Crítica a uma apropriação unilateral de tecnologia: a análise do conceito de tecnologia social

AutorRafael Rodrigo Mueller - Deise Luiza Ferraz
CargoDoutor em Educação. Professor do Programa de Pós-Graduação em Organizações e Desenvolvimento da UNESC - Doutora em Administração. Professora Adjunta no Departamento de Ciências Administrativas da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais
Páginas131-150
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n104p131
Crítica a uma apropriação unilateral de tecnologia: a análise do
conceito de tecnologia social
Critic to a unilateral appropriation of technology: the analysis of the
concept of social technology
Rafael Rodrigo Mueller1
Deise Luiza Ferraz2
Resumo
Nosso objetivo, nesse ensaio, é discutir a partir de uma abordagem marxiana-
lukacsiana, a apropriação unilateral da aplicação tecnológica da ciência que é
realizada, tanto por estudiosos voltados à produção de tecnologias convencionais,
quanto por teóricos que as refutam em nome da construção de uma nova tecnologia,
dita tecnologia social. Assim, argumentamos que a tecnologia não é em si geradora
das desigualdades econômicas que culmina na denominada exclusão social,
tampouco, uma inclusão demandaria a refutação do conhecimento científico-
tecnológico acumulado historicamente. Ao identificarmos possíveis limitações
teóricas concernentes à “tecnologia social”, e que, segundo a sua mesma matriz
teórica, se contrapõe a uma “tecnologia convencional”, pretendemos expor a
necessidade de uma apropriação de tecnologia que comporta em sua base
epistemológica a sua vinculação direta à ontologia do ser social, conforme Marx e
Lukács.
Palavras-Chave: Ontologia do ser social. Tecnologia Social. Tecnologia
Convencional.
Abstract
Our goal in this essay is to discuss, from a Marxian-Lukacsian approach, the
unilateral appropriation of technological application of science that is carried out as
by academics focused to the conventional production technologies as by theorists
that deny in the name of construction of a new technology, called social technology.
Thus, we argue that the technology in itself is not a producer of an economic
inequality that culminates in the so-called social exclusion and an inclusion would
require a refutation of scientific-technological knowledge accumulated historically. By
identifying possible theoretical limitations relating to 'social technology' and that
according to its theoretical matrix, it is opposed to a 'conventional technology', we
intend to show the necessity of an appropriation of technology that has in its
epistemological basis its the direct connection to the ontology of the social being
according to Marx and Lukács.
Keywords: Ontology of social being. Social Technology. Conventional Technology.
1Doutor em Educação. Professor do Programa de Pós-Graduação em Organizações e
Desenvolvimento da UNESC. E-mail: rrmueller@gmail.com
2Doutora em Administração. Professora Adjunta no Departamento de Ciências Administrativas da
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. E-
mail:deiseluizaferraz@gmail.com..
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
132
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.14, n.104, p.131-150, jan/jun 2013
1. Introdução
O Brasil alcançou, em 2011, a colocação de sexta maior potência econômica
do mundo, entretanto, como demonstram os relatórios da Comissão Econômica para
América Latina e Caribe, segue sendo um dos países com pior distribuição de renda
(índice Gini, no ano de 2009, foi igual a 0,576), e possuindo cerca de 18% da
população vivendo com menos de dois dólares por dia. A preocupação com a
diminuição da pobreza no Brasil tornou-se, na última década, programa de governo,
cujo lema “País Rico é País Sem Pobreza” é o principal exemplar da tentativa de
alcançar as Metas do Milênio estipuladas pela Organização das Nações Unidas.
Uma das formas de concretização dos programas de governo são as políticas
públicas, das quais destacamos as políticas sociais de promoção, como as Políticas
Públicas de Geração de Trabalho e Renda (PPGTR). Por meio da ação do Ministério
do Trabalho e do Emprego (MTE) efetivam-se distintos programas, conforme público
alvo. No que tange ao estrato populacional pauperizado, denominado como
superpopulação consolidada, as políticas sociais de promoção são aquelas
vinculadas à Economia Solidária (ES), coordenada pela Secretária Nacional de
Apoio à Economia Solidária (Senaes).
O levantamento efetuado, no ano de 2008, pelo Senaes, informa que a
política investiu cerca de 58 milhões de reais e atendeu aproximadamente 1 milhão
e 700 mil pessoas. Contudo, os resultados referentes à melhoria na renda dos
trabalhadores envolvidos não permitem, até o momento, identificar uma redução
significativa no processo de pauperização desse estrato populacional. Cria-se,
assim, o fato para a retroalimentação do senso comum de que a destinação de
verbas públicas para as atividades do projeto é um gasto social sem retorno. Na
tentativa de romper com esse círculo vicioso, os gestores públicos elaboraram
alguns programas de apoio aos empreendimentos, dos quais destacamos o
chamado aos intelectuais brasileiros para a construção de Tecnologias Sociais (TS).
É preciso incentivar o desenvolvimento e a disseminação de conhecimentos
sobre as potencialidades e desafios dos Empreendimentos Econômicos
Solidários para que a sociedade e o Estado brasileiro compreendam e
ampliem o apoio a essas iniciativas como alternativa de desenvolvimento
com inclusão social por meio da geração de trabalho e renda. Os estudos e
pesquisas são necessários também para subsidiar os processos de

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT