Características do espaço arquitetônico facilitadoras do ensino e aprendizagem

AutorMaria do Carmo de Lima Bezerra - Mona Lisa Choas
CargoDoutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo - Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, arquiteta pela mesma universidade no Distrito Federal, DF, Brasil
Páginas58-75
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n2p58
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.58-75 Mai-Ago. 2016
CARACTERÍSTICAS DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO FACILITADORAS DO
ENSINO E APRENDIZAGEM
Maria do Carmo de Lima Bezerra
1
Mona Lisa Lobo de Souza Choas
2
Resumo:
O artigo discute a relevância do espaço arquitetônico como facilitador do processo
de ensino e aprendizagem. Utiliza metodologia analítica fundamentada na pesquisa
bibliográfica para conhecer a visão das áreas da arquitetura e da pedagogia sobre o
tema, e identificar atributos espaciais relevantes para facilitar a educação. A
pesquisa demonstrou que existem recorrências apontando os campos disciplinares
do conforto ambiental, ergonomia e psicologia ambiental, os quais foram objeto
dessa investigação conceitual quanto aos impactos positivos e negativos de cada
atributo, dos referidos campos disciplinares, sobre os espaços escolares. Como
resultado é apresentado um Quadro de Referência de atributos, suas possibilidades
de espacialização e a relevância para o ensino e aprendizagem a ser utilizado como
apoio à formulação de programas de necessidades arquitetônicas, ou seja: na
primeira etapa do processo de elaboração de um projeto de arquitetura.
Palavras-chave: Aprendizagem. Arquitetura. Escola. Espaço. Projeto.
1 INTRODUÇÃO
A discussão do papel do espaço arquitetônico no desempenho das funções
do ensino e da aprendizagem de nível superior tem sido objeto de poucas reflexões
em oposição ao ensino infantil onde se concentra a maioria dos estudos sobre o
tema. Associar e extrapolar as relações válidas para os diferentes níveis de ensino
constitui o desafio do estudo que se relata nesse artigo.
Uma constante entre os autores pesquisados é a referência à enorme
distância entre arquitetos e pedagogos no momento de definição do programa de
necessidades para construção de uma escola. Apesar de não ficar claro se, em
algum momento na história, a relação entre a forma de projetar escolas considerou
as metodologias de ensino os estudos pesquisados destacam, o que ocorre hoje
1
Doutora em Estruturas Am bientais Urbanas pel a Universidade de São Paulo. Pós-doutorado na
Cornell University, Estados Unidos. Professora da Universidade de Brasília atuando nos Programas
de mestrado e doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Membro do Conselho de Planejamento
Territorial e Urbano do Distrito Federal, DF, Brasil E-mail: macarmo@unb.br
2
Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília, arquiteta pela mesma
universidade no Distrito Federal, DF, Brasil E-mail: arqmona05@gmail.com
59
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.2, p.58-75 Mai-Ago. 2016
quando predomina a padronização das escolas como resposta a um ideário
arquitetônico do movimento modernista.
A observação corrente é a de que os edifícios escolares modernos deixam
sua marca na paisagem urbana, porém nem sempre respondem às funções a que
se destinam. O que predomina na prática de concepção de espaços arquitetônicos
escolares é a busca pela padronização. Buffa & Almeida Pinto (2002) destacam que,
a partir dos anos de 1960, o diálogo entre educadores e arquitetos na definição do
projeto do edifício escolar tornou-se praticamente inexistente, e o distanciamento
dos profissionais ligados às áreas pedagógicas permitiu o surgimento de certas
idiossincrasias na articulação dos espaços escolares.
Assim, se por um lado, os exteriores dos edifícios tornaram-se imponentes
em suas formas geométricas simples, esculpidas no concreto aparente,
transparecendo toda plenitude modernista, por outro lado, o espaço interior passou a
não obedecer nenhuma política pedagógica definida que poderia orientar o projeto
de edifícios.
Mais do que os materiais e a forma externa, o que está em jogo nessa
relação é a busca de espaços que atendam às atividades que irão se desenvolver,
sem ter em mente modelo predefinido, mas sim de investigar as demandas para
encontrar a forma que represente as necessidades da escola, do hospital, ou da
fábrica, que longe estão de serem semelhantes.
O programa de necessidades é a primeira etapa na elaboração de um
projeto de arquitetura e resulta no denominado Estudo Preliminar. Entende-se que
nessa etapa devem interagir todas as informações sobre as características
referentes às atividades que ocorrerão no edifício tendo em conta que para cada
atividade deve existir um conjunto de atributos espaciais, que podem facilitar, ou
não, seu desempenho.
Os arquitetos tendem a cumprir essa etapa de forma muito intuitiva com
entrevistas com usuários do futuro edifício, e possuem dificuldades em traduzir os
atributos espaciais necessários ao desempenho de suas atividades, e de
estabelecer as superfícies necessárias para acomodar as atividades para as quais o
edifício está sendo projetado.
Entretanto, o currículo (listagem das disciplinas) e o método de ensino de
uma escola devem influenciar o projeto dos ambientes, que podem potencializar e

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT