Novos atores no mercado: movimentos sociais econômicos e consumidores politizados

AutorFátima Portilho
CargoDoutora em Ciências Sociais. Professora do CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Páginas199-224
Dossiê
Novos atores no mercado:
movimentos sociais econômicos
e consumidores politizados
Fátima Portilho*
Resumo
O artigo reflete sobre os novos atores do mercado, em especial os movi-
mentos sociais econômicos, ou seja, aqueles em que os atores constroem
uma nova cultura de ação política visando a reapropriação da economia a
partir de valores próprios. Exemplo disso são os movimentos de economia
solidária, comércio justo, indicação geográfica, slow food e os movimentos
de consumidores organizados. Esta interface entre movimentos sociais
e mercado é, talvez, a característica mais marcante, diferenciadora e
polêmica das mobilizações políticas atuais. No entanto, para além dos
movimentos sociais econômicos, o artigo enfatiza e, ao mesmo tempo,
problematiza a ação política na esfera do consumo individual, o que tem
sido chamado de consumo político.
Palavras-chave: movimentos sociais econômicos, movimentos de consu-
midores, consumo político.
1. Introdução: Sociologia Econômica e Sociologia do
Consumo: interfaces necessárias
Ao buscar uma necessária interface entre as reflexões da Sociologia
Econômica e da Sociologia do Consumo, poderíamos destacar o
empenho de ambas em (a) fornecer explicações alternativas às teorias
econômicas, em especial à teoria neoclássica, e em (b) refletir sobre
a atuação dos novos movimentos sociais econômicos, ou seja, aque-
* Doutora em Ciências Sociais. Professora do CPDA da Univers idade Federal
Rural do Rio de Janeiro. Grupo de Pesquisa Sociedades e Culturas de Con-
sumo. Núcleo de Pesquisa Mercados, Redes e Valores. Endereço eletrônico:
faportilho@uol.com.br.
200 p. 199 – 224
Volume 8 – Nº 15 – outubro de 2009
les em que os atores constroem uma nova cultura de ação política
visando à reapropriação do mercado a partir de valores próprios.
Como exemplo dos novos movimentos sociais econômicos
podemos citar, de um lado, movimentos como economia solidária,
comércio justo, indicação geográfica e slow food, que tem sido
considerados como novos atores estratégicos do mercado (WIKIN-
SON, 2008). Além destes, vale destacar também os movimentos de
consumidores organizados.
Se os primeiros têm sido objeto de pesquisas nas Ciências
Sociais, especialmente na Sociologia Econômica, os movimentos
de consumidores, no entanto, raramente são abordados no Brasil1,
permanecendo ausentes até mesmo nos estudos sobre movimentos
sociais, área tradicional de investigação nas Ciências Sociais brasi-
leiras e latino-americanas2.
Essa ausência de análises acadêmicas sobre os movimentos
de consumidores no Brasil3 reflete uma outra ausência, mais ampla,
de análises sobre o fenômeno do consumo contemporâneo, o que
contrasta com a ênfase dada a este tema por autores da Europa e dos
Estados Unidos (MILLER, 1995 e 2001), onde se observa vasta pro-
dução acadêmica abordando temas como a sociedade de consumo,
as novas formas de comercialização, a cultura material, as práticas
de consumo e seus usos sociais, entre outros (BARBOSA, 2006).
Isto pode ser explicado, de um lado, pelo viés produtivista das
Ciências Sociais que, desde o século XIX, baseou-se no pressuposto
1 As publicações voltadas para esse tema no Brasil costumam se restringir às
áreas de direito, administração e marketing como, por exemplo, os trabalhos
de Vergara (2003) e Sodré (2009).
2 As razões dessa ausência podem estar no fato de que os movimentos de
consumidores não têm caráter revolucionário, mas antes de modernização do
capitalismo, buscando, de acordo com seus militantes, a “compatibilização
entre os interesses dos consumidores e dos fornecedores” (RIOS, LAZZARINI
& NUNES JR. 2001). Considerando os limites e os propósitos desse artigo,
não será possível aprofundar a reflexão sobre atuação e as contradições dos
movimentos de consumidores.
3 Vale destacar a análise de Freitas (2008), ainda em andamento, sobre a atuação
dos movimentos de consumidores, juntamente com movimentos ambientalistas,
nas mobilizações sociais contrárias aos alimentos transgênicos. Em trabalho
anterior (PORTILHO, 2006) analisamos, ainda que parcialmente, o processo de
ambientalização dos movimentos de consumidores.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT