórica e metodologicamente, para, depois, levá-los
às práticas de pesquisa durante os últimos semestres, pela realização do Tra-
balho de Conclusão do Curso (TCC) ou através das experiências de pesquisa
no interior dos grupos dos professores. O ensino da teoria sociológica no
Ensino Superior, tanto nos bacharelados quanto nas licenciaturas, simples-
mente não vem sendo objeto de debates nacionais, nem mesmo no interior da
4 A título de exemplo, o estado do Paraná encomendou a seus professores um manual. Das 280 páginas do
texto, apenas 18 são dedicadas à teoria sociológica e resumem-se a aspectos gerais das obras de Marx, Weber
e Durkheim. Na bibliograf‌ia, ver “Sociologia””.
5 Na edição 2015 do Guia Nacional, Sociologia, foram analisados seis livros impressos e quatro digitais. O Guia
e as análises estão disponíveis no sítio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação:
fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/5940-guia-pnld-2015>.
6 Uma escolha que sempre deixa “de lado” outros autores clássicos da Sociologia, como Georg Simmel, por
exemplo.
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recentemente criada Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais7. Para
se possibilitar uma visão mais completa do assunto, decidimos investigar os
diversos grupos de pesquisa em teoria no Diretório de Grupos de Pesquisa do
CNPq. Percebemos que o tema da teoria vem sendo efetivamente trabalhado,
mas ultrapassa em muito o escopo deste artigo estabelecer a relação entre essas
pesquisas e a realidade de sala de aula.
Por isso, mais modestamente, mostramos aqui que muito espaço e
tempo dedicado à teoria sociológica nos quatro primeiros semestres dos cursos
de Ciências Sociais no Ensino Superior brasileiro. Como um todo, o ensino
das teorias clássica e contemporânea tem formato semelhante – apresentação
da obra dos autores por meio de trechos ou capítulos selecionados – seja nas
disciplinas obrigatórias a eles dedicadas, seja nas disciplinas optativas. Além
disso, nas ementas das disciplinas optativas da Sociologia, há sempre um mo-
mento inicial de exposição dos textos teóricos – clássicos e contemporâneos
– fundadores daquele subcampo. Paradoxalmente, contudo, embora os clás-
sicos continuem sendo muito ensinados na graduação e citados nas teses de
pós-graduação8, praticamente não se discute o ensino da teoria em sala de
aula, ou seja, a análise das ementas das disciplinas obrigatórias dos cursos
selecionados mostra que há pouca reexão epistemológica e/ou metodológica
sobre as formas de se estudar e de se apresentar a teoria. Talvez essa realida-
de seja consequência da pequena institucionalização da pesquisa em teoria.
Com efeito, são poucos os grupos de pesquisa registrados hoje no Diretório
de Grupos do Conselho Nacional de Pesquisa Cientíca (CNPq), que se de-
dicam exclusivamente a pesquisar teoria sociológica. Em resumo, os autores
são ensinados, mas não se discutem os métodos para esse tipo de ensino. Da
mesma maneira, a pesquisa em teoria não aparece como campo especíco.
A teoria sociológica teria, então, se tornado uma referência incontornável, mas
não epistemologicamente problematizada? Este artigo enfrenta essas questões,
procurando responder: “quem são os teóricos clássicos e contemporâneos mais
estudados nos cursos de Ciências Sociais no Brasil de hoje? Que lugar e quanto
7 Para maiores informações, acesse: .
8 Em um artigo sobre autores clássicos citados por um mínimo de 30 teses defendidas entre 1991 e 1993 na área
de Ciências Sociais e estudos agrários, Melo (1999, p. 305) af‌irma que Max Weber aparece em 2º lugar, com
97 citações; Marx em 3º, com 95 citações; e Durkheim em 8º lugar, com 69 citações.
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tempo, na grade curricular, são reservados aos teóricos? Quais os conteúdos
mais presentes?”.
Apresentamos uma análise comparativa e não exaustiva sobre o lugar da
teoria sociológica (clássica e contemporânea) em alguns cursos de graduação
em Ciências Sociais no Brasil, selecionados de norte a sul do Brasil em fun-
ção das informações disponíveis nos sítios de internet, fato que permitiu mas
também limitou nossa análise. Para efeitos deste trabalho, limitamo-nos aos
cursos de Ciências Sociais das instituições públicas, com foco na formação do
bacharel9. Analisamos as grades dos cursos das universidades mais tradicio-
nais, mas também investigamos cursos de outras instituições, procurando res-
peitar a diversidade nacional. A escolha recaiu nos primeiros cursos de Ciên-
cias Sociais criados no Brasil, casos da Universidade de São Paulo (USP) e do
Rio de Janeiro (UFRJ). Desse momento em diante, escolhemos os cursos da
Universidade de Brasília (UnB), e das Universidades Federais do Ceará (UFC)
e Pernambuco (UFPE), no Nordeste, e do Rio Grande do Sul (UFRGS), de
Santa Catarina (UFSC) e do Paraná (UFPR), do sul do país. Nos cursos sele-
cionados, retiramos as informações trabalhadas dos próprios sítios mantidos
pelas universidades e pelos referidos cursos, já sabendo, de antemão, que essas
informações podem, eventualmente, não corresponder exatamente à realidade
de cada instituição. Cientes dessa diculdade, com os dados colhidos, nós
analisamos ementas, bibliograas e comparamos os semestres em que se en-
contram as disciplinas teóricas nas grades curriculares.
Abrimos esse artigo por uma contextualização sumária dos debates teóri-
cos na Sociologia brasileira e por uma apresentação geral da pesquisa em teoria
a partir da base de dados dos grupos de pesquisa registrados no Conselho
Nacional de Pesquisa Cientíca (CNPq).
2 A pesquisa em teoria sociológica no Brasil
Os livros e artigos sobre a história da Sociologia no Brasil (CÂNDIDO,
1957; MENEZES, 1965; CHACON, 1977; NOGUEIRA, 1981; MICELI,
1989, 1995, 1999; PESSANHA; VILLAS-BÔAS, 1995; LIEDKE FILHO,
2005; VILLAS-BÔAS, 2007) não mencionam, em detalhes, a trajetória do
9 Como regra geral, a formação de bacharel exclui as disciplinas pedagógicas e não habilita o formado à
prática docente no Ensino Médio; logo, para tal atividade, o aluno tem de se formar em licenciatura.
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campo da pesquisa em teoria sociológica. Não obstante, a pesquisa em teoria
sociológica está na origem e perpassa toda a obra de Florestan Fernandes. Alu-
no da primeira geração de professores estrangeiros – Lévi-Strauss, Roger Basti-
de, Donald Pierson, entre outros – o sociólogo paulista dedicou-se de maneira
especíca à teoria sociológica traduzindo (Marx, por exemplo) e publicando
quatro livros especícos sobre a questão: Fundamentos Empíricos da Explicação
Sociológica (1959), Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada (1960), Elementos de
Sociologia Teórica (1970) e A natureza sociológica da Sociologia (1980). Publi-
cou, ainda, inúmeros artigos e coordenou a coleção “Grandes Cientistas So-
ciais”, ainda hoje uma referência acadêmica e editorial em língua portuguesa
para os estudos dos autores clássicos e contemporâneos de Ciências Sociais10.
No início de sua formação, tanto em sua dissertação de mestrado quanto em
suas teses de doutorado e de livre-docência, transformadas posteriormente
em livros, grandes foram os espaços dedicados à discussão teórica. É o que
abordaremos a seguir.
A dissertação de mestrado e a tese de doutorado versaram sobre a socieda-
de Tupinambá. Simplicando, podemos armar que, no trabalho de mestrado
de Fernandes (1949) – A organização social dos Tupinambá –, há uma dispo-
sição de compreender a totalidade da organização indígena a partir de fontes
secundárias, enquanto que na tese de doutorado está em questão a função da
guerra como fato social total, ou seja, a guerra enquanto fato que permite com-
preender a trajetória social e história daquela sociedade indígena. Em ambas
as obras, a perspectiva funcionalista é clara. Peirano (1992, p. 54-84) defende
que esses trabalhos devem ser compreendidos como a fase antropológica de
Fernandes. Contudo, naqueles anos, as três áreas das Ciências Sociais ainda
estavam em processo de armação. Assim, Fernandes leu, releu e debateu in-
distintamente os principais clássicos da Sociologia, da Ciência Política e da
Antropologia, espelhando, de certa forma, o mundo acadêmico de pouca dife-
renciação disciplinar da primeira metade do século XX. A título de ilustração,
podemos lembrar que os debates teóricos em torno dos fundamentos funcio-
nalistas da explicação sociológica, travados por Fernandes (1949, 1952) tanto
na dissertação de mestrado quanto na tese de doutorado, têm por fundamento
10 Ver, também, A organização social dos Tupinambá (FERNANDES, 1949) e A Função Social da Guerr a (FER-
NANDES,1952).
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os trabalhos escritos e discutidos conjuntamente por Emile Durkheim e Mar-
cel Mauss nos anos em que estes viveram na cidade de Bordeaux (França)11:
O referencial teórico nesses dois trabalhos oscila entre Durkheim (especialmente as obras
A Divisão do Trabalho Social DTS, e As Regras do Método Sociológico RMS) e Mauss
(Manuel d´Ethnographie; Essaissurle Don; Essaissurlesvariationssaisonières.). Em ambos,
chama a atenção o pequeno número de referências diretas a Durkheim. Não obstante, a
inspiração é inegável, assentada tanto no conceito de representações, utilizado já em 1943,
quanto no método funcionalista. Segundo ele, o método funcionalista era quem permitia
“reconstruir as situações sociais e os comportamentos individuais ou coletivos desencadea-
dos pela guerra, ligá-los entre si de modo coerente com o contexto social e explicar causal-
mente a emergência e os efeitos sociais da guerra” (Fernandes, 1970: 17). Anos mais tarde,
Fernandes (1959) reúne em um mesmo livro diversos trabalhos, publicados entre 1953 e
1957, sobre os problemas da explicação sociológica – de fato, sobre os problemas da indu-
ção em Sociologia – nos três clássicos da Sociologia, Marx, Weber e Durkheim. A lógica
indutiva de Durkheim é analisada a partir de RSM e Montesquieu et Rousseau. Precurseurs
de la Sociologie. Ao f‌inal, Fernandes (1973: 83) af‌irma que a “ideia fundamental das RMS
consiste em que há entre os fenômenos sociais uma ordem própria, uma ordem sujeita ao
determinismo, isto é, uma ordem causal”. (OLIVEIRA, M. de, 2013).
Com efeito, os Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica (FER-
NANDES, 1959) não apresentam uma liação ou escolha teórica denitiva,
mas antes a maturidade intelectual do sociólogo paulista e talvez mesmo seu
desejo de participação na arena política12. A importância conferida aos três
clássicos da teoria sociológica, consolidada naqueles anos, permaneceria como
um dos legados mais importantes de Fernandes para a Sociologia brasileira.
Mas se o sociólogo paulista é sempre um caso ímpar e paradigmático, sua
obra não é um caso isolado. O interesse pela teoria sociológica esteve presente
em vários autores de sua própria época e posteriores, tais como: Fernando de
Azevedo, Raimundo Faoro, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Fernando Hen-
rique Cardoso, Otávio Ianni, Marialice Foracchi, Gabriel Cohn, entre outros.
Como exemplos dessa nova “fornada”, elegemos os casos de Raimundo Faoro,
Maria Isaura, Fernando Henrique e Otávio Ianni como os mais exemplares da
11 Para uma melhor apreciação da estreita relação pessoal entre Durkheim e Mauss, ver, entre outros, as biogra-
f‌ias assinadas por Marcel Fournier (1994, 2007) e o recente trabalho de Mathieu Béra (2014) sobre os anos
bordelenses de Durkheim.
12 Veras (2014) chama a atenção para as epígrafes “conf‌litantes” de Durkheim e Marx nesse trabalho, recon-
hecendo aí a “dupla problemática teórica e prática do conhecimento” em Fernandes.
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presença da teoria clássica naqueles anos. Os quatro, cada um à sua maneira,
valeram-se de maneira criativa e não sectária dos três clássicos nas escolhas teó-
ricas que zeram nos anos 1950 e 1960, escolhas estas que marcaram o desen-
volvimento da Sociologia no Brasil. Embora seja sempre difícil individualizar
inuências teóricas, mesmo um leitor desavisado de obras desses autores en-
contra facilmente referências a Weber em Os donos do Poder de Faoro (1989).
A Sociologia de Durkheim está presente nos trabalhos de Maria Isaura Pereira
de Queiroz. A título de exemplo, temos a segunda tradução das Regras do
Método Sociológico passando pela importância de compreender historicamente
os “fatos sociais”, em especial o fato religioso, perspectiva adotada nos estudos
sobre os movimentos messiânicos, até nalmente um pequeno artigo em que
a socióloga paulista revisita criticamente a teoria de Durkheim (QUEIROZ,
1995)13. Moldado pelo marxismo teórico e profundamente preocupado com
as questões de desenvolvimento14, os trabalhos de Fernando Henrique Cardo-
so, desde o clássico Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional, devem muito
aos estudos de O Capital (RODRIGUES, 2011). Marx está presente ainda
nos trabalhos de Ianni, desde sua tese de doutorado – O negro na sociedade de
castas – transformada no livro As metamorfoses do Escravo (1962)15, passando
por Estado e capitalismo no Brasil (1965) e Dialética e capitalismo: ensaio sobre
o pensamento de Marx (1982), para citar apenas esses.
