Coletivos de pesquisa e desenvolvimento rural: uma proposta para a geração do conhecimento

AutorSimone Bochi Dorneles - Flávia Charão Marques
CargoDoutoranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Doutora em Desenvolvimento Rural, Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Agronomia e Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Porto Alegre, RS, Brasil
Páginas172-191
1807-1384.2014v11n1p172
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
COLETIVOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO RURAL: UMA PROPOSTA
PARA A GERAÇÃO DO CONHECIMENTO
Simone Bochi Dorneles
1
Flávia Charão Marques2
Resumo:
Este artigo objetiva propor uma reflexão sobre o potencial da abordagem de
coletivos de pesquisa em processos relacionados ao desenvolvimento rural. Os
coletivos são entendidos como comunidades de pesquisa, em que diversos atores
sociais interagem na geração do conhecimento, que transpõem barreiras físicas,
institucionais, metodológicas e epistemológicas. Esta proposta faz parte de um
debate sobre o papel do setor público no desenvolvimento da pesquisa e inovação,
assim como sobre a participação de atores “não acadêmicos” no desenvolvimento
científico. A ideia básica é constituir formas coletivas de trabalho, em que a iniciativa
privada ganha relevância em uma atuação conjunta com universidades. O
desenvolvimento rural, desconsiderando a forma não intervencionista, reposiciona a
importância do conhecimento. Assim, a proposta dos coletivos de pesquisa pode
emergir como um interessante novo arranjo entre os atores sociais presentes ou
relacionados ao rural, que favorece processos inovadores localizados e melhor
contextualizados.
Palavraschave: Coletivos de pesquisa. Conhecimento. Ação social.
Desenvolvimento rural.
INTRODUÇÃO
Considerando o pensamento sobre o desenvolvimento, prevalecem as noções
de que os processos de transformações na sociedade estariam, exclusivamente,
ligados ao crescimento econômico que, por sua vez, seria altamente dependente de
avanços tecnológicos de caráter positivo e linear.
Ao observar a face rural dos processos identificados como “de
desenvolvimento”, percebe-se que as dinâmicas de mudança social são mais
relacionais e associadas às capacidades dos atores sociais em agir localmente.
1 Doutoranda junto ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. Professora no Instituto Federal Farroupilha, São
Vicente do Sul, RS, Brasil. E-mail: simonebochi@hotmail.com
2 Doutora em Desenvolvimento Rural, Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Faculdade de Agronomia e Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, Porto Alegre,
RS, Brasil. E-mail: flavia.marques@ufrgs.br
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R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.11, n.1, p.172-191, Jan./Jun. 2014
Obviamente, não se está negando que estruturas, regras e projetos concebidos
externamente às localidades tenham influência sobre tais processos. Ao contrário, se
propõe um olhar sobre o desenvolvimento rural que perceba os vários níveis de
ação social, assim como, os múltiplos atores sociais e aspectos envolvidos em
dinâmicas e processos de transformação.
Nesse contexto, ressalta-se que o conhecimento assume um protagonismo
importante, tornando fundamental “reposicionar o conhecimento nos estudos em
desenvolvimento rural” (ARCE; LONG, 1994). Isso requer superar perspectivas
dicotomizadas, nas quais conhecimento científico se opõe ontologicamente a
qualquer outro. Trata-se, pois, de perceber como os diferentes atores sociais
colocam em marcha, cotidianamente, práticas, cognições, compromissos
institucionais e como negociam e acomodam interesses em seus diferentes mundos
de vida.
É nesse escopo que o artigo propõe uma reflexão acerca da entrada de
“novos atores sociais” em processos de geração de conhecimento, relacionados às
dinâmicas de desenvolvimento rural. Partindo de um posicionamento crítico em
relação à inserção da ciência moderna no desenvolvimento tecnológico para a
agricultura, e seus desdobramentos no campo do desenvolvimento rural. Pretende-
se, com base na literatura, desenvolver a ideia de que é importante considerar novas
formas de relações entre distintos atores sociais envolvidos no processo de geração
de conhecimento.
Especificamente, se introduz a noção de “coletivos de pesquisa”, proposta por
Larédo et al (1999) e por Bensaude-Vincent (2009), que sugere o estabelecimento
de comunidades de pesquisa, em que atores sociais diversos possam interagir no
desenvolvimento da ciência, transpondo barreiras físicas, institucionais,
metodológicas e epistemológicas.
Assim, o texto está estruturado da seguinte forma: após essa introdução,
apresenta-se o contexto em que surge a reflexão sobre os coletivos de pesquisa,
que faz uma análise sobre o conhecimento e a ciência, partindo dos estudos da
sociologia do conhecimento e chegando às reflexões sobre a “popularização da
ciência”. Na sequência, apresenta-se o debate sobre os coletivos e suas concepções
subjacentes, assim como uma reflexão sobre o papel deles e dos novos atores
sociais no processo de geração do conhecimento no contexto do desenvolvimento

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