Atitudes dos alunos dos cursos de ciências sociais aplicadas em relação à estatística

AutorDaielly Melina Nassif Mantovani - Maria Flávia Barbosa Leite - Guilherme Farias Shiraishi - Adriana Backx Noronha Viana
CargoDoutoranda em Administração pela FEA/USP. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto FEA-RP/USP. - Bacharel em Administração pela FEA-RP/USP. - Doutorando em Administração pela FEA/USP. - Professora Doutora Livre Docente do Departamento de Administração da FEA-RP/USP.
Páginas36-67

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Daielly Melina Nassif Mantovani 1

Maria Flávia Barbosa Leite 2

Guilherme de Farias Shiraishi 3

Adriana Backx Noronha Viana 4

1 Introdução

Os cursos de graduação, em sua maioria, possuem disciplinas de Estatística na grade curricular. Os conteúdos ministrados nessas disciplinas, apesar de serem teóricos, costumam ser a base para a aprendizagem de outras

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disciplinas mais específicas do curso. No entanto, dificuldades eminentes de aprendizado existem no ensino da Estatística, especialmente para alunos de cursos de ciências aplicadas, tais como Administração e Contabilidade, em que a estatística é uma ferramenta de apoio à tomada de decisões (PETOCZ; REID, 2005).

Essas dificuldades se referem à percepção de complexidade que os alunos associam à Estatística. Alunos de cursos de ciências sociais aplicadas mostramse resistentes à disciplina por julgaremna muito complicada, devido ao volume de cálculos e fórmulas envolvidos, e por não conseguirem fazer uma ligação entre os conhecimentos estatísticos e sua aplicação em questões práticas (NOLAN; SPEED, 1999).

Muitos estudantes destes cursos não possuem uma base adequada de conhecimentos matemáticos e estatísticos, de forma que acabam por vivenciar alto grau de ansiedade durante os cursos de estatística (PAN; TANG, 2004). A ansiedade estatística pode afetar negativamente a aprendizagem do aluno e é definida como a ansiedade enfrentada como resultado de se deparar com a estatística de qualquer forma e em qualquer nível (PAN; TANG, 2004).

As atitudes exercem forte influência no processo de ensinoaprendizagem de estatística, pois contribuem para a forma de comportamento do aluno na disciplina de estatística e afetam a extensão à qual o estudante desenvolverá o pensamento estatístico e será capaz de aplicar os conceitos aprendidos fora do ambiente escolar (SUAPANG; PETOCZ, KALCEFF, 2003).

Paralelamente, existe o fator agravante de que os professores que ministram disciplinas de estatística nos cursos de Administração e Contabilidade costumam possuir formação matemática e recebem pouca preparação para a questão didática, o que os leva a ter dificuldades em aproximar a estatística do contexto real dos alunos nãoestatísticos (GELMAN, 2005).

Como resultado da interação de todos os fatores já apresentados, temse uma influência negativa na aprendizagem e a estatística se torna uma das competências mais fracas adquiridas durante a universidade (PAN; TANG, 2004).

Frente ao contexto apresentado, tornase necessário conhecer as atitudes dos alunos em relação à Estatística, pois no âmbito educacional, as atitudes positivas podem determinar interesse pelo estudo das disciplinas e atitudes negativas podem revelar dificuldades de aprendizagem. Além disso, o conhecimento do perfil de atitudes é importante para que os educadores possam delinear novas estratégias de ensino mais ajustadas à sua clientela

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(CARZOLA et al., 1999), que auxiliem no desenvolvimento de atitudes positivas ou na modificação de atitudes negativas em relação à Estatística (SILVA et al., 2002).

O objetivo deste trabalho é estudar a atitude de alunos dos cursos de Administração e Contabilidade de duas instituições de ensino superior, da região de Ribeirão Preto, em relação à Estatística, verificando a existência de diferenças significativas entre grupos de alunos, encontrados pela análise de cluster, entre os cursos e entre os sexos: masculino e feminino. Para tal propósito, aplicouse um questionário, a escala para mensuração de atitudes denominada SATS (Survey of Attitudes Toward Statistics).

A seguir, será apresentada a fundamentação teórica, a metodologia do trabalho, a análise dos dados obtidos e as conclusões do estudo.

2 Fundamentação Teórica
2. 1 Atitudes

Não existe consenso na literatura sobre o conceito de “atitudes” (CARZOLA et al., 1999). A palavra deriva do latim “aptus”, tendo assumido significado inicial de “aptidão” ou “adaptação”, com o sentido de capacidade física. Com o passar do tempo, o termo passou a ser empregado também com o sentido de “preparação mental” (GONÇALVES, 2002).

Devido à amplitude do termo, existe uma larga gama de definições na literatura. Menezes (1986 apud GONÇALVES, 2002, p. 54) cita algumas definições:

[...] postura mental; disposição mental específica em relação a uma experiência que está para se realizar; complexo de sentimentos, receios, desejos, convicções e prevenções; disposição mental do indivíduo humano para agir contra ou a favor de algum objeto definido; meio emocional de se considerar objetos; gostos ou antipatias, afinidades e aversões; orientação de aproximação ou afastamento em relação a um objeto.

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Mostrase mais adequada ao propósito deste estudo a definição de atitude como sendo a predisposição à ação contra ou a favor de um objeto, a estatística (BRESSAN, 1995). Essa definição apresenta um aspecto afetivo, considerando as crenças do indivíduo em relação à estatística. Haverá uma predisposição a favor da estatística se o aluno apresentar crenças favoráveis e tiver experimentado situações agradáveis envolvendo a estatística. Da mesma forma, haverá predisposição contra a estatística se o aluno apresentar crenças desfavoráveis e tiver experimentado situações de alto estresse envolvendo a estatística, tanto no âmbito educacional quanto no cotidiano.

As atitudes se fundamentam em quatro atividades humanas: pensar, sentir, comportarse e interagir com outros, isto é, possui componentes cognitivos, emocionais, comportamentais e sociais (BEM, 1973).

Para Bressan (1995), entendese por afeto os valores e sentimentos do indivíduo em relação ao objeto. A cognição é considerada como o conhecimento, as opiniões, as crenças e os pensamentos associados ao objeto. O comportamento envolve as intenções, interações e ações sobre o objeto. O modelo a seguir expõe a estrutura conceitual da atitude (Figura 1).

[FIGURA EM PDF ANEXO]

Figura 1: Representação esquemática da estrutura conceitual da atitude. Fonte: Bressan (1995, p. 54).

Para Bressan (1995), a atitude em relação ao objeto é a somatória das crenças (componente cognitivo) sobre o objeto, adquiridas através de aprendizagem e dos valores (componente afetivo) atribuídos às crenças e associados aos atributos do objeto. Dessa forma, entendendo a atitude como uma disposição para a ação, é possível concebê-la apenas como um fenômeno afetivo/cognitivo.

Essa organização de crenças e cognições dotada de carga afetiva leva o indivíduo a ter comportamento e ação específicos diante de determinado

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objeto, ou seja, a atitude do sujeito em relação ao objeto permite predizer os comportamentos e ações que ele terá em situações que envolvem o referido objeto (TRONCON et al., 2003).

No âmbito educacional as atitudes dos alunos em relação aos “objetos” são relevantes, considerando a relação existente entre atitudes e aprendizagem (TRONCON et al., 2003). A motivação é maior quando os estudantes se deparam com conceitos aos quais são favoráveis. Por outro lado, atitudes negativas em relação aos conceitos podem acarretar em dificuldades de aprendizagem.

2. 2 Atitudes em Estatística

A importância das aplicações da estatística como ferramenta de auxílio à tomada de decisões tem crescido nos últimos anos e com isso surge a necessidade de compreender as dificuldades no ensino desta disciplina. De acordo com Gal e Ginsburg (1994), a estatística é considerada um obstáculo que se opõe ao alcance de objetivos dos universitários. Os estudantes, em geral, recordamse da tensão pela qual passaram durante o curso de estatística, mas os conteúdos ensinados são esquecidos por grande parte dos alunos (GAL; GINSBURG, 1994).

Muitas dessas dificuldades podem ser explicadas pela atitude dos universitários em relação à Estatística. A atitude desfavorável pode estar relacionada a experiências desagradáveis vivenciadas em situações envolvendo a estatística ou pela associação feita por alguns alunos entre a estatística e a matemática. Segundo Gal, Ginsburg e Schau (1997), quando o aluno considera a estatística como um ramo da matemática, transfere para a estatística sua atitude em relação à matemática, que em cursos de ciências aplicadas costuma ser negativa. Por conseguinte, os alunos enfrentam certa ansiedade ao cursar disciplinas de estatística, frequentemente, iniciando o curso já com atitudes negativas (CARZOLA et al., 1999). Destacase que a atitude favorável em relação à estatística pode aproximar o aluno da disciplina, estimulandoo a ampliar seus conhecimentos ou a utilizar os conceitos aprendidos (SILVA et al., 2002). Ademais, quanto mais favorável a atitude, melhor é o desempenho na disciplina (SILVA; CARZOLA; BRITO, 1999).

É de extrema relevância conhecer a atitude dos alunos em relação à Estatística, por três razões: 1) influência dos aspectos atitudinais no ensinoaprendizagem; 2) influência no comportamento estatístico dos alunos fora

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das aulas; e 3) influência na decisão dos alunos em participar de outros cursos de Estatística no futuro (GAL; GINSBURG; SCHAU, 1997). Assim, as instituições de ensino e professores passam a conhecer os sentimentos e predisposições dos alunos, o que permite o desenvolvimento de novas estratégias de ensino que tornem o estudo da estatística mais interessante aos alunos (CARZOLA et al., 1999). Desta forma, podese proporcionar aprendizagem efetiva dos conceitos e ferramentas e capacitar os alunos na utilização adequada e...

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