Comportamento

AutorJosé Osmir Fiorelli/Marcos Julio Olivé Malhadas Junior/Maria Rosa Fiorelli
Páginas138-164

Page 138

5.1. Fatores que influenciam o comportamento

O comportamento do indivíduo recebe influência de inúmeros fatores, exógenos ou endógenos a ele. Fatores exógenos são aqueles ligados ao estímulo, ao ambiente e à cultura. Há estudiosos que defendem a concepção de que os fatores sociais e ambientais são os mais determinantes no comportamento humano. Enxergam o ser humano como um produto do meio.

Endógenos são os fatores relacionados com os conteúdos físicos e psíquicos do indivíduo: valores, esquemas de pensamento, características de personalidade, conhecimentos, habilidades e competências do indivíduo, entre outros. Aqui, incluem-se, além da estrutura anatomofisiológica, inúmeros fenômenos relacionados com as funções mentais superiores, já estudadas.

O conceito adotado nesta obra é o de que o comportamento humano resulta de uma complexa combinação dos fatores exógenos e endógenos; porém, nenhum deles constitui um determinante exclusivo, ainda que, em uma dada condição, algum fator possa prevalecer sobre os demais. Os exemplos seguintes ilustram esta concepção.

O indivíduo se dispõe a buscar comida porque sente fome (estímulo físico, endógeno); sacia-se e encerra sua busca; pode postergar a procura de alimento porque realiza determinada atividade (estímulo endógeno, psicológico, em sentido oposto); pode intensificar essa procura porque se encontra ansioso (estímulo endógeno, psicológico, de mesmo sentido). A protelação da busca pode ocorrer por motivos culturais (para não perturbar, por exemplo, um concerto ou peça teatral) ou ambientais (a pessoa encontra-se em local desprovido de alimentos).

Raciocínio semelhante aplica-se à presença de um estímulo exógeno, por exemplo, uma ameaça de agressão. Experiências anteriores, força física, habilidade para lutar, posse de uma arma podem influenciar na conduta. O local, a presença de estranhos, o grupo social ao qual o indivíduo pertence, as determinações morais provenientes de credo ou valores familiares podem ser estímulos para fuga ou confrontação.

Existe, pois, um complexo de fatores presentes em cada comportamento emitido pelo indivíduo — do mais simples ao mais sofisticado. Não há uma teoria consolidada capaz de conjugar todos eles; em vez disso, são tratados como entidades isoladas, cabendo aos leitores a tarefa de refletir sobre as diferentes teorias e hipóteses e tirar suas próprias conclusões. Estas, por sua vez, também dependerão do contexto no qual o leitor se insere. Este capítulo aborda três teorias amplamente estudadas por inúmeros especialistas: o condicionamento, a motivação e a modelação, que é o comportamento de imitação de um modelo.

Page 139

5.2. Condicionamento

O condicionamento constitui forma básica e universal de aprendizagem, amplamente estudada por cientistas (em especial, russos e americanos), e que remete à teoria de B. F. Skinner, cujo “impacto foi impressionante, em alcance e magnitude” (KAPLAN; SADOCK, op. cit., p. 205). Para Skinner, o comportamento resulta da interação entre o indivíduo e o ambiente e apenas ele pode ser estudado, por ser passível de percepção, descrição e mensuração por meio de instrumentos. Segundo Skinner, “não existe a mente como tal, apenas um cérebro que aprende, afetado por estímulos no ambiente interno e externo” (FADIMAN; FRAGER, op. cit., p. 205).

Skinner desenvolveu técnicas de condicionamento operante, que consistem em modelar e manter, por suas consequências, um determinado comportamento (op. cit.,
p. 195). Deve-se a ele o conceito de reforço: qualquer estímulo que aumenta a probabilidade de uma resposta (DAVIDOFF, op. cit., p. 178-179), por exemplo: uma punição que deveria ser aplicada e não o foi; um benefício conseguido por meio de um comportamento. A impunidade é o exemplo típico do reforço, que acentua a prática do comportamento ilícito.

O programa de combate à criminalidade identificado como “tolerância zero”, da Prefeitura de Nova York, seguiu esse conceito: a pessoa condiciona-se a não transgredir a lei por receio de uma punição considerada assegurada, mesmo para pequenos delitos.

As técnicas de aprendizagem desenvolvidas pelos estudiosos do condicionamento são amplamente empregadas por especialistas de marketing e estrategistas das mais diversas Organizações. Elas não devem ser confundidas com manipulação grosseira, embora possam ser utilizadas de modo indevido, sem respeito à ética. Nos bingos e cassinos, o jogo utiliza extensamente as técnicas de condicionamento; sob muitos aspectos, o mesmo acontece no tráfico de drogas.

Nas associações, empresas e famílias, a utilização do condicionamento costuma vir cercada de rituais, cuja presença mostra-se marcante em entidades religiosas, órgãos de classe, clubes, entidades beneficentes, associações esportivas etc. Por exemplo: aplausos e abraços. O Poder Judiciário adota rituais em seus procedimentos (indumentária, expressões de tratamento, gestos e postura, disposição na sala etc.) que contribuem para estabelecer a diferença entre a figura do magistrado e as dos demais presentes.

O ritual desenvolve esquemas rígidos de pensamento e desencadeia automatismos eficazes, aos quais o indivíduo se submete sem a percepção consciente e em relação aos quais passa a apresentar dependência física e psíquica.

5.2.1. Formas e técnicas de condicionamento

O comportamento condicionado ou comportamento de resposta automática proporciona notável agilidade e conforto; por isso é tão apreciado pela mente. Trata-se de um notável economizador de energia psíquica. Ele é obtido por duas formas de condicionamento:

Page 140

— o condicionamento respondente; e

— o condicionamento operante.

a) Condicionamento respondente

Ao comportamento de resposta desencadeado por um estímulo denomina-se “comportamento respondente”. Em geral involuntário, engloba a ação de componentes físicos do corpo (glândulas, músculos) (LUNDIN, op. cit., p. 64). Neste caso, o estímulo antecede o comportamento. É o caso, por exemplo, do trabalhador que coloca a mão em uma chapa quente e, imediatamente, a retira.

O estudo do comportamento respondente levou ao desenvolvimento do condicionamento “clássico”, “simples” ou “respondente”, que opera da seguinte maneira:

  1. observa-se que determinado estímulo (por exemplo, a presença de uma pessoa sedutora) provoca um certo comportamento de resposta (o observador sente-se estimulado). Este tipo de estímulo denomina-se “incondicionado”: ele pode ocasionar a mesma resposta em todos os indivíduos de uma dada espécie;

  2. faz-se um pareamento deste estímulo com outro (por exemplo, a pessoa sedutora aparece ao lado de um bem de consumo que se pretende comercializar);

  3. após algum tempo, a estimulação, que era provocada pela presença daquela pessoa, será igualmente provocada pela presença do automóvel. Ocorreu um condicionamento respondente.

    A propaganda utiliza essa técnica de inúmeras maneiras: um bebê saudável acompanha o leite em pó; um ambiente de luxo e requinte emoldura o copo de uísque e um charuto cubano; vendedores pagam almoço ou jantar para clientes; sindicatos oferecem churrascos de confraternização etc. Busca-se estabelecer um vínculo emocional para que a percepção favorável desencadeie o comportamento esperado.

    O condicionamento simples possui grande efeito por ser involuntário. Muitos dos comportamentos individuais resultam de condicionamentos simples estabelecidos desde a infância, por exemplo, os hábitos de higiene. São difíceis de alterar. Por exemplo, o advogado recomenda que o cliente passe a obedecer o supervisor sem manifestar qualquer reclamação, para evitar conflitos durante um certo tempo; o cliente, condicionado a “dar o troco”, terá grande dificuldade para permanecer passivo quando o supervisor se manifestar de forma que ele considera inadequada (qualquer gesto do supervisor pode tornar-se o estopim de uma explosão emocional).

    A agressividade de muitas pessoas pode ser de difícil controle porque se tornou resposta condicionada. Ao ouvir uma expressão que considera ofensiva ou um gesto percebido como agressivo, elas imediatamente partem para a agressão, sem refletir a respeito. O desenvolvimento do autocontrole é uma tarefa difícil, principalmente quando esse comportamento instalou-se já nos primeiros anos de idade (o que se observa claramente em crianças abandonadas, recolhidas da rua e em crianças que cresceram em um meio onde a violência estava sempre presente, acostumadas a reagir agressivamente, em autodefesa (KORT et al., 1998). Muitos agressores, do ponto de vista psicológico, dizem a verdade quando alegam que “agiram sem pensar”: eles, de fato,

    Page 141

    não estavam conscientes do que faziam no momento da ação — o que, entretanto, de modo algum a justifica (afinal, eles têm consciência de suas reações e poderiam atuar para evitá-las).

    Quando a violência faz parte do cotidiano, aqueles que a ela são submetidos, especialmente crianças e adolescentes, acabam por desenvolver mecanismos mentais que a suprimem. Polanczyk et al. (2003) ensinam que elas podem desenvolver uma dessensibilização emocional à violência, ou seja, podem passar a percebê-la como componente normal da realidade, deixando de reagir negativamente a eventos dessa natureza e a incorporando aos seus contextos culturais. O comportamento agressivo pode passar a ser um modo predominante de expressão dos sentimentos, conforme experiências prévias, impedindo o desenvolvimento de empatia e outros modos adaptativos de funcionamento.

    Algo...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT