Analisando de dentro da Venezuela

AutorFlávio Túlio Ribeiro Silva
Páginas153-159

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Compreender a Venezuela é partir do pressuposto de que esta nação possui um grau elevado de politização que vem acompanhada de inúmeras disputas pelo poder. Nesta altura da análise deve-se identificar a ligação entre o político e o econômico, já que detendo importantes reservas de petróleo que é insumo majoritário da indústria mundial, representa um país politicamente estratégico.

Alcançar o poder interno é portanto deter recursos influentes a geopolítica mundial. Estes atores políticos vão reverberar nestes embates políticos os dois modelos antagônicos para gestão dos estados. Um na defesa do estado mínimo e outro numa ação intervencionista e crescente.

A Venezuela deixou de ser uma democracia representativa para um modelo protagônico e participativo, capitaneada por um líder popular e centralizador. Se o Pacto de Punto Fijo incentivou uma consolidação de classes e uma estrutura de Estado com finalidade de permitir condições para o capital privado atuar, inclusive utilizando as ferramentas de propriedade do Estado para alavancar sua eficiência, o governo bolivariano serve para desaparelhar este corpo de funcionário formados entre 1958 à 1998. Presentes nestas forças antagônicas, é fato o modelo de Estado apresente as posições opostas.

Dentro da nossa perspectiva, quando da nossa visita à Venezuela, entre julho e agosto de 2013, procuramos os atores políticos que compuseram as forças entre o Punto Fijo e o bolivariano. Realizamos

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pesquisa na Universidad Central da Venezuela, na PDVSA, no Ministério da Educação, Liderança Estudantil, na Central de Trabalhadores da Venezuela.

Estas instituições participaram destacadamente na história contemporânea da Venezuela, representaram ações, a luta pelo poder político e, por conseguinte, o controle de Estado. Não é correto caracterizá-las uniformemente, a favor ou contra, mas dentro de uma sociedade dividida e profundamente politizada. Se dentro de uma conjuntura histórica podemos observar que uma força atuou numa posição, ela altera sua ação em um momento posterior. Exemplo disto é a PDVSA, personagem determinante que defendeu teorias e efetivou práticas distintas em etapas históricas diferentes.

O Estado é reflexo das forças políticas que interagem com ele e, dependendo de como se organizam, podem se apropriar da administração pública. Logo, a conjunção destas forças pode formar um Estado forte e majoritário em sua representatividade. Descrever, mesmo de forma breve, é o intuito desta fase do trabalho.

A força universitária possui um nome de peso: a Universidade Central de Caracas. Desde a ditadura de Perez Jimenez, foi dentro da ação estudantil, principalmente nas ruas, que ela expressa seu contentamento ou não com o Estado. Especificamente com administração da renda petroleira e uso dos recursos para educação.

A política chavista, apesar de ampliar o acesso à educação, tinha da UCV uma crescente resistência ao governo, pela crítica de abrir a Universidade Bolivariana na vertente de dividir a verba para o setor. Dentre o total das faculdades, somente o diretório de História e Geografia apoiavam o chavismo. Existia um paro em junho de 2013, que apesar de inicialmente reivindicar reajuste salarial, servia como forma de pressão ao recém-eleito presidente Nicolás Maduro.

A UCV possui uma grande estrutura, é quase uma cidade dentro de Caracas, uma das dez melhores universidades da América Latina. A classe de...

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