Avaliação Física Funcional e Exames Complementares

AutorJorge Paulete Vanrell
Ocupação do AutorMedicina, Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciatura Plena em Pedagogia
Páginas63-92

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A abrangência do tema avaliação em saúde poderia levar este capitulo a diversas linhas de pensamento e formatação de avaliações para as inúmeras demandas de investigação do estado de saúde de um indivíduo.

Neste trabalho o enfoque se dará nas avaliações físicas funcionais que exploram a verificação das descapacidades funcionais ou mesmo confirmação da normalidade funcional.

Os exames de imagem norteiam a ideia diagnóstica e podem ser confirmados por ferramentas de análise biomecânica e manobras especiais validadas, aqui mencionadas.

1 Avaliação física

A avaliação pode ser dirigida por testes, observação, entrevistas, revisão de prontuários e julgamento clínico. Este último trata da análise e interpretação da informação baseada no conhecimento, experiência e observação não verificável, combinando as informações objetivas e subjetivas. A tarefa de avaliar deve seguir os caminhos traçados pela demanda proposta, ou seja, qual a finalidade da avaliação?, definição do tratamento? definição do nexo de causalidade?. Somente após a identificação da demanda é possível estruturar os caminhos da avaliação ideal para o fim desejado.

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2 Avaliação física funcional

A avaliação física chamada funcional expõe os padrões funcionalidade do aparelho locomotor através dos testes ortopédicos e neurológicos, juntamente com exames complementares, definem a normalidade do indivíduo não se tratando aqui da capacidade máxima em exercícios cardiorrespiratórios, forças máximas de potência muscular ou mesmo limites físicos atléticos. Objetivamos reunir dados que possam de maneira sistematizada definir perdas funcionais da normalidade, e assim entender o quanto essas perdas podem interferir nas atividades de vida diária ou laboral.

A avaliação física pode ser mais completa quando compõe as dimensões: biológica (condições gerais de saúde, ADM, Força, Sensibili-dade, etc.), psicológica (humor, memória, e habilidade de aprendizagem), social (disponibilidade, capacidade e atitudes de cuidadores, aspectos financeiros, etc.), e ambiental (barreiras arquitetônicas, qualidades de enriquecimento e privação ambiental, necessidade de equipamentos de autoajuda, etc.).

Construir o processo de análise física funcional é tentar traduzir, por meio de ações tecnicamente planejadas e executadas, a natureza das causas, consequências e as soluções do caso em investigação. Esse processo de raciocínio deve ser montado em uma sequencia lógica, porém, a cada momento que vão surgindo informações trazidas pelo avaliado, também surgem ideias transversais, que direcionam a investigação para outros campos de perguntas não planejadas ante-cipadamente.

3 Determinação do nexo de causalidade através da avaliação funcional

Quando falamos em avaliação das descapacidades para fins de pareces técnicos, relacionamos as atividades ocupacionais, o que torna prático dizer que as patologias são concausa de uma atividade laborativa.

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O termo concausa e suas subdivisões, discutido na literatura pericial, traz dificuldades semânticas de interpretação e aplicação nos laudos. Em parte, o termo fator de risco se sobrepõe à concausa, principalmente àquela dita desencadeante1.

De modo didático, os fatores de risco intrínsecos (85%) ou próprios do indivíduo e fatores extrínsecos (15%) ou ambientais, ocupacionais ou de lazer2.

Existem também as concausas chamadas psicossociais, de difícil conceituação e avaliação, porém com crescentes referências na literatura3.

Os fatores de risco não ocupacionais são: menopausa recente; alto índice de massa corporal (obesidade); antecedente de histerectomia; artrite reumatoide; uso de hormônios femininos; antecedente de ooforectomia; diabetes; gravidez4.

Outras variáveis, tais como sexo feminino, idade acima de 50 anos, tabagismo e massa corporal, mostraram-se positivamente relacionadas.

O avaliador, conhecendo essas possibilidades de fatores interferenciais – riscos e concausas –, através de sua anamnese e exame físico, poderá chegar a conclusões bem fundamentadas e pouco subjetivas.

Para estabelecimento de nexo causal ocupacional, acertadamente o Conselho Federal de Medicina emitiu a Resolução 1.488/98, que auxilia também outros profissionais nos processos de investigação funcional e que diz:

Art. 2º Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar:

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I - a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou investigação de nexo causal;

II - o estudo do local de trabalho;

III - o estudo da organização do trabalho;

IV - os dados epidemiológicos;

V - a literatura atualizada;

VI - a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas;

VII - a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros;

VIII - o depoimento e a experiência dos trabalhadores;

IX - os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da área da saúde.

Portanto, não se pode admitir o estabelecimento de nexo causal para prescrição de eliminação da fonte geradora da patologia ou mesmo para informá-lo em parecer técnico, sem a efetiva, extensiva e intensiva vistoria aos postos de trabalho, entrevistando indivíduos, paradigmas, verificando tempo de emprego e turnos, observando ciclos de tarefas e funções, produtividade, pressões organizacionais, uso e tipo de ferramentas, empunhaduras, repetitividades, vibrações, peso das peças manuseadas, posturas dos punhos, esforços dinâmicos e estáticos com os dedos, pausas e rodízios. De forma geral a própria empresa, que tem obrigação por lei em cumprir a NR17 referente à ergonomia, deve fornecer a análise ergonômica do trabalho ao investigador, que, de posse deste trabalho, pode apenas confirmar os dados in loco, determinando o correto grau de risco e nexo de causalidade. Nos casos complexos, gravações em vídeo podem ser feitas para posterior análise.

4 Exame clinico

O exame clínico é a soma do histórico completo e um exame físico específico composto de: inspeção estática e exame postural; inspeção dinâmica; palpação; percussão, ausculta, avaliação da força e flexibilidade musculares; exame neurológico, manobras especiais e associação de vistoria dos exames de imagem complementares.

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Esses pilares que nos levam à conclusão da análise física vêm destacados e brevemente comentados a seguir.

Identificação: A identificação do avaliado quanto aos seus dados pessoais gera a primeira linha de raciocínio em saúde funcional, pois, além do nome, filiação e documentos, um questionário complementar introduzido entre a identificação e a anamnese – como, por exemplo: idade, altura, peso, cor, nacionalidade e sexo – define as predisposições genéticas e as difere das adquiridas. Outro campo que pode ser necessário é a identificação da demanda situacional: Porque esta avaliação está acontecendo? Qual nosso contexto? A identificação da demanda norteia tanto o avaliador quanto o leitor sobre as razões de serem escolhidos tais meios de estudos biomecânicos, funcionais e complementares. Por fim, a identificação do avaliador no documento torna fidedigno o parecer.

Anamese e investigação da dor: A anamnese ideal não seria a mais longa ou minuciosa, e sim a que investiga diretamente o que é devido, que traz as perguntas certas em meio às perguntas de praxe, que levanta informações de raciocínio para conexão dos fatos, do nexo de causalidade, suas origens e possíveis consequências.

A anamnese deve se estender a hábitos, lazer, antecedentes pessoais, familiares e ocupacionais (tabagismo, esportes, traumas, saúde geral, medicações, mudanças de emprego, litigiosidade).

O histórico laboral pregresso, mesmo que sem registros, relatado pelo avaliador e confirmado em registros de carteira de trabalho, relaciona-se direta ou indiretamente com a história da moléstia atual.

Faz-se necessário, também, investigar os aspectos relacionados sobre crenças quanto à afecção; medo de dor e de retornar às atividades normais; presença de ansiedade e depressão, bem como de fatores que envolvem o trabalho como suporte social, satisfação, percepções sobre demanda da carga de trabalho.5

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A utilização de álcool e de tabagismo também deve ser determinada. Já existem evidências da associação entre o tabagismo e dores nas costas em adultos.6Indaga-se sobre a prática de algum tipo de atividade física regular, tipo de colchão e travesseiros utilizados e a posição ao dormir.

O histórico da dor deve ser analisado nos seguintes aspectos:

• Localização (pontual ou generalizada).

• Intensidade. “Os processos degenerativos geralmente causam dor de pequena e média intensidade, enquanto que nas afecções compressivas ela costuma ser intensa”.7• Duração: Deve-se investigar quando a dor iniciou e se ela é contínua ou...

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