Educação a distância: configurações, políticas e contradições engendradas no trabalho docente

AutorElcio Gustavo Benini - Maria Dilnéia Espíndola Fernandes - Carla B. Zandavalli M. Araujo
CargoProfessor adjunto do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Doutora em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Páginas67-92
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 14 - Nº 29 - Jan./Abr. de 2015
6767 – 92
Educação a distância: conf‌igurações,
políticas e contradições engendradas
no trabalho docente1
Elcio Gustavo Benini2
Maria Dilnéia Espíndola Fernandes3
Carla B. Zandavalli M. Araujo4
Resumo
O trabalho objetiva desvelar as contradições que se apresentam na organização do trabalho
docente na modalidade a distância. A construção do campo de análise incluiu a sistematização
dos dados educacionais fornecidos pelo “Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep)”, os documentos que nor teiam a política educacional e a investigação
empírica de Instituições de Ensino Superior. Constatamos que as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) constituem a base objetiva dos discursos e das práticas sobre a democra-
tização do acesso ao ensino superior. De fato, observamos que, na primeira década do século
XXI, houve um crescimento vultoso de matrículas no ensino superior brasileiro na modalidade
a distância. Tal crescimento, contudo, tem engendrado contradições, como a intensif‌icação, a
alienação, a precarização e a divisão do trabalho docente.
Palavras-chave: Política educacional. Educação a distância. Trabalho docente.
1 Introdução
No decorrer dos últimos anos, principalmente a partir da primeira década
dos anos 2000, a educação a distância, devido ao crescimento exponencial
1 O estudo contou com f‌inanciamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecno-
logia no Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT), por meio do edital Universal nº 14/2009.
2 Professor adjunto do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
E-mail: elciobenini@yahoo.com.br.
3 Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora Associada 3 no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
E-mail: mdilneia@uol.com.br.
4 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Professora Adjunta do Centro de
Ciências Humanas e Sociais desta Universidade. E-mail:carlabzandavalli@gmail.com.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2015v14n29p67
Educação a distância: conf‌igurações, políticas e contradições engendradas no trabalho docente | Elcio Gustavo Benini,
Maria Dilnéia Espíndola Fernandes e Carla B. Zandavalli M. Araujo
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de cursos e matrículas, tem-se apresentado como uma dimensão crescente
no ambiente acadêmico, não apenas na oferta de cursos, mas também como
objeto de investigação cientíca. Por agregar mais recursos tecnológicos nos
processos de ensino e aprendizagem que a modalidade presencial, assim como
por proporcionar novas formas de comunicação, tal modalidade parece justi-
car a sua emersão pela possibilidade cada vez mais concreta da superação de
duas variáveis paradigmáticas do ambiente escolar: o tempo e o espaço.
A educação a distância, de acordo com Peters (2006, 2009), tem a sua
singularidade na aplicação racional da organização do trabalho. Por somar as
tecnologias de informação e comunicação existentes com a organização racio-
nal do trabalho, Peters a dene como a forma mais industrializada de ensino
e aprendizagem. Para esse apologeta da educação a distância, tal modalidade
de ensino representa não somente a revolução na organização do trabalho
docente e nos métodos de ensino e aprendizagem, mas a viabilidade efetiva de
barateamento e democratização do acesso ao ensino superior.
A tese da democratização, de fato, é amplamente disseminada, seja em
âmbito acadêmico (DELORS, 1996; BELLONI, 2009; LITTO; FORMIGA,
2009), seja na sua inserção nos processos de constituição das políticas edu-
cacionais (BRASIL, 2001a, 2003). A relação, portanto, entre produtividade
e democratização constitui um dos elos determinantes nas descontinuidades
que se encontram no cerne do processo do trabalho docente nessa modali-
dade. Este trabalho busca desvelar as principais contradições do crescimento
produtivo dessa modalidade de ensino superior, expressas principalmente no
aumento vultoso das matrículas e na descontinuidade da relação educativa
entre professor e aluno. Para tal, elege-se, principalmente, a organização e a
divisão do trabalho docente e os programas de política educacional em curso
inseridos no processo.
A construção do campo de investigação e análise ocorreu por meio da
sistematização de dados educacionais do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do estudo das políticas edu-
cacionais em curso e de pesquisa em Instituições de Ensino Superior. Sobre
este último campo de investigação, que permitiu uma visão dialética entre
os aspectos universais do processo de trabalho lato sensu e as singularidades e

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