Dos três clássicos, porém, Karl Marx e Max Weber foram aqueles que
geraram, desde as décadas de 1950 e 1960, mais estudos e também mais es-
tudiosos além de seguidores, dentre os sociólogos brasileiros. Essa predile-
ção fortaleceu-se com o tempo, no caso de Weber (COHN, 2003; SOUZA,
2000; PIERUCCI, 2003; VILLAS-BÔAS, 2006; SELL, 2014), e se ampliou,
no caso de Marx, aos diversos centros de estudos marxistas (HALLEWELL;
LESSA, 1998; BOITO JR.; MOTTA, 2010). Já Georg Simmel e Emile
Durkheim começaram a ser mais tardiamente estudados, mas vem sendo
13 É possível af‌irmarmos, ainda, a partir de Bôas (2010) e Botelho e Carvalho (2011), que o tema da mudança
social, tão caro para Maria Isaura, foi pensado, também, dentro de uma referência durkheimiana. Na trajetó-
ria de grupos sociais primários ou rurais, havia relações de solidariedade e de reciprocidade.
14 Ver a esse respeito, nas referências bibliográf‌icas, a entrevista de Fernando Henrique Cardoso, concedida a
Pedro Luiz Lima (2013).
15 Ianni, tal como Fernando Henrique Cardoso, Fernando Novais, Paul Singer, entre outros, também participou
do grupo de estudos Seminário Marx, idealizado por José Arthur Giannotti, que se reuniu entre 1958 e 1964,
para ler e discutir “O Capital”. Ver Rodrigues, 2011.
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objeto de apresentações e pesquisas especícas (MORAES FILHO, 1983;
WAIZBORT, 2000, 2007; SOUZA; ÖLZE, 2005; RODRIGUES, 1977;
WEISS, 2012, 2013; OLIVEIRA, 2010, 2012; OLIVEIRA; WEISS, 2011).
Enm, um grande número de outros autores – Lukacs, Mannheim, Bour-
dieu, entre outros – foram objeto de estudos e apresentações na conhecida
“Coleção Grandes Cientistas Sociais”, demonstrando, assim, que a teoria
sociológica foi efetivamente recebida e está disponível ao estudante de Ciên-
cias Sociais no Brasil.
3 O estudo e a pesquisa em teoria atualmente
Liedk Filho (2005) contabilizava em 2005, 32 grupos de pesquisa sobre
o tema “Fundamentos da Sociologia”. Hoje, em 2014, a busca pela expressão
“Fundamentos da Sociologia” no Diretório de Grupos do CNPq16 nos reen-
via somente quatro grupos, um deles na área de Educação e outro na área de
Ensino da Sociologia. Quando a expressão é “Teoria Sociológica”, surgem 11
grupos, por exemplo, o Grupo de Estudos de Teoria Social (UNICAMP, 200817)
e o Núcleo de Pesquisas e Estudos em Teoria Social (UFF, 201018). Modican-
do os critérios de busca e adicionando as expressões “história da Sociologia”
e “Epistemologia”, surgem outros três grupos. Ao total, conforme ilustra o
Quadro 1, temos 16 grupos, nem todos na área de Sociologia, como o grupo
“Sociologia, Direito e Justiça”, do Direito da Universidade Federal Fluminen-
se. Chama a atenção, ainda, o ano de criação. Dos 16 grupos a seguir, os mais
antigos, apenas dois, foram criados nos 1990. A grande maioria, portanto, é
de grupos jovens. 12 deles criados nos últimos seis anos, sendo sete desses 12,
criados nos últimos dois anos. Assim, a produção desses jovens grupos é – e
não poderia ser diferente pequena. Finalmente, devemos ressaltar que os
grupos consultados apresentam várias linhas de pesquisa, o que dilui, ainda
mais, a produção especíca em teoria.
16 Nessa base, f‌izemos busca com as expressões “Fundamentos da Sociologia” e “Teoria Sociológica”.
17 Esse grupo tem duas linhas de pesquisa. Uma delas tem por título “Epistemologia das Ciências Humanas”.
18 Nesse grupo, a pesquisa em teoria não f‌igura no título de nenhuma das duas linhas de pesquisa, uma dedica-
do à luta pela terra nos “campos de Goytacazes” e a outra dedicada ao estudo dos movimentos sociais.
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Quadro 1 – Grupos de pesquisa em teoria sociológica em atividade
Nome do Grupo Ano de
criação Instituição Linha(s) de pesquisa dedicadas à teoria
sociológica
Sociologia: História e paradigmas 1992 UFRGS História da teoria sociológica
Núcleo de Cidadania, Exclusão
e Processos de mudança 1995 UFPE Teoria sociológica
Sociedade, representações e
processos sociais 2000 UFPEL Teoria sociológica contemporânea
Sociologia, Direito e Justiça19 2004 UFF Teoria sociológica e do direito
Núcleo de Pesquisa Sociof‌ilo20 2007 UERJ
Teoria sociológica como ontologia do
presente
As novas correntes da teoria social
Fundamentos f‌ilosóf‌icos da teoria social
Grupo de Estudos em Teoria social 2008 UNICAMP Epistemologia das Ciências Humanas
Grupo de Pesquisas Processos
Civilizatórios21 2008 UEL História e Sociologia
Laboratório de Sociologia não
exemplar 2009 UnB Teoria sociológica não exemplar
Interpretações do Brasil e
pensamento social 2010 UFRJ Pensamento social e teoria sociológica
Teoria crítica e Sociologia22 2011 UNICAMP
Teoria crítica e Sociologia
Teoria social contemporânea
Teoria sociológica
Estudos teóricos de Sociologia
Contemporânea 2012 UFAM Teoria Sociológica
Grupo de Pesquisa sobre
Governo, Ética, e Subjetividade 2012 USP Teoria Sociológica
Télos – Grupo de pesquisa em
Ciências Humanas 2012 UFRR Pensamento social e questão de
método em teoria sociológica
Teoria sociológica e
pensamento marxista no Brasil 2012 UNIFAP
(Amapá)
Recepção das ideias lukacsianas no Brasil
Teoria sociológica contemporânea e
pensamento marxista no Brasil
Centro Brasileiro de Estudos
Durkheimianos 2013 UFRGS Sociologia das Ciências Sociais
Teoria
Núcleo de Estudos Comparados
e Pensamento social 2013 UFF Nos limites da razão funcionalista:
variações da teoria sociológica (1950-70)
Grupo de Estudos em Bourdieu 2014 UNICAMP Teoria e pensamento sociológico
Fonte: Diretório de Grupos CNPq (2014).19202122
19 Esse grupo conta com 13 linhas de pesquisa bem diversas, desde os estudos sobre imigrantes, instituições
judiciárias e policiais, mercado de trabalho, comunicação, demonstrando grande dispersão temática.
20 Esse grupo reúne seis pesquisadores e 19 estudantes. Tem como líder, o professor belga Frederic Vandenbergue,
especialista em teoria sociológica e dono de vasta produção na área de teoria.
21 Registrado na área de Educação.
22 Trata-se do maior grupo de pesquisa nessa área, reunindo15 pesquisadores e 15 estudantes.
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As consequências da realidade acima descrita são difusas e particulares, uma
vez que os grupos de pesquisa são autônomos. Ademais, precisamos mencionar
que a relação entre pesquisa e ensino em teoria não é fácil de ser estabelecida.
Ora, pode-se supor que o ensino da teoria derive da pesquisa em teoria, ora não.
Se a produção propriamente teórica parece ter perdido o grande fôle-
go que apresentou outrora, ela tem hoje seus fóruns especícos. Encontra-
mos trabalhos teóricos nos Grupos de Trabalho (GT) sobre teoria sociológica
tanto nos congressos da Sociedade Brasileira de Sociologia quanto nos encon-
tros da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais
(ANPOCS). Na Sociedade Brasileira de Sociologia, o GT de teoria de, des-
de 2007, tem acolhido uma média de 24 trabalhos a cada encontro23. No
caso da Associação Nacional de Programas em Ciências Sociais (ANPOCS),
após a divisão dos espaços para apresentação de trabalhos, com a criação dos
“Simpósios pós-graduandos”, exclusivamente destinados aos alunos de pós-
-graduação, dois grupos com o título de “Teoria social no limite: novas
frentes/fronteiras na teoria social contemporânea”, perfazendo, em média, 15
pesquisadores e cinco estudantes de pós-graduação apresentando resultados
de pesquisas em teoria. O número total vem sendo grande nesses fóruns, de-
monstrando a vitalidade da pesquisa. Todavia, de forma geral, não são muitos
os autores a transformarem trabalhos apresentados em artigos publicados em
revistas indexadas24. Finalmente, são pouco frequentes os números de revistas
dedicados especicamente às questões teóricas e aos autores clássicos, com
exceção de Marx25. Logo, os autores clássicos continuam a ser pesquisados em
nichos especícos26 ou a partir de iniciativas individuais.
4 O ensino da teoria: análise de alguns casos
Em relação ao ensino, o lugar da teoria tem sido objeto de debates difusos
e, aqui e ali, questiona-se o papel e o lugar das disciplinas teóricas nas grandes
23 Mesmo sem termos feito um levantamento específ‌ico, nosso conhecimento in loco permite af‌irmar que em
outros GTs, há também trabalhos em teoria.
24 Isso pode estar indicando que esses trabalhos apresentados como “teoria” são apenas subprodutos das teses
ou de pesquisas sobre outros assuntos.
25 No Brasil, assim como em outros países, os centros e grupos de pesquisa dedicados a Marx são numerosos. Da
mesma forma, nos últimos 20 anos, as obras vêm sendo retraduzidas e republicadas, o que talvez demonstre
que o interesse não esmoreceu ao longo do tempo.
26 Um bom exemplo disso é o “Centro Brasileiro de Estudos Durkheimianos” criado recentemente, em 2013. Para
maiores detalhes, ver: .org>.
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curriculares. Aparentemente, há um consenso, informalmente construído, em
relação à importância do ensino das teorias clássica e contemporânea nos cur-
sos de Ciências Sociais. Por outro lado, há uma posição praticamente oposta
– é difícil dizer o quanto ela é representativa. Além disso, o quadro que mos-
tramos a seguir revela que ela não se traduz nas grades curriculares sobre
certo “excesso de teoria” e ausência de disciplinas de método, em especial
quantitativos, nos primeiros semestres de nossos cursos. E as duas posições
– importância ou excesso de teoria nos primeiros semestres – revelam diag-
nósticos diametralmente opostos sobreo público egresso do Ensino Médio.
Os primeiros acreditam que o ensino da Sociologia no Ensino Médio estaria
enviando às universidades alunos com certa bagagem em Ciências Sociais; os
últimos armam o contrário, ou seja, que nossos alunos, egressos do Ensino
Médio e socializados segundo critérios de aprendizagem pautados pelos exa-
mes universitários de seleção e pelas informações virtuais, não teriam matu-
ridade suciente para enfrentar o desao intelectual que representa o ensino
dos clássicos das três áreas de Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política
e Sociologia), logo nos dois primeiros anos de formação.
Enquanto os defensores da importância do ensino da teoria valem-se, re-
gra geral, de argumentos tais como a necessidade de se estudar os fundadores
da disciplina, seus críticos têm apresentado novos argumentos:
1. Os cursos de CS no Brasil são antes eruditos do que técnicos, originá-
rios dos centros e faculdades de Filosoa e Letras.
2. Os autores clássicos recebem muito mais atenção dos que os autores
contemporâneos.
3. O espaço dedicado aos autores contemporâneos é cada vez menor em
relação ao número de novos autores, muitos deles egressos de países como a
Índia, China ou Austrália, outrora praticamente ignorados. E o formato dos
cursos de Ciências Sociais no Brasil27 – divididos nas três áreas, Antropolo-
gia, Ciência Política e Sociologia – os obriga a pesadas e, por vezes, desco-
nexas leituras de grande número de clássicos.
4. A quantidade de textos é grande e, por vezes, desconexa28.
27 A título de exemplo, na Argentina, há formação em Ciências Sociais é separada por área.
28 É de se pensar, porém, se a grande carga de leituras, imaturidade intelectual dos alunos, desconexão com o
dito mundo jovem etc. seriam problemas específ‌icos dos cursos de Ciências Sociais. Que dizer dos cursos de
Direito ou Medicina? Seriam eles mais fáceis e menos trabalhosos?
O ensino da teoria sociológica em alguns cursos de Ciências Sociais de universidades públicas brasileiras | Márcio de Oliveira
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5. Para além do grande número de autores, aponta-se para a diculdade
de compreensão e operacionalização das teorias clássicas e contemporâneas,
ou seja, para a falta de um conhecimento da realidade atual que permita esta-
belecer a relação entre a teoria e a prática de pesquisa29;
6. As teorias clássicas, particularmente elas, estariam distantes do mundo dos
jovens, absorvidos pela virtualidade das interações e pelas chamadas redes sociais.
Colocados os argumentos nesses termos, tem-se o pior dos mundos:
muito espaço dedicado ao ensino da teoria aliado ao pequeno número de
pesquisadores nacionais que se dedica à pesquisa em teoria. Assim, armam
os críticos do suposto excesso de teoria, o ensino da teoria segue caminhos
conhecidos, sem inovação nem tentativas de aplicação.
Os argumentos daqueles que julgam excessivo o espaço dedicado à teoria
não questionam, por exemplo, a forma como ocorre o ensino teórico, nem mes-
mo seu lugar nas grades curriculares. Em geral, esses argumentos se limitam a
questionar a quantidade de textos e autores, a aparente dissociação em relação
à pesquisa empírica e a pouca importância dada à metodologia. Também não
se questiona a falta de interação das três áreas que têm tradições distintas de
recepção e de apropriação de autores. Não são questionadas, enm, a ausência
de espaços institucionais consolidados de pesquisa em teoria e a necessidade
de intensa atualização, como se o ensino da teoria sociológica fosse natural e
tranquilo para qualquer pesquisador/professor com título de doutor. Pode-se
perguntar: dos que ensinam teoria regularmente, quanto tempo dedicam ao
estudo, quantos projetos de pesquisa realizam ou quantos alunos orientam? O
cruzamento dos dados dos grupos de pesquisa dedicados à teoria com os profes-
sores elencados para as disciplinas teóricas mostra que não há uma relação direta
aí, ou seja, nem sempre os pesquisadores em teoria ministram aulas de teoria.
Pode-se questionar, ainda, seuma politica de recrutamento para efetivamente
alocar pesquisadores em teoria nas disciplinas teóricas.
5 As grades curriculares
Analisamos, agora, as grades curriculares dos cursos selecionados.
Observamos, primeiramente, o lugar que o ensino das teorias clássica e
contemporânea ocupa e o tempo a elas dedicado. Em seguida, trabalhamos as
ementas, analisando, ainda, os textos e livros selecionados para a leitura.
29 Tema abordado no artigo “Nas trincheiras do método: o ensino de metodologia das Ciências Sociais no Brasil”
(CANO, 2012).
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Quadro 2 – Comparativo das grades curriculares
dos Cursos de Ciências Sociais selecionados
1º Semestre 2º Semestre 3º Semestre 4º Semestre
UFC Sociologia I História da
disciplina
Sociologia II
Marx
Weber
Durkheim
Sociologia III
Goffman
Bourdieu
Foucault
Senn
Habermas
--
UFPE Fundamentos da
Sociologia
Teoria Sociológica I Marx
Weber
Durkheim
Teoria Sociológica II
Parsons
Mead Park
Garfunkel
Blum
Goffman
Gramsci
Escola de Frankfurt
Teoria Sociológica III
Bourdieu
Giddens
Elias
Alex
Tocquev
Pós-Modernismo Pós-
Colonialismo
UFRJ30
Sociologia Geral
Emergência do
pensamento sociológico
Introdução aos clássicos
conceitos básicos
Sociologia I – Conceitos
básicos e perspectiva de
análise sobre a sociedade;
transf. Modernas e
contemporâneas.
Sociologia II
Modos como
a Sociologia
contemporânea trata
temas do presente.
Sociologia III
Condições sociais de
Produção do
pensamento
Sociológico no Brasil
UnB Introdução à Sociologia Introdução à Metodologia
das Ciências Sociais
Teoria Sociológica I
Tocqueville
Marx e Durkheim
Teoria Sociológica II
Weber e Simmel
USP
Sociologia I
História
Conceitos
Sociologia II
Marx
Sociologia III
Durkheim
Sociologia IV
Sociologia Alemã
UFPR
Sociologia e
modernidade –
Paradigma marxista
Sociologia e modernidade
– Paradigma weberiano
Sociologia e
modernidade –
Paradigma durkheimiano
UFSC
Introdução à Sociologia
–História e conceitos
centrais
Teoria Sociológica. I
Sociologia Positivista de
Durkheim
Material histórico de Marx
Teoria Sociológica II –
Sociologia compreensiva
de Weber e estrutural –
MN funcionalismo de
Parsons e Merton
Teoria Sociológica III
Bourdieu
Escola de Frank
Foucault
Latour
UFRGS
Sociologia I
História
Temas e conceitos
Agenda atual
Sociologia II
narrativa da Sociologia
marxista, compreensiva e
funcionalista
Sociologia III
Contribuições
contemporâneas
Epistemologia das CS
Fonte: Elaborado pelo autor. 30
30 Como disciplinas optativas, que os alunos podem cursar do 5º ao 8º semestre. Encontramos, ainda, “Teoria So-
ciológica I: A escola alemã e seus representantes; a tradição durkheimiana” e “Teoria sociológica II: Formulação
O ensino da teoria sociológica em alguns cursos de Ciências Sociais de universidades públicas brasileiras | Márcio de Oliveira
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Inicialmente, vale salientarmos que a quantidade e a qualidade de in-
formações disponibilizadas nos sítios são muito variadas. Em alguns casos,
tivemos de escrever aos responsáveis para encontrar os sítios especícos. Em
outros casos, encontramos ementas atualizadas pela última vez em 200831.
Apenas a título de comparação, os sítios dos nos cursos de pós-graduação
em Sociologia das mesmas universidades são mais “claros e amigáveis”, em
comparação com aqueles dos cursos de graduação32. Em relação à estrutura da
grade curricular, temos:
1. Os três primeiros semestres do curso são efetivamente dedicados à teo-
ria clássica e/ou contemporânea, à exceção do curso de Ciências Sociais da
UFRJ, que é temático e trabalha os clássicos, por exemplo, em disciplinas
optativas. Em relação a todos os outros cursos, as ementas se limitam a apre-
sentar Marx, Weber e Durkheim, à exceção das Ciências Sociais na USP que
apresenta a “Sociologia alemã” como um todo (Tonnies, Sombart, Simmel,
Weber etc.) – e não apenas Weber –, e a UnB que apresenta Weber e Simmel;
2. Os cursos das universidades federais do Ceará, Pernambuco, Rio Gran-
de do Sul e da Universidade de Brasília, apresentam mais de um clássico em
um mesmo semestre, no caso no segundo ou o no terceiro semestres;
3. Os terceiro e quarto semestres (com exceção das federais do Ceará,
Paraná e Rio Grande do Sul) são também dedicados à teoria, no caso, aos
autores contemporâneos;
4. Marx aparece frequentemente antes de Weber e Durkheim;
5. O formato geral de apresentação se faz pelos autores, raramente pelas
correntes e/ou pela história da disciplina.
A primeira análise reforça, claramente, o argumento daqueles que cri-
ticam o “excesso de teoria” nos quatro primeiros semestres. Se somarmos as
cargas teóricas nas disciplinas da Antropologia e da Ciência Política, temos
de teorias delongo alcance e o problema da generalização na Sociologia. Concepções abrangentes e suas
construções teóricas. Teorias de médio alcance e seu papel mediador entre fenômenos locais e universais.
A problemática da ideologia.
31 Destacamos que a ementa efetivamente dada pelo professor pode estar atualizada na sala de aula.
32 O tipo de avaliação e acompanhamento dos cursos de pós-graduação com atribuição de conceitos feita pela
CAPES/MEC explica, em parte, essa discrepância.
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o caso comum de ¾ do tempo dos alunos durante três ou quatro semestres
serem dedicados exclusivamente ao estudo dos clássicos. Em alguns casos vis-
tos, há autores – Marx e Weber, por exemplo – que têm seus textos, lidos nas
disciplinas de Sociologia e de Ciência Política, como é o caso da Universida-
de Federal do Paraná. Importa mencionarmos, ainda, que discussões teóricas
surgem também nas disciplinas optativas. Veremos que, de maneira geral, a
formação em Ciências Sociais nos cursos selecionados se não é excessivamente
teórica, é fortemente acadêmica.
Uma segunda conclusão impõe-se: além de ser bastante acadêmica como
um todo, e teórica nos semestres iniciais, a formação não é necessariamente
plural ou atualizada. Vejamos. Todos os cursos apresentam Marx, Weber e
Durkheim. No Rio Grande do Sul, fala-se em “Narrativa da Sociologia Com-
preensivae em São Paulo, na “Sociologia alemã”, mas o principal autor nos
dois casos é Weber. Há forte concentração em um número pequeno de autores,
nos casos do Paraná e de São Paulo, estudados quase que individualmente du-
rante todo um semestre. Nos cursos das outras universidades, os três clássicos
são estudados em conjunto ao longo do mesmo semestre. Portanto, há muito
tempo para um autor clássico, e esse tempo é divido por dois ou por três, pois há
outro(s) autor(es) a ser(em) apresentado(s). E isso remete à forma como a teoria
é ensinada. De forma resumida, constatamos que as grades estudadas parecem
seguir três modelos, não necessariamente incompatíveis. São eles:
A. A Teoria Sociológica segundo seus autores
O estudo da teoria sociológica através de seus autores parece uma opção
natural. Aqui, basta observarmos a cronologia, xar o período, uma vez que
todos os clássicos nasceram no século XIX, e estudar suas obras. Esse partido
permite personalizar a ciência, dar nomes, investigar biograas, mostrando
que a ciência tem seus cânones, seus mestres de referência. Mas, escolhendo
autores, eles são individualizados e os conhecimentos que produziram são sis-
tematizados em grandes grades de leitura.
B. A teoria sociológica segundo suas correntes
O segundo modelo envolve o estudo da teoria segundo suas correntes, já
denidas na história da disciplina e da Filosoa. Os autores tornam-se aqui
funcionalistas, dialéticos, compreensivos, estruturalistas etc. Podem, ainda,
estar na corrente do “conito” em oposição à corrente “institucionalista”.
O ensino da teoria sociológica em alguns cursos de Ciências Sociais de universidades públicas brasileiras | Márcio de Oliveira
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A classicação de obras e autores em correntes de pensamento naturaliza
e legitima aquilo que é histórico e social. As correntes legitimam, também, a
classicação daqueles que as zeram.
C. A Sociologia Contemporânea segundo seus temas centrais
O terceiro modelo é o estudo da teoria sociológica segundo seus temas
centrais. Essa abordagem tem por fundamento a escolha de temas ou de con-
ceitos. Os autores são apresentados, e aqui comparados, através de seus con-
ceitos. A noção de indivíduo ou de Estado ou, ainda, de classe em tal ou tal
outro autor. Investiga-se assim, em detalhe, o que cada autor escolhido disse
sobre determinado tema ou como deniu um conceito, em oposição a um
contemporâneo ou mesmo a algum autor da atualidade.
Como visto, de forma geral, a opção das grades curriculares selecionadas é
pelo modelo “autores”. Essa opção convive, sem grandes inconvenientes, com
introduções históricas e apresentações de correntes. O que muda, substancial-
mente, é o espaço que se dedica a cada um dos modelos. Os autores – Marx
Weber e Durkheim - são assim muito bem trabalhados em todos os cursos.
Analisemos, agora, as ementas.
A análise das ementas nem sempre é fácil, seja porque nem todas estão
efetivamente disponíveis nos sítios, seja porque estão relativamente desatuali-
zadas, seja, enm, porque se encontram em plataformas especícas, algumas
delas restritas às estruturas administrativas.. Após análise, encontramos os se-
guintes dados. No caso dos clássicos, os textos são relativamente os mesmos,
mas editados, ou seja, os alunos devem ler passagens e não os textos com-
pletos. Da mesma forma, nem sempre textos históricos sobre o período
em que os autores viveram ou textos em língua estrangeira. Faltam textos de
comentadores ou críticos atuais, e, muitas vezes, encontramos apenas aqueles
livros ou textos clássicos e traduzidos para o português33. Isso pode estar pro-
duzindo uma apresentação relativamente supercial, porque considera que
um aprofundamento não é necessário naquele momento do curso, porque se
julga que os alunos não têm maturidade suciente e/ou conhecimento de lín-
guas estrangeiras para que as leituras sejam mais abrangentes e aprofundadas
33 Isso é particularmente importante porque os textos clássicos, nas línguas originais, estão hoje inteira e gratui-
tamente disponíveis na internet.
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ou porque, efetivamente, são três ou dois clássicos para um mesmo semestre,
o que, sem dúvida, limita as escolhas.
As armações anteriores são, contudo, dicilmente comprováveis sem
um estudo mais aprofundado. Peguemos o caso da “Sociologia II” do curso
de Ciências Sociais da USP. O curso é dedicado a Marx. Todos os aspectos da
obra de Marx estão na ementa, da teoria da história às classes, com um último
item dedicado ao “marxismo ocidental”. Em princípio, tudo está bem orga-
nizado, desde o tempo dedicado até o rol de temas. Não obstante, nas refe-
rências bibliográcas, não há nenhum texto em língua estrangeira e a ementa
está datada de 2008, talvez por mero esquecimento ou simplesmente porque
ainda não foi atualizada, Como saber? Vejamos, agora, o caso da UFC e da
UFPE. Os três clássicos são apresentados em um mesmo semestre, segundo
ou terceiro. Os semestres seguintes, nessas duas universidades, são dedicados a
autores contemporâneos. Já o curso da UFSC apresenta, no segundo semestre,
“o positivismo de Durkheim” no mesmo semestre do materialismo histórico
de Marx”. Já “a Sociologia Compreensiva de Weber” é apresentada ao lado
“estrutural-funcionalismo de Parsons” no terceiro semestre. Sem mesmo dis-
cutir as nomenclaturas – “o positivismo de Durkheim” – podemos questionar
porque razões Weber foi aproximado de Parsons e não de Marx, por exemplo.
Pode-se igualmente questionar: por que autores são apresentados em conjunto
nessa universidade e de forma diferente em outra? Quais os critérios de junção
ou da apresentação em separado de autores? Como não nenhum órgão
federal geral ou mesmo prossional que discipline isso – seria o caso de haver?
– não há aqui como julgarmos. Ademais, muitas vezes, temos reformulações
de currículos e ementas que são feitas em consequência de necessidades ou
carências locais, realidades essas que fazem com que uma mesma ementa seja
apresentada de maneira diversa segundo o professor responsável. Enm, nota-
mos que o estudo da recepção dos autores clássicos no Brasil, com as exceções
de praxe, não goza de muito prestígio34.
Resumindo, temos uma realidade geral no Brasil estudado: Marx, Weber
e Durkheim são efetivamente autores clássicos para a Sociologia brasileira.
São bastante estudados em todos os cursos nos semestres iniciais. Será esse o
34 O estudo da recepção dos autores e da formação dos professores poderia explicar grandes diferenças nos
formatos dos cursos de Ciências Sociais no Brasil e na Argentina, por exemplo.
O ensino da teoria sociológica em alguns cursos de Ciências Sociais de universidades públicas brasileiras | Márcio de Oliveira
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“excesso” de teoria? Seria esse suposto excesso responsável por parte da evasão
nos semestres iniciais, como se comenta amiúde em fóruns da área? Isso teria
mudado após a inclusão da Sociologia no Ensino Médio? Eis questões ainda
em aberto.
Em relação à teoria contemporânea, duas conclusões iniciais impõem-se:
1) Em um único semestre, muitos autores são trabalhados em diversos cursos;
2) Observa-se uma escolha algo aleatória em relação aos autores efetivamente
apresentados como contemporâneos. A título de exemplo, em Pernambuco, a
escolha recaiu sobre Pierre Bourdieu, Anthony Giddens; Norbert Elias; Alexis
de Tocqueville, além de autores pós-modernos e pós-coloniais. Já em Santa
Catarina, a escolha recaiu sobre Pierre Bourdieu, Escola de Frankfurt, Michel
Foucault e Bruno Latour, entre outros. Finalmente, em Brasília, a escolha recaiu
em Robert Merton, Talcott Parsons, Pierre Bourdieu, Michel Foucault etc. Na
Universidade Federal do Ceará, a escolha recaiu sobre Pierre Bourdieu, Erwin
Goman, Michel Foucault, Jugen Habermas e Richard Sennet. Na Universida-
de de São Paulo, os contemporâneos surgem apenas a partir do quinto semes-
tre e no curso da Universidade Federal do Paraná, e aparecem em disciplinas
obrigatórias alocadas no interior de “eixos temáticos”. Em resumo, em todas as
ementas estudadas, apenas uma unanimidade: Pierre Bourdieu; uma aparente
ausência: Alain Touraine; um viés: Sociologia europeia35. Um ponto merece des-
taque: autores contemporâneos efetivamente atuais – Jerey Alexander ou Ber-
nard Lahire – estão ausentes do rol de contemporâneos ensinados nas disciplinas
obrigatórias, o que não signica que não sejam efetivamente lidos e estudados
em outros ambientes. O fato é que a Sociologia contemporânea tem avançado
em autores, temas e regiões geográcas (Índia, África do Sul, Austrália, China
etc.) enquanto que o espaço dedicado a ela continua o mesmo, sempre bem
menor do que àquele dedicado à teoria clássica.
Outra questão subjacente, igualmente importante quando se discute o
ensino da teoria, é o formato dos currículos. No caso dos cursos da UFRJ,
da USP e da UnB, existem cadeias de pré-requisitos, cujo objetivo é fazer
o aprendizado dos conteúdos a partir de etapas necessárias. Nessas univer-
sidades, as disciplinas optativas dependem de conhecimentos anteriormente
35 É preciso reconhecer, contudo, que os professores nem sempre seguem totalmente as ementas of‌iciais das
disciplinas. Mesmo assim, elas revelam escolhas que foram feitas, ainda que formalmente.
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validados. Em outros, como no caso da UFPR, o curso foi dividido em “For-
mação geral prossional” e “formação prossional especíca”. Ao nal do ter-
ceiro semestre, os alunos devem optar por uma das três áreas ou pela formação
em licenciatura. Nesse formato, as disciplinas teóricas clássicas caram nos
três primeiros semestres e, no caso especíco da área de Sociologia, as disci-
plinas teóricas contemporâneas são ensinadas, também, nos “eixos temáticos”
(atores, trabalho, sociedade e natureza etc.), mas de maneira livre, ou seja,
nada induz o aluno a cursar a disciplina de um eixo antes daquela obrigatória
do eixo temático vizinho. Em um caso e outro, a carga de leitura permanece
importante e, comumente, os clássicos – por vezes os mesmos textos já lidos
nas disciplinas iniciais – são retomados. A título de exemplo, vejamos o que
acontece na disciplina de Sociologia do Conhecimento no curso da UFPR36.
A ementa traz, como leitura obrigatória, o texto de Marx “A Ideologia Alemã”.
Esse mesmo texto já foi lido na disciplina “Sociologia e modernidade: o para-
digma marxista”.37 No caso da disciplina “Sociologia e a Cidade”38, o aluno lê
“O Capital”, volume 1, de Marx, texto que já leu na disciplina “Sociologia II”,
dedicada ao mesmo autor.39 Podemos multiplicar as situações, as disciplinas e
as universidades, e encontraríamos casos semelhantes, porque se trata de uma
padrão e não de ações isoladas. A pergunta é: isso reforçaria a presença da
teoria nas grades? Pode-se objetar que, uma vez que os alunos já leram (ou já
deveriam ter lido) aquele texto, o professor da disciplina levará isso em ques-
tão, mas o fato é que o tema teórico está novamente presente, demonstrando
o grande tempo dedicado à teoria e aos autores.
Em resumo, é correto armarmos que as grades dão grande destaque à
teoria sociológica. Ressaltamos que, em todas as universidades analisadas, os
alunos têm carga teórica de leitura também nas disciplinas de Antropologia e
de Ciência Política, o que torna o número de textos ainda maior. Assim, é pos-
sível imaginar que, em uma mesma manhã, alunos podem estar (de fato estão)
lendo Weber em disciplinas da Ciência Política e da Sociologia, Durkheim,
em disciplinas da Antropologia e da Sociologia, e assim por diante. Isso ocor-
re, em parte, porque a forma de desenvolver os conteúdos programáticos é
36 Ver a ementa em Universidade Federal do Paraná, 2011b.
37 Ver a ementa em Universidade Federal do Paraná, 2011a.
38 Ver a ementa em www.uspdigital.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=FSL0525&codcur=8040&codhab=103
39 Ver a ementa em www.uspdigital.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=FSL0102&codcur=8040&codhab=103
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de responsabilidade do professor de cada área ou departamento e, nas maio-
res universidades, há departamentos especícos para cada área, diminuindo,
ainda mais, o contato entre os docentes do mesmo curso. Da mesma forma,
mesmo quando não existem departamentos especícos, há pós-graduações es-
pecícas40. Enm, ao contrário dos cursos de pós-graduação, constantemente
avaliados e nanciados em função dos conceitos recebidos, os cursos de gra-
duação nas universidades federais são pouco avaliados. Quando isso ocorre,
utiliza-se o formulário de avaliação desenvolvido pelo INEP, e essas avaliações
não envolvem critérios de repasse de recursos, mas tão somente de reconheci-
mento ou de (re)credenciamento dos cursos.
6 Considerações f‌inais
O debate aqui engajado é sobre o lugar, o espaço e o conteúdo da teoria
sociológica nos cursos de Ciências Sociais. De fato, o lugar é no início, sem-
pre. Pode-se sempre questionar essa escolha.
No curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, a
teoria foi colocada nos semestres mais avançados. Esse é também o modelo
seguindo pelo curso de Ciências Sociais da UFRJ, onde as teorias clássicas
aparecem mesmo como optativas. Em conversas informais com colegas dessas
instituições, eles alegam que a grande vantagem dessa inversão é cativar os
alunos a partir dos problemas e temas sociais stricto sensu, mostrando como os
assuntos são construídos sociologicamente ao invés de simplesmente apresen-
tarem autores por vezes desconhecidos. Ao mesmo tempo, em Londrina pro-
cura-se ensinar como se elabora uma pesquisa, o fazer sociológico. E aí, com
“a mão na massa”, fazendo a famosa revisão da literatura, surge a importância
da teoria. Embora não tenha sido pensado nesses termos, para a dita geração
Y41, segundo os colegas com quem conversamos na Universidade Estadual de
Londrina, esse modelo é descrito como mais instigante.
O espaço dedicado à teoria é efetivamente grande. São praticamente qua-
tro semestres em que o estudo da teoria sociológica reina majoritariamente,
ocupando praticamente 75% do tempo da formação se somarmos as disciplinas
40 No caso da USP, UFRGS, UFPR, por exemplo, as três pós-graduações existem, o que aumenta ainda mais a
especialização e, por conseguinte, a distância entre os colegas dessas áreas.
41 Termo atribuído àqueles que sempre portam fones de ouvido, em forma de “Y”.
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teóricas das três áreas. Consideramos que é interessante citarmos, ainda, que
o espaço dedicado à teoria não se limita aos quatro primeiros semestres, mas
avança pelos demais por meio das disciplinas optativas, sempre abertas pela
leitura dos textos dos autores clássicos e contemporâneos que fundaram aque-
le subcampo. Em consequência, a teoria está no início, mas também no nal
do curso, e até mesmo nos TCCs, estes geralmente iniciados por uma revisão
da literatura (obrigatoriamente, composta por autores clássicos e contempo-
râneos) sobre o tema escolhido. Mas, se o espaço da teoria é efetivamente
grande, ele multiplica-se por três devido à formação nas três áreas, a saber:
Antropologia, Ciência Política e Sociologia. De fato, é o formato dos cur-
sos analisados que está na origem disso. Um segundo semestre típico de um
aluno de Ciências Sociais, nas universidades estudadas, é preenchido por três
disciplinas teóricas, com títulos que podem perfeitamente ser, Antropologia
II, Ciência Política II e Sociologia II, acrescidos de uma história do Brasil e
uma disciplina metodológica (ou estatística). Isso se repete de maneira quase
idêntica até o quarto semestre, quando surge uma disciplina pedagógica, para
aqueles que optam pela licenciatura.
Em terceiro lugar, analisamos o conteúdo da teoria. Aqui, foram per-
cebidas duas realidades contrastantes. Do lado da teoria clássica, há grande
limitação; do lado da teoria contemporânea, muita variedade. Como regra, os
clássicos são Marx Weber e Durkheim. E aqui, Auguste Comte, acolá, Georg
Simmel ou Alexis de Tocqueville, necessariamente presentes também nas dis-
ciplinas de Ciência Política. Já nas disciplinas contemporâneas, existe muita
variedade, uma única unanimidade (Pierre Bourdieu) e muitas ausências de
autores atuais como Jerey Alexander, Bernard Lahire ou François Dubet.
Cabe, ainda, pensarmos como está sendo ensinada a teoria sociológica?
O formato atual de concentração das disciplinas nos primeiros semestres atra-
vés do modelo “autores” pode indicar que o conteúdo seja ensinado de manei-
ra datada e estanque. Contudo, não realizamos pesquisa empírica junto aos
professores que ministram esses cursos e assim, nada podemos concluir aqui.
A especialização das carreiras dos docentes é outro fator que não analisa-
mos. Não analisamos tampouco a relação que os professores de teoria das três
áreas – Antropologia, Ciência Política e Sociologia – mantém entre si. Há,
porém, um problema evidente. A carreira universitária leva à especialização
dos professores, mas o formato do curso – nas três áreas – demanda que o
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aluno tenha conhecimento das três áreas. E essa incompatibilidade entre es-
pecialização e formação “beira a esquizofrenia”; anal, por vezes, pode fazer
o aluno acumular mais conhecimento transversal e geral do que o próprio
professor. Com efeito, seria possível perguntar se algum professor hoje de
Ciências Sociais no Brasil domina a variedade de teorias e abordagens que os
alunos aprendem nas três áreas.
Outra possível consequência desse formato é a apresentação dos clássicos
somente a partir dos enfoques disciplinares. Assim, Marcel Mauss, que escre-
veu com Durkheim, não é sociólogo e está ausente das ementas estritamente
sociológicas dedicadas ao mestre de Bordeaux42. Da mesma forma, os escri-
tos estritamente políticos de Marx estão ausentes das ementas analisadas das
disciplinas sociológicas. Isso permite que se questione o modelo de curso de
Ciências Sociais dividido em três áreas de formação, uma realidade que está
longe de ser uma regra mundo afora.
A pesquisa sobre os grupos de pesquisa registrados, aparentemente lateral
ao objetivo desse texto, permitiu vericar que a teoria como campo de pesqui-
sa tem poucos seguidores e a pesquisa em teoria de modo interdisciplinar pa-
rece ser inexistente. A presença de Grupos de Trabalho na SBS e na ANPOCS
parece indicar grande apreço pelos estudos teóricos, mas isso não se traduz
em termos de número de pesquisadores efetivamente cadastrados. Não temos
dados, nem foi objetivo aqui, compreender essa realidade. Contudo, devido
ao pouco interesse despertado pela questão, pareceu-nos interessante tentar
relacionar o estudo sobre o lugar do ensino da teoria nas grades curriculares e
a quantidade de grupos que efetivamente estudam a teoria.
Uma análise mais completa da realidade do ensino da teoria demandaria
certamente entrevistas com professores, alunos e um estudo mais acurado dos
Projetos Pedagógicos. Tais lacunas não invalidam, contudo, os dados e as aná-
lises feitas. Finalmente, o caráter restrito e não amostral (por isso, incompleto)
do campo selecionado faz com que as análises aqui sejam alertas, pontos para
um debate novo e que se faz necessário.
42 Esse partido das Ciências Sociais brasileiras tem um exemplo forte na discussão sobre a dita fase antropo-
lógica de Florestan Fernandes, interpretação no mínimo discutível quando se sabe a pequena diferenciação
disciplinar entre as áreas naquela época, conforme aludimos acima.
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Referências
ARAÚJO, S. M. de; BRIDI, M. A.; MOTIM, B. L. Sociologia. São Paulo: Editora Scipione, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE CIÊNCIAS SOCIAIS. 2015. Disponível em:
www.abecs.com.br>. Acesso em: 29 set. 2014.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO. www.anpocs.org.br
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Recebido em: 10.07.2015
Aceito em: 20.10.2015
The teaching of Sociological theory in some Social Sciences
courses in Brazil’s public universities
Abstract
This paper aims to analyze the role that teaching of sociological theory has within undergraduate
courses of Social Sciences in federal universities of Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, and the universities of Brasília and São Paulo, all of them in
Brazil. We begin to analyze the history of sociological theory in Brazil. We present the theor y
research groups in activity today. We can see that research in sociological theory plays second
role in Brazilian Sociology. Analyzing the curriculum of the courses and the menus of theoretical
disciplines, we show then that the most of time dedicated to sociological theory in those courses,
particularly for classical theory, in the f‌irst two years. Nevertheless, the content is almost the
same, limited to Marx, Weber and Durkheim. In relation to contemporary sociology, the situation
is quite different and there is no consensus. In despite of great importance and time dedicated to
the teaching of theory, there are no formal discussions about how to teach it in methodological
and epistemological terms.
Keywords: Social sciences courses. Teaching. Sociological theory. University

